Mas que gente ignorante…
Linda modelo - Não é a Prof. Cleonira portanto, nada a ver com história |
Dona Cleonira, minha professora primária – que fazia questão de ser chamada de Cleô – senhora baixinha e arredondada como uma chaleira, ensinou-me que foi Colombo quem provou que a Terra era “era redonda como uma bola, um pouco achatadinha nos pólos”. Antes dele, os homens da Idade Média – gente muito ignorante… muito atrasada… – pensavam que a Terra era plana e chata. Boa Dona Cleô, que nos mandava recortar borboletas e desenhar carneirinhos em cada página do caderno, que queria bem limpinho: a pedagogia e a didática exigiam. E ela era uma Pedagoga.
No ginásio, tive outras professoras de História. Uma delas, bem mocinha e de saia curta, mascava chicletes durante as aulas, mandava os alunos lerem o livro ou fazerem “trabalho em grupo” – pesquisa, dizia ela – e, enquanto isso, pintava os lábios olhando-se num espelho baratinho. De vez em quando fazia um curto comentário: “A Idade Média foi uma época muito ignorante e atrasada. Imaginem! Eles não tinham televisão nem moto! Andavam de carroça! A mulher não tinha direitos, não havia escola pública e eles pensavam que a Terra era plana. Hoje nós estamos adiantados: tem computador, o homem chegou à Lua, e qualquer uma sabe que a Terra é redonda”.
N
o colegial, a professora de História – a Lenindira – era de outro estilo. Não se pintava nem usava espelhinho barato. Usava jeans, óculos de lentes redondas e enormes que tornavam seus olhos míopes minúsculos. Tinha preso na blusa um bottom onde se lia: “O povo unido jamais será vencido”. Falava em mais valia e exploração do proletariado. Proclamava-se atéia, dizia que éramos filhos de macacos e desancava a Idade Média, idade das trevas e da ignorância, na qual o povo era obrigado a viver rezando, enquanto a Igreja queimava os hereges e ensonava que a Terra era plana.
o colegial, a professora de História – a Lenindira – era de outro estilo. Não se pintava nem usava espelhinho barato. Usava jeans, óculos de lentes redondas e enormes que tornavam seus olhos míopes minúsculos. Tinha preso na blusa um bottom onde se lia: “O povo unido jamais será vencido”. Falava em mais valia e exploração do proletariado. Proclamava-se atéia, dizia que éramos filhos de macacos e desancava a Idade Média, idade das trevas e da ignorância, na qual o povo era obrigado a viver rezando, enquanto a Igreja queimava os hereges e ensonava que a Terra era plana.
Entrei num Cursinho. As classes eram abarrotadas de moços e mocinhas preocupados com o vestibular e com rock. Alguns falavamem drogas. Os professores despejavam matéria aos borbotões. O professor de História, muito popular, recheava suas aulas de palavrões e slogans marxistas. Atacava a censura e defendia a liberdade. A cada cinco minutos dizia uma piada pornográfica. Todo mundo ria. Cinicamente. Debochadamente. Menos um colega, com cara desanimada, que fazia o Cursinho pela terceira vez. Ele não ria. Explicou-me que já ouvira todas aquelas piadas três vezes. Sempre nas mesmas aulas. Sempre na mesma hora. Sempre do mesmo jeito. Sempre com os mesmos palavrões. O professor os repetia sempre do mesmo modo. Como um autômato. E falava em liberdade. E sempre a mesma história: “A Idade Média tinha sido uma época muito ignorante. Naquele tempo os homens acreditavam que a Terra era plana”.
Deus Criador, através de princípios geométricos; Bíblia Moralisee, Codex Vindobonensis
Bíblia; Toledo
* * *
Um dia, um amigo me convidou para visitar um professor. Era um sobradinho, num bairro pobre. A sala pequena estava cheia de rapazes que riam. O professor falava pelos cotovelos enquanto tomava café. Não havia palavrões.
A conversa rolou para a Idade Média. Eu, ingênuo, repeti o que aprendera nos chatos e rabiscados bancos de minhas escolas. Soltei lá o “meu” comentário: “Eu acho que a Idade Média foi uma época de gente muito ignorante – é até chamada a Idade das Trevas – na qual se queimava quem não era católico e se ensinava que a Terra era plana e chata”. Pensei que ia fazer sucesso e que todos apoiariam minhas palavras, já que essas eram teses universalmente aceitas em nosso científico, progressista e tolerante século XX.
O professor, rindo, me atropelou, contundente: “Quem lhe contou essa lorota?”
Quase engoli uma azeitona que comia, com caroço e tudo. A palavra “lorota” era uma trombada em minha erudição e cultura históricas.
Sem jeito, respondi que todo mundo sabia que era assim. Todos professores que tive me ensinaram isso. Por minha memória passavam rapidamente as imagens de Dona Cleô, recortando borboletas; a mocinha que mascava chicletes, se olhando em seu espelhinho barato; Dona Lenindira com o seu bottom; o professor do Cursinho, escarrando palavrões e vomitando pornografia.
Envergonhado com essas imagens, não as citei. Falei de livros vagos, de jornais, de um filme – “Vocês não viram ‘O nome da rosa’?” – todo mundo sabe que a Idade Média foi uma época de gente muito ignorante, que pensava que a Terra era plana, não esférica. Isso é indiscutível".
Nicole d’Oresme
Meu adversário, na polêmica que se montara, sorria. Citou fatos e autores. Como eu não capitulava e insistia, buscando desesperado no fundo dos arquivos de minha memória – tão vazios! – as informações de Lenindira e as provas que o professor do Cursinho não me dera, ele foi buscar uma pilha de livros que começou a me mostrar.
“Veja este livro (1). Aqui temos a reprodução de uma estátua de Carlos Magno. É um obra romântica do século IX, embora o cavalo seja do século XVI. Repare que o Imperador está com os símbolos de seu poder: usa coroa, numa das mãos porta a espada e na outra segura um globo”.
“Que você acha que significa esse globo? Pensa que Carlos Magno fosse talvez campeão de jogo de ‘boccia’? Esse globo representa a Terra, sobre a qual ele tinha poder. Se os medievais julgassem que a Terra era plana, deviam colocar na mão do Imperador algo como uma tábua, e não um globo. Gente realmente ignorante essa da Idade Média – ironizou o professor. Acreditavam que a Terra era plana e a representavam por meio de um globo”.
Carlos Magno
Otão III |
Enquanto eu examinava livro e gravura, por acaso meus dedos abriram uma página na qual havia uma figura do Imperador Otão III no trono. O professor não perdeu a ocasião:
“Note também essa gravura (2). É o Imperador Otão III, que reinou no Sacro Império entre 983 e 1002. Observe que ele também segura o globo na mão esquerda. Esse globo é a Terra”.
“Aqui está uma imagem de Nossa Senhora de Montserrat, padroeira da Catalunha, do século XI. É de madeira pintada, de estilo romântico, até hoje veneradaem Montserrat. Tanto ela como o menino Jesus têm nas mão o globo representativo da Terra, da qual a Virgem Maria é Rainha e da qual Cristo é Criador e Senhor”.
Nossa Senhora do Montserrat
“Repito. Esse globo não é uma bola de brinquedo. É a Terra. E se representavam a Terra por um globo, é porque sabiam que ela é redonda”.
“Esta foto foi posta aí porque santo Inácio de Loyola passou uma noite de vigília diante dela e lhe ofereceu sua espada, quando de sua conversão”.
“Examine agora esta esplêndida obra da escultura gótica radiante. É uma imagem de Nossa Senhora cultuada até hoje na Catedral de Notre Dame de Paris. Há reproduções dessa imagem em qualquer livro de arte gótica. Ela é muito famosa. Data de 1300, mais ou menos. O menino Jesus que ela tem nos braços segura, ele também, o globo da Terra entre seus dedos, como se brincasse com o nosso mundo”.
Ousei levantar uma objeção: “Esse globo que Jesus e a Virgem Maria têm nas mãos não representaria o universo, o globo celestial, a esfera celeste?”
O professor nem se abalou:
“A objeção é fraca. Se fosse válida, Carlos Magno seria Imperador não da Terra, mas do globo celeste, o que igualaria a Deus. Ao fazer a imagem de Cristo, Sabedoria de Deus encarnada, segurando o globo na mão, brincando com a Terra, os artistas tinham se inspirado no texto da Sagrada Escritura, onde a Sabedoria de Deus diz: ‘Et delectabar per singulos dies, ludens coram eo in omnitempore, ludens in orbe terrarum’ (Provérbios VIII, 30-31): ‘E cada dia eu me deleitava brincando continuamente diante dEle, brincando sobre o globo da Terra’. É isso o que diz a Vulgata, texto da bíblia de S. Jerônimo, usado na Idade Média. Portanto, qualquer clérigo ou estudante medieval, conhecendo o texto bíblico, sabia que a Terra era um globo”.
“E para que não reste qualquer dúvida de que a Bíblia fala em globo da terra – orbe terrarum -, veja o que diz o Dicionário Latino-Português de José Cretella Jr. e Geraldo de Ulhoa Cintra sobre o significado da palavra latina orbis:
Orbis, is: masc. neutro=redondeza, circulo, a roda, coisa redonda ou circular”.
“E o dicionário informa que em Virgílio, o grande poeta romano do tempo de Augusto e autor da Enêida, orbe terraqueo significa o globo da Terra. Temos aí mais um dado. Já Virgílio, na Antiguidade, dizia que a Terra é redonda. E Virgílio era muito lido na Idade Média. Dante Aliguieri o tinha como o modelo dos poetas e como seu mestre”.
“Ainda outras passagens da Bíblia afirmam que a Terra é redonda, mas por ora deixe-me mostrar-lhe outras provas referentes à Idade Média, provas que as escolas de hoje ignoram… ou querem ignorar”.
“Examine, por exemplo, este livro de Léon Gauthier (4), membro do Institut de France. Ele mostra um desenho medieval muito curioso, representando os antípodas: homens e cães de pé sobre um círculo que representa a Terra. Logo, eles não só tinham idéia de que a Terra é redonda, mas compreendiam também que haviam antípodas, uns de cabeça para baixo em relação aos outros. Repare na legendada ilustração, que registra ser esse um documento catalogado na Bibliothèque Nationale de Paris.
“Veja agora, no mesmo livro (5), um esquema do mapa-múndi medieval da mesma Bibliothèque Nationale”.
“De novo o mundo é representado de forma circular”.
“Há ainda (6) outra imagem parcial do mundo, focalizando a Europa. A curvatura do mapa demonstra que eles sabiam que a Terra é redonda”.
Arrisquei outra objeção: “Todos esses documentos mostram mapas do mundo circulares, é verdade, mas não em forma de globo, e sim de discos chatos e planos”.
“Em forma de pizza, você quer dizer? Também os nossos mapas atuais são circulares ou ovalados, mas sempre planos, como pizzas, apesar de conhecermos a perspectiva. Os medievais não conheciam a perspectiva; por isso nos desenhos representavam a Terra como disco. Mas em suas esculturas, como vimos, representavam nosso mundo como globo, como esfera. Ademais, se seu argumento fosse válido, daqui a 1000 anos alguém poderia pensar que no século XX era muito ignorante, pois nele se acreditaria que é plana e chata, como a mostram nossos mapas atuais”.
O professor já pegara outro livro (7): “Século XIII, o maior dos séculos”. Temos aqui um mapa tosco e grosseiro do século XIII, que se encontra na Catedral de Hereford. Nele a Terra é apresentada perfeitamente redonda.”
Eu já estava convencido, mas o professor queria deixar o assunto resolvido por completo.
“Veja agora este texto. É a Divina Comédia de Dante Alighieri. Ele escreveu seu poema por volta de 1300. Você bem sabe que é uma das mais belas e sábias obras poéticas jamais escritas. Dante foi um grande poeta e um grande sábio, embora muitas de suas idéias sejam inaceitáveis. Aqui, no Paraíso (8), ele repete o que aprendera com seu mestre Virgílio:
‘Col viso ritornai per tutte quante
le sete sfere, e vidi questo globo
tal ch’io sorrisi del suo vil sembiante.’
Traduzo os versos em linguagem corrente. É Dante que fala: ‘Com o rosto, com a vista percorri todas as sete esferas (os sete céus que Dante já visitara) e vi este globo tal que eu sorri de seu aspecto pequeno ou vil’. Ora, o globo aí designado é o globo terrestre, conforme explica o comentário a esses versos contido nessa edição (9)”.
Estava eu já bem consciente de que me haviam impingido uma tolice. Ainda assim, perguntei: “Toda a Idade Média sabia que a Terra era redonda?”. Retrucou-me o professor: “Evidentemente deviam existir pessoas rústicas, e até alguns estudiosos, que tinham teorias estranhas sobre esse e sobre outros temas. Também hoje há cientistas que aventam teorias exóticas. Você já leu o que a imprensa tem divulgado a respeito das teorias de Stephen Hawkings sobre a origem do universo? Há hoje também pessoas que pensam que existem seres movidos a pilhas e transístores em outros planetas. Daqui a séculos, quem assistir o filme ET e pensar que o século XX acreditava, todo ele, na existência de seres daquele tipo, estará incorrendo em erro grosseiro. Assim também, é um erro grosseiro pensar que a Idade Média, enquanto expressa por seus mais altos pensadores e artistas, pensava que a Terra era plana e não esférica”.
“Veja agora, prosseguiu meu interlocutor, o que diziam os maiores filósofos medievais sobre esse problema. Santo Alberto Magno, que viveu entre 1193 e 1280, e que foi mestre de São Tomás de Aquino, defendeu as idéias geográficas de Aristóteles, inclusive a esfericidade da Terra. São Tomás de Aquino – o maior gênio medieval – tratou da questão em pauta na Suma Teológica (10). Veja o que diz S. Tomás ao cuidar dos fins das ciências:
“O astronômo, por exemplo, demostra a mesma conclusão que o físico, ou seja, a esfericidade da Terra”.
“Então o maior filósofo medieval afirmava que a Terra é redonda”.
“É incrível, exclamei. Como é que ninguém diz que S. Tomás ensinava isso? Será que ninguém conhece esse texto? Parece-me impossível que ninguém o conheça”.
“Realmente é impossível que ninguém o conheça, concordou o professor. Se os que o conhecem não o mencionam, é porque há tal preconceito contra a Idade Média, por ter sido uma época católica, que o mundo moderno ateu tem que denegri-la. E o preconceito é tão forte que ninguém se dá ao trabalho de verificar se uma acusação que se faz contra ela é verdadeira ou não”.
“Repare que essas mesmas escolas atuais e esses mestres que tanto falam contra a ignorância medieval lembram que, na Antiguidade, Tales de Mileto (VI séc. a.C.) ensinara que a Terra era redonda e os mapas jônicos da Terra eram circulares”.
“Os pitagóricos tinham ensinado que a Terra era esférica e Aristóteles (384-322 a.C.) provou isso pela sombra curva que nosso planeta projeta na Lua durante os eclipses lunares”.
“Eratóstenes (285-194 a.C.) foi o primeiro homem que calculou o comprimento do meridiano terrestre. Foi ele também quem fez o primeiro mapa com meridianos e paralelos”.
Eratóstenes
“Crates de Malus (145 a.C.) foi o primeiro a construir um globo para representar a Terra, visto que ele era seguidor da escola estóica, a qual ensinava que a Terra era redonda” (11).
“Por todos esses dados você vê que a esfericidade da Terra deixara de ser um mistério há muito tempo. Se os sábios da Antigüidade, os geógrafos e filósofos estóicos e peripatéticos sabiam tudo isso, é bem de desconfiar que os medievais também o soubessem. Com efeito, se Aristóteles foi conhecido pelos medievais do século XIII, os estóicos foram conhecidos desde o início da Idade Média”.
“Ademais, como já lhe mostrei, a própria Bíblia, muito lida e estudada pelos medievais, dizia que a Terra é redonda. Veja esse texto de Isaías: “Porventura não chegou ao nosso conhecimento que (Deus) estabeleceu os fundamentos da Terra? Ele é o que está sentado sobre a redondeza da Terra”. (Is. XL, 21-22). A tradução é do Padre Mattos Soares. O texto latino da Vulgata diz aí que Deus está sentado sobre o ‘gyrum terrae’. E o Dicionário latino-português diz que girum significa redondeza, circuito, giro, etc. Ora, a Vulgata era o texto da Bíblia usado na Idade Média, como já lhe observei”.
Inconformado, voltei a perguntar: “Mas como todo mundo acredita que a Idade Média não sabia que a Terra era redonda?”
“É que de tanto se repetir uma mentira, os homens acabam acreditando nela como verdade. Como essa, há tantas outras mentiras sobre a Idade Média e sobre a História”, respondeu-me o professor.
* * *
Saí plenamente convencido, satisfeito com o que aprendera e com raiva dos que haviam me enganado. E eis que, na Avenida, quem vejo eu, vindo a meu encontro? As duas. Uma de saia curta e mascando chicletes, e a outra, magra, de óculos e jeans, azeda e amarga, sempre com o seu bottom na blusa onde se lia: “O povo unido jamais será vencido”.
Cumprimentei-as. Estavam indo para um comício. Não perdi tempo e despejei sobre elas os argumentos que aprendera. A professorinha de saia curta continuou mascando chicletes e aproveitou a pausa para se olhar em seu espelho baratinho. A Lenindira, embaraçada, arriscou um sofisma azedo e oco: “Mas não será que o globo na mão de Carlos Magno significavam a perfeição e não a Terra? Você sabe, aqueles medievais gostavam muito de simbologia…”.
Universidade de Salamanca, fundada em 1218.\
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Quase explodi de tanta raiva diante de tanta má fé. A outra, a de saia curta, pôs fim à conversa dizendo: “Quem foi que fez sua cabeça?”. E lá se foram as duas pela Avenida, para o comício. Convictas, uma de sua sabedoria e outra de sua sinceridade.
Mas que gente ignorante havia na Idade Média…
Orlando Fedeli
Ps.: As fotos são nossas.
* * *
Bibliografia
(1) Walter Goetz, História Universal, Espasa-Calpe, Barcelona, vol. III, pág. 128
(2) Idem, pág. 385
(3) H. Rabner, Inácio de Loyola, ed. Desclée de Brower, Bruges, 1956, pág.115
(4) Léon Gauthier, La Chevalerie, ed. Arthaud, Paris, 1959, pág. 88
(5) Idem, pág. 78
(6) Ibidem, pág. 82
(7) James J. Walsh, The Thirteenth Greatest of the Centuries, New York, 1929, págs. 462/463
(8) canto XXII, versículos 132 a 135
(9) Dante, A Divina Comédia, ed. Ulrico Hoepli, Milão, 1985
(10) I., q.1, a.1, ad2
(11) Enciclopédia Espasa Calpe, Barcelona, verbete Mapa, vol. XXXII, pág.1132
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