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segunda-feira, 27 de março de 2017

CINCO RAZÕES PARA SE ACREDITAR - O MILAGRE DA INCORRUPÇÃO DE CORPOS DE SANTOS

Cinco razões para acreditar nos santos incorruptos da Igreja Católica

Esses santos morreram e suas almas foram ao encontro de Deus, mas os seus corpos estão intactos e desafiam a ciência até os dias de hoje.
Hoje em dia, a humanidade conhece muitas técnicas de preservação de corpos, mas a mais famosa de todas começou a ser empregada ainda no Egito Antigo, mais de 5 mil anos atrás. No método chamado de mumificação, os órgãos internos dos faraós eram cuidadosamente removidos, as cavidades do corpo preenchidas com ervas e outros materiais naturais e, depois, os corpos eram banhados em óleos e envoltos em faixas. Tutancâmon, a mais famosa múmia do Egito, por exemplo, foi encontrada por arqueologistas em 1922 e já contava com mais de 3 mil anos de história.
Trata-se, sem dúvida, de um fato impressionante, mas muito distante de um milagre, pelo menos no sentido sobrenatural do termo. Santo Tomás de Aquino, ao explicar o que são milagres (miracula), lembra a sua semelhança com a palavra mirabilis, de onde vem o nosso adjetivo "admirável" [1]. Assim, qualquer coisa que cause espanto e admiração entre as pessoas pode ser considerada, genericamente, um milagre.
As múmias egípcias, no entanto, eram preservadas intencionalmente. O processo de embalsamamento era complexo e levava em torno de dois meses. Os sacerdotes politeístas e reencarnacionistas procediam assim para manter a identidade dos cadáveres em sua "jornada para o outro mundo". Nesses casos, há uma explicação natural bem clara para o fenômeno. Não se pode falar de intervenção divina nos sarcófagos antigos.
Muito menos se pode chamar de sobrenaturais os episódios de preservação acidental que a literatura moderna reporta acontecer aos montes, em diferentes lugares do mundo. Também esses casos têm uma explicação natural muito simples: ou foram (parcial ou integralmente) isolados de seus agentes decompositores, ou receberam substâncias químicas que os preservaram da decomposição. Em 1865, por exemplo, os habitantes da cidade de Guanajuato, no México, ficaram assustados quando exumaram os corpos de seus conterrâneos e descobriram que eles ainda não tinham sido totalmente consumidos pela terra! A explicação, porém, não se encontrava em nenhum poder mágico, mas simplesmente no solo salgado e seco do cemitério em que os defuntos tinham sido enterrados.
Coisa bem diferente, todavia, é o que acontece com os chamados "santos incorruptos" da Igreja Católica: são santos, porque amaram a Deus de modo extraordinário durante suas vidas; incorruptos, porque seus corpos foram achados espantosamente preservados, sem a intervenção de quaisquer agentes naturais; e diz-se que são especificamente da Igreja Católica, porque em nenhuma outra religião do mundo são achados de modo tão numeroso e constante quanto na Igreja fundada por Cristo. Por isso, esse fenômeno pode muito bem ser considerado como que um "selo" divino da autenticidade da fé católica — ainda que nenhum fiel batizado deva fazer depender desses milagres a sua fé na Revelação cristã.
De qualquer modo, se são autênticos e vieram realmente de Deus, não há por que desprezar essas manifestações sobrenaturais. O problema é que, muitas vezes, as pessoas simplesmente não sabem o que significa esse fenômeno, nem entendem por que eles são um milagre. Por isso, resumimos aqui para você pelo menos cinco motivos para acreditar nos corpos incorruptos dos santos da Igreja:

1. Eles tinham tudo para se decomporem

Cadáveres preservados de modo natural são rapidamente isolados do contato com a umidade, com o calor ou com outros agentes externos.
Com os santos incorruptos, porém, não foi assim.
Só para começar a conversa, muitos deles levaram vários dias para serem enterrados, devido à resistência dos fiéis em se separarem do objeto de sua veneração. Tome-se como exemplo São Bernardino de Siena, que ficou exposto para o culto dos fiéis por 26 dias, ou Santa Ângela Merici, cujo corpo ficou exposto para veneração pelo período de um mês.
Outros tantos foram preservados mesmo em condições extremamente adversas de umidade. Santa Catarina de Gênova permaneceu no túmulo por 18 meses, mas foi achada intacta apesar de sua mortalha estar úmida e deteriorada. Santa Maria Madalena de Pazzi foi desenterrada um ano depois de sua morte e, embora seu hábito estivesse encharcado, seu corpo permaneceu exatamente o mesmo. Nove meses após a sua morte, Santa Teresa de Ávila foi encontrada coberta de terra devido ao rompimento da tampa de seu caixão e, mesmo vestida com pedaços de tecido sujos e decompostos, o seu corpo não se encontrava apenas fresco, mas perfeitamente intacto e ainda exalando uma curiosa fragrância. A mesma resistência à umidade pôde ser verificada nos corpos de São Carlos Borromeu, Santa Catarina de Bolonha, Santa Catarina Labouré e São Charbel Makhlouf.
Outros corpos ainda, como os de São Colmano e São Josafá, resistiram ao ar e à água: o primeiro ficou suspenso por tanto tempo na árvore em que foi enforcado, que todos os habitantes da região se maravilharam com a sua preservação; o segundo, por sua vez, foi lançado em um rio, onde permaneceu por cerca de uma semana, sem sofrer nenhum dano.
São Francisco Xavier, São João da Cruz e São Pascoal Bailão resistiram de modo ainda mais impressionante a substâncias corrosivas que foram lançadas sobre eles. Também eles tinham tudo para se decomporem, mas resistiram milagrosamente.

2. Eles exalam perfumes extraordinários

Esse fenômeno é tão antigo entre os santos da Igreja que a literatura eclesiástica já consagrou a expressão "morrer em odor de santidade". Embora seja usada normalmente em sentido figurado, indicando as boas virtudes com que morreram os homens e mulheres de Deus, essa frase está fundada em um fato: o de que muitos santos realmente exalaram perfumes extraordinários depois de mortos.
Os casos históricos mais notáveis desse fenômeno são os de Santa Liduína, Santa Catarina de Ricci, São Felipe Néri, São Geraldo Majella, São João da Cruz, São Francisco de Paula, Santa Rosa de Viterbo, Santa Gema Galgani e São José de Cupertino.
As testemunhas desse fato extraordinário sempre evitaram quaisquer analogias e semelhanças para descrever a suavidade e a fragrância do odor que perceberam com o olfato. Um especialista foi enviado, certa vez, ao convento da beata e mártir Maria dos Anjos (Espanha, † 1936) para tentar identificar a natureza do perfume que exalava o corpo dessa serva de Deus. Ele teve que confessar que não se parecia com nenhum dos perfumes desta terra. As religiosas, suas companheiras, costumavam chamá-lo "odor de paraíso ou de santidade".
Dos muitos eventos ligados à incorrupção dos corpos, este é sem dúvida um dos mais impressionantes e inexplicáveis. É conhecido o parecer do Papa Bento XIV, na famosa obra que ele escreveu sobre a beatificação dos servos de Deus:
"Que o corpo humano possa naturalmente não cheirar mal, é muito possível; masque cheire bem está acima de suas forças naturais, como ensina a experiência. Por conseguinte, se o corpo humano, corrompido ou incorrupto, em putrefação ou sem ela [...], exala um odor suave, persistente, que não incomoda a ninguém, mas que parece agradável a todos, deve-se atribui-lo a uma causa superior e deve pensar-se em um milagre." [2]

3. Eles permanecem macios e flexíveis por longos anos

Corpo incorrupto de Santa Bernadette Soubirous, em Nevers, na França.
Múmias preservadas naturalmente trazem consigo um aspecto duro e rígido, comumente chamado de rigor mortis. A maioria dos santos incorruptos, ao contrário, nunca experimentou rigidez cadavérica — muitos permaneceram flexíveis anos após a sua morte, alguns atravessando séculos. Santa Catarina de Bolonha, por exemplo, tinha o corpo tão maleável 12 anos após a sua morte que foi colocado na posição em que se encontra até o dia presente: sentado.
Quem olha para as urnas de alguns santos, principalmente os mais antigos, pode ser tentado a duvidar da sua incorrupção. Na Índia, por exemplo, depois de quase 500 anos, restam praticamente apenas os ossos de São Francisco Xavier. No caso de Santa Bernadette Soubirous, embora o seu corpo esteja intacto desde 1879, já foi aplicada uma camada de cera ao seu rosto. Outros tantos exemplos poderiam evocar dúvidas a respeito da confiabilidade desses milagres. Afinal, a Igreja estaria tentando "maquiar" os seus santos?
Na verdade, o fenômeno da incorrupção não significa incorruptibilidade. A demora de algumas santas relíquias em se corromperem não significa que elas nunca se decomporão — e a Igreja nunca ensinou isso. Um corpo incorrupto não é um corpo indestrutível! Incorruptíveis e gloriosos, só os corpos ressuscitados de Jesus e Maria, que estão no Céu. Os outros — dos santos e servos de Deus — só o serão na ressurreição dos mortos, no fim dos tempos.
Essas observações também são importantes para lembrar o fim com que Deus realiza esses prodígios: conduzir as pessoas à fé em Jesus Ressuscitado. Os santos cujos corpos experimentaram o fenômeno da incorrupção não são "deuses". Eles são membros do Corpo Místico de Cristo e recordam que, assim como Ele não se corrompeu e vive para sempre, aqueles que levam uma existência pura e livre dos vícios nesta terra estão destinados para uma herança eterna e incorruptível no Céu.

4. Eles transpiram sangue e óleos preciosos

Além dos perfumes misteriosos sobre os quais já falamos, outro fenômeno muito comum entre os santos incorruptos é a transpiração de líquidos especiais.
Consta que esse milagre tenha acontecido — para mencionar apenas alguns nomes — com Santa Maria Madalena de Pazzi, Santa Júlia Billiart, Santo Hugo de Avalon, Santa Inês de Montepulciano, Santa Teresa d'Ávila, São Camilo de Lelis e São Pascoal Bailão. O óleo que fluiu várias vezes do corpo da beata clarissa Mattia Nazzarei, que morreu em 1320, continua jorrando sem parar de suas mãos e de seus pés, até os dias de hoje.
Outro caso impressionante é o do religioso libanês Charbel Makhlouf, cujo corpo foi depositado em um túmulo sem caixão, como previa a regra maronita. Exumado quatro meses depois de sua morte, tempo suficiente para a destruição parcial do corpo, São Charbel estava coberto de lama, mas seu aspecto permaneceu natural e flexível por longos anos, emitindo constantemente sangue e água, à semelhança do lado aberto do Redentor. Mais admirável que o fluxo, porém, é a quantidade de líquido que o seu corpo já exsudou, número que supera (e muito) a quantidade normal de qualquer ser humano vivo.

5. Eles foram visitados por luzes sobrenaturais

Ainda que não contribuam em nada para preservar essas relíquias, a aparição de luzes sobre os corpos e as tumbas de alguns desses santos atestam, de certo modo, a sua vocação divina.
A santidade de São Guthlac, por exemplo, foi confirmada por muitas testemunhas, que viram a casa onde ele morreu ser coberta por uma luz brilhante, que saía de lá em direção ao Céu. O perfume que provinha da boca de São Luís Beltrão em seu leito de morte era acompanhado de uma luz intensa que clareou a sua humilde cela por muitos minutos. Vários outros santos foram favorecidos com essa iluminação, incluindo São João da Cruz, Santo Antônio de Stroncone e Santa Joana de Lestonnac.
Mas talvez a mais impressionante manifestação tenha ocorrido, novamente, na tumba de São Charbel Makhlouf. A luz que brilhou intensamente por 45 noites em seu túmulo foi testemunhada por vários habitantes do vilarejo e eventualmente resultou na exumação do seu corpo, revelando os fenômenos que se observam até hoje.
Evidentemente, a Igreja não dá crédito a todo e qualquer caso de incorrupção que é alegado pelas pessoas. As autoridades eclesiásticas preferem trilhar o caminho da prudência, emitindo um parecer definitivo só depois que os fatos apresentados ao seu juízo se mostrem inexplicáveis à ciência humana.
A mesma posição de cautela deve ser recomendada a todos os fiéis. Sem se deixarem contaminar pelo ceticismo doentio do mundo, lembrem-se sempre do fim com que Deus opera essas grandes maravilhas: levar as pessoas à fé em Seu divino Filho e em Sua Santa Igreja. É para Ele, Jesus Cristo, que apontam todos os santos e santas da Igreja, principalmente os que, por um dom de Deus, receberam em seus corpos mortais a dádiva da incorrupção.
Por Equipe Christo Nihil Praeponer

segunda-feira, 20 de março de 2017

CINTO DE CASTIDADE: UMA MENTIRA HISTÓRICA


Uso do cinto de castidade na Idade Média: uma mentira histórica

Mito teria surgido durante o Iluminismo, no século XVIII, para ressaltar o obscurantismo medieval.
Cinto de castidade
Cinto de castidade (Foto/Reprodução)
A imagem do cavaleiro medieval que parte rumo às Cruzadas e deixa para trás sua amada alegre e bonita, protegida por um cinto de castidade, não passa de uma mentira histórica e de um mito surgido no século XVIII para ressaltar o obscurantismo medieval. Este é o argumento da exposição Histórias Secretas do Cinto de Castidade. Mito e Realidade, que ficará em cartaz até agosto no Museu Katona József de Kecskemét, ao sul de Budapeste, capital da Hungria. Na mostra, aberta apenas para maiores de 16 anos, estão expostos 20 exemplos desses cinturões para explicar como o mito foi cunhado durante o Iluminismo.

No museu, os visitantes se deparam com brutais objetos de cadeados e orifícios protegidos por dentes de metal, e a primeira pergunta que surge é como as suas usuárias poderiam sobreviver a eles. “O mito do cinto de castidade surgiu durante o Iluminismo para que este movimento se afirmasse como superior à Idade Média, que seria a era da obscuridade”, explica Katalin Végh, subdiretora do Museu Katona József. A mitificação foi apoiada pela Grande Enciclopédia Francesa, editada a partir de 1751. O livro assegurava que o uso do cinto era generalizado na Idade Média. E o mito se consolidou como verdade.

Um outro impulso para a lenda do mito de castidade apareceu no final do século XIX, quando a masturbação era vista como um pecado e o cinto, como um remédio para ele. Há informação de que até os primeiros anos do século XX foram apresentadas várias patentes de diferentes cinturões de castidade, cuja missão seria a evitar que jovens se masturbassem. Estes cinturões “modernos”, nos quais o couro substitui o metal, também serviam, ou pretendiam servir, para proteger as mulheres de abusos e violência sexual, em um momento no qual elas passaram a ocupar espaços que, até então, eram exclusivos dos homens, como as fábricas.

Mas seu uso difundido na Idade Média pode não passar de uma grande mentira, na qual se acreditou até a década de 1990. A lenda foi alimentada, em todos esses séculos, não só pelo populacho, mas também por especialistas, em artigos científicos e mesmo em museus. O próprio Museu de Medicina Semmelweis em Budapeste, de onde provêm os objetos expostos na nova mostra, reconhece a responsabilidade dos museus na criação deste mito e afirmou que estas instituições não só conservam o passado, mas às vezes também uma história imaginária. E o passado, como o presente, está sempre em mutação.

Instituições como o British Museum, de Londres, e o Germanisches Nationalmuseum de Nuremberg, na Alemanha, possuíam e expunham coleções de cintos de castidade até a segunda metade dos anos 90, quando pesquisadores passaram a buscar a data de fabricação dos acessórios e descobriram que eles não passavam de falsificações feitas no século XIX.

Vários pesquisadores, como Benedek Varga, diretor do Museu de Medicina Semmelweis, questionaram o mito, realizando pesquisas históricas, literárias e científicas. A conclusão é que, na literatura medieval, inclusive em autores de textos eróticos, como Boccaccio e Rabelais, o cinto de castidade aparece muito poucas vezes e sempre com um claro sentido simbólico. O mito do cinto de castidade tem também a sua origem nos textos da Roma clássica sobre fitas, cinturões e cordas de utilizá-los por um longo tempo. Por um lado, o uso dos objetos poderia causar ferimentos, inclusive mortais, e isso quando não impedissem a higiene pessoal a ponto de provocar infecções. Por outro, os cadeados poderia ser abertos facilmente, o que depõe contra a ideia de assegurar a fidelidade da mulher na marra.

(Com agência EFE)

domingo, 19 de março de 2017

VIRA CATÓLICO - PASTOR MISSIONÁRIO E CATEDRÁTICO UNIVERSITÁRIO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS

Era professor de teologia evangélica, mas o estudo dos Padres da Igreja o levou ao catolicismo




Salvador Melara nasceu em O Salvador há 48 anos, e sua vida tem sido uma constante busca de Deus. De pequeno, como tantos meninos, “queria ser sacerdote e celebrar Missa”, e quando chegou à adolescência sentiu que Deus o chamava ao sacerdócio. Entretanto sua mãe “longe de apoiar-me, me disse que estava louco, que prontamente ia conhecer alguma garota bonita e ia me apaixonar, e que se me fizesse padre não ia poder porque eles não se casam".
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Pareceu que a coisa ficava decidida, mas em 1983 sucedeu algo que mudaria sua vida radicalmente: um companheiro de escola o convidou para ir a um grupo protestante chamado as Assembleias de Deus. Demorou a começar, mas acabaram gostando dos louvores e pregação, até que finalmente abandonou a Igreja Católica. Uma vez na universidade, depois de seu primeiro ano de medicina e depois de uma convenção missionária, decidiu dedicar-se à vida religiosa, agora sim e neste grupo evangélico. A partir desse momento já não havia outro assunto em sua vida que seus estudos de Licenciatura em Teologia na Universidade de sua denominação.
Com seus estudos acabados em 1992, Salvador se marchou como missionário a Boize, onde fundou três congregações das Assembleias de Deus e foi pastor associado em duas congregações mais da mesma denominação. Seu alto nível intelectual o permitiu, inclusive, chegar a ser catedrático de Teologia em duas Universidades.

Jesus Cristo o esperava nos estudos
Em uma destas universidades teve que encarregar-se de ensinar uma matéria intitulada "História do pensamento cristão", o que implicava explicar a seus alunos a doutrina dos Padres da Igreja, ou seja, aqueles primeiros eclesiásticos filósofos e teólogos do cristianismo primitivo sobre os que se assenta a ortodoxia doutrinal da Igreja Católica. Foi nesse momento quando, nas palavras do próprio Salvador Moara, “notei que os padres da Igreja haviam sido Católicos".
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Sua reflexão não ficou apenas por aí. Oe mesmo explica nas seguintes cinco conclusões:

1. Jesus disse que o mundo nos ia reconhecer por ser "perfeitos" em unidade, mas há milhares de igrejas evangélicas e todas são produtos de divisões de outras igrejas.

2. Minha denominação foi produto de uma subdivisão por uma suposta visita do Espírito Santo.

3. Ensinaram-me a odiar à Igreja Católica e me disseram que era a "Grande Prostituta", e "guarida de demônios", mas quando comecei a conhecê-la me encontrei com expressões como "Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo"... na Hora Santa se diz: "Bendito seja Deus, Bendito seja seu Santo Nome, Bendita seja o precioso sangue de Jesus Cristo, etc.". No rito de comunhão se diz: “Livra-nos Senhor de todos os males e concede-nos a paz em nossos dias para que ajudados por tua misericórdia vivamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda a vinda de Cristo salvador... Vosso é o Reino, vosso o Poder e a Gloria por sempre Senhor…” um demônio jamais pode dizer isso.

4. Disseram-me que os católicos acrescentaram livros à Bíblia e descobri que no século XIX, Sociedades Bíblicas eliminaram os livros deuterocanônicos da versão Reina Valera (a chamada Bíblia evangélica (espanhola)) por pressões econômicas das igrejas protestantes dominantes nessa época, porque se não os eliminassem essas igrejas não seguiriam aportando o subsídio econômico que recebia.

5. Mas o maior conflito, segundo me disseram, foi que a Eucaristia era uma invenção dos católicos, que o pedacinho de pão e o refresco de uva que tomávamos na santa ceio "representavam" o Corpo e a Sangue de Cristo, mas nos Evangelhos e em 1 Coríntios cap. 11, Jesus disse claramente "Isto é o Meu Corpo".

A verdade, as dificuldades e Deus
Os estudos o estavam fazendo ver que tudo o que havia pregado não era como ele cria. Mas não era uma decisão fácil ser coerente com a verdade. Isto implicava também a sua mulher e a seus filhos. Salvador se armou de valor e comunicou estas descobertas a sua mulher: “Eu pensei que ia haver uma reação negativa por parte dela, mas não. Minha esposa – explica Salvador com emoção - já estava lutando contra isto fazia algum tempo, mas não podia dizer-me porque eu era pastor, e quando soube que eu também estava lutando, juntos buscamos a forma de voltar à Igreja”.

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Esta decisão não estava isenta de problemas. Ele e sua família viviam do sustento que tinha por ser pastor evangélico e professor de teologia, mas agora todo isto se acabava. Não obstante, foram coerentes: era o ano 2004, e Salvador e sua mulher Marisol renunciaram às Assembleias de Deus para entrar na comunhão total da única e verdadeira Igreja fundada por Cristo Jesus, a Santa Igreja Católica: “Fomos recebidos novamente depois de cumprir alguns requisitos como batizar a nossos filhos, David e Maria, e receber o sacramento do matrimônio”.
As dificuldades chegaram a sua porta, mas Deus não se olvidou deles: “Ele nos sustentou, nos proveu trabalho a ambos, e agora com sua ajuda compartilho meu testemunho para ajudar aos que estão dentro da Igreja, mas que sua fé é muito débil para que se afirmem na verdadeira fé, a fé católica”.

TRATADO SOBRE A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA

Tratado de São de Jerônimo que cala a boca de muitos protestantes mal informados!

 

São Jerônimo contra Helvídio



 
Este tratado surgiu por volta do ano 383 DC, quando Jerônimo e Helvídio se encontravam em Roma, no tempo do papa Dâmaso. As únicas informações contemporâneas que se conservam de Helvídio são estas, fornecidas por Jerônimo.
A questão que trouxe este tratado à luz foi: teria a Mãe de Nosso Senhor permanecido virgem após o nascimento de seu Filho? Helvídio afirmava que os Evangelhos mencionando os "irmãos" e "irmãs" do Senhor provavam que Maria teria tido outros filhos, baseando sua opinião nos escritos de Tertuliano e Vitorino.
A conclusão deste ponto de vista é que a virgindade se situa numa posição inferior ao casamento. Jerônimo defende o outro lado, mantendo três proposições contra Helvídio:
  1. José era o suposto marido de Maria, mas não o era de fato;
  2. Os "irmãos" do Senhor eram seus primos (parentes), não irmãos de verdade; e
  3. A virgindade é superior ao estado de casado.
A primeira proposição ocupa os capítulos 3 a 8. Baseia-se no registro de Mt 1,18-25, especialmente nas palavras: "antes que coabitassem" (cap. 4) e "não a conheceu até que" (caps. 5-8).
A segunda, gira em torno da expressão: "filho primogênito" (caps. 9-10), que Jerônimo afirma ser aplicável não apenas ao primeiro de uma série de vários filhos, mas também ao filho único. Quanto à menção dos irmãos e irmãs de Jesus, Jerônimo garante serem filhos de outra Maria, esposa de Cléofas ou Clopas (caps. 11-16); para fundamentar sua posição, cita diversos escritores da Igreja (cap. 17).
Na terceira e última parte, para sustentar a preferência da virgindade sobre o casamento, Jerônimo afirma que não apenas Maria mas também José mantiveram seu estado virginal (cap. 19); diz, também, que embora o casamento possa ser um estado santo, apresenta grandes obstáculos para a oração (cap. 20) e que o ensinamento da Escritura declara que o estado de virgindade e continência estão mais de acordo com o desejo de Deus do que o casamento (caps. 21-22).

Parte I: Introdução

CAPÍTULO I
 
Há algum tempo, recebi o pedido de alguns irmãos para responder a um panfleto escrito por um tal Helvídio. Demorei para fazê-lo, não porque fosse tarefa difícil defender a verdade e refutar um ignorante sem cultura, que dificilmente tomou contato com os primeiros graus do saber, mas porque fiquei preocupado em oferecer uma resposta digna, que desmoronasse os seus argumentos.
Havia ainda a preocupação de que um discípulo confuso (o único sujeito do mundo que se considera clérigo e leigo; único também, como se diz, que pensa que a eloqüência consiste na tagarelice, e que falar mal de alguém torna o testemunho de boa fé) poderia passar a blasfemar ainda mais, caso lhe fosse dada outra oportunidade para discutir. Ele, então, como se estivesse sobre um pedestal, passaria a espalhar suas opiniões em todos os lugares.
Também temia que, quando caísse na realidade, passasse a atacar seus adversários de forma ainda mais ofensiva.
Mas, mesmo que eu achasse justos todos esses motivos para guardar silêncio, muito mais justamente deixaram de me influenciar a partir do instante em que um escândalo foi instaurado entre os irmãos, que passaram a acreditar nesse falatório. O machado do Evangelho deve agora cortar pela raiz essa árvore estéril, e tanto ela quanto suas folhagens sem frutos devem ser atiradas no fogo, de tal maneira que Helvídio - que jamais aprendeu a falar - possa aprender, finalmente, a controlar a sua língua.

CAPÍTULO II
 
Invoco o Espírito Santo para que Ele possa se expressar através da minha boca e, assim, defenda a virgindade da bem-aventurada Maria. Invoco o Senhor Jesus para que proteja o santíssimo ventre no qual permaneceu por aproximadamente dez meses, sem quaisquer suspeitas de colaboração de natureza sexual. Rogo também a Deus Pai para que demonstre que a mãe de Seu Filho - que se tornou mãe antes de se casar - permaneceu Virgem ainda após o nascimento de seu Filho.
Não desejamos entrar no campo da eloqüência, nem usar de armadilhas lógicas ou dos subterfúgios de Aristóteles. Usaremos as reais palavras da Escritura; [Helvídio] será refutado pelas mesmas provas que empregou contra nós, para que possa ver que lhe foi possível ler conforme está escrito, e, ainda assim, foi incapaz de perceber a conclusão de uma fé sólida

Parte II: José era o suposto marido de Maria; 
não era marido de fato

CAPÍTULO III
 
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Sua primeira declaração é: "Mateus diz: 'O nascimento de Jesus Cristo foi assim: quando sua mãe Maria estava prometida a José, antes de coabitarem, encontrou-se grávida pelo Espírito Santo. E José, seu marido, sendo um homem justo e não desejando denunciá-la publicamente, pensou em repudiá-la em segredo. Mas enquanto pensava essas coisas, um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: 'José, filho de Davi, não temas em tomar para ti Maria como tua esposa, pois o que nela foi gerado provém do Espirito Santo'. Notem" - continua ele - "que a palavra empregada é 'prometida' e não 'confiada', como vocês dizem; é óbvio que a única razão para estar prometida é porque deveria se casar um dia. E o Evangelista não iria dizer 'antes de coabitarem' se eles não viessem a coabitar no futuro, já que ninguém usaria a frase 'antes de jantar' se certa pessoa não fosse jantar. Também o anjo a chama 'tua esposa' e se refere a ela como unida a José. A seguir, somos chamados a ouvir a declaração da Escritura: 'E José despertou do seu sono e fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado, tomando-a para si como esposa; e não a conheceu até que deu à luz a seu filho'".

CAPÍTULO IV
 
Consideremos cada um desses pontos, pois seguindo o caminho dessa impiedade mostraremos que ele [Helvídio] está se contradizendo. Admite que [Maria] estava "prometida" e que o próximo passo seria se tornar esposa daquele homem a quem estava prometida. Novamente, ele a chama de "esposa" e diz que a única razão para estar prometida seria pelo fato de casar-se um dia. E, temendo que não o compreendêssemos suficientemente bem, ainda diz: "a palavra usada é 'prometida' e não 'confiada', isto é, ela ainda não se tornara esposa, nem mesmo havia sido unida pelo contrato de casamento".
Mas quando ele continua: "o Evangelista jamais usaria tais palavras se eles não viessem a se juntar futuramente, já que não se usa a frase 'antes de jantar' se certa pessoa não for jantar", sinceramente não sei se devo lamentar ou rir. Deveria acusá-lo de ignorância ou de imprudência? Como se isto, supondo que uma pessoa dissesse: "Antes de jantar no porto, naveguei para a África", significasse que tais palavras obrigatoriamente demonstrassem que essa pessoa alguma vez já jantou no porto. Se eu preferisse dizer: "o apóstolo Paulo, antes de ir para a Espanha, foi preso em Roma", ou (como também acho provável) "Helvídio, antes de se arrepender, morreu"; acaso teria Paulo obrigatoriamente estado na Espanha [após a prisão], ou Helvídio se arrependeria após a morte, ainda que a Escritura diga: "No Sheol quem vos dará graças?"
Não podemos entender a preposição "antes" - ainda que muitas vezes signifique ordem no tempo - como também ordem de pensamento? Portanto, não há necessidade que nossos pensamentos se concretizem, se alguma causa suficiente vier a evitá-los (sua concretização). Logo, quando o Evangelista diz "antes que coabitassem", indica apenas o tempo imediatamente precedente ao casamento, e mostra que estava em estado bem adiantado, pois ela já estava prometida, a ponto de estar próximo o momento de se tornar esposa. Conforme diz [o Evangelista], antes de se beijarem e se abraçarem, antes da consumação do casamento, ela se encontrou grávida. E ela foi determinada para pertencer a ninguém mais a não ser José, que guardou com zelo o ventre cada vez maior de sua prometida, com olhar inquieto mas que, a esta altura, quase que com o privilégio de um marido.
Ainda que possa parecer - conforme o exemplo citado - que ele teve relações sexuais com Maria após o seu parto, o seu desejo poderia ter desaparecido pelo fato dela já ter concebido anteriormente. E, embora encontremos que foi dito a José em um sonho: "Não temas em receber Maria por tua esposa" e, de novo: "José despertou do seu sono e fez conforme o anjo lhe ordenara, tomando-a por sua esposa", não devemos nos preocupar com isto, pois ainda que seja chamada "esposa", ela somente deixou de ser prometida, pois sabemos que é usual na Escritura dar esse título para aqueles que são noivos.
A seguinte evidência, retirada do Deuteronômio, assim o indica: "Se um homem" - diz o Escritor [sagrado] - "encontra uma mulher prometida no campo e a violenta, deve ser morto porque humilhou a esposa do seu próximo"; e, em outro lugar: "Se uma virgem é prometida a um marido, e um homem a encontra na cidade e a violenta, então deveis trazê-los para fora do portão da cidade e os apedrejareis até à morte; a mulher porque não gritou, estando na cidade, e o homem porque humilhou a esposa do seu próximo. Fareis isto para eliminar o mal do meio de vós"; e também, em outra parte: "Que tipo de homem é este que possui uma esposa prometida e ainda não a recebeu? Que volte para sua casa, para que não morra na batalha, e que outro homem a despose".
Mas se alguém guarda dúvidas do porquê a Virgem concebeu após estar prometida [a José], uma vez que não estava prometida a mais ninguém, ou, para usar os termos da Escritura, estava sem marido, deixe-me explicar três razões: [1ª] Pela genealogia de José, Maria possuía parentesco com ele, e a origem de Maria também precisava ser demonstrada; [2ª] Porque ela não poderia ser enquadrada na Lei de Moisés para ser apedrejada como adúltera; [3ª] Porque em sua fuga para o Egito ela precisava de segurança, o que poderia ser obtido com a ajuda de um guardião, de preferência um marido.
Quem, naquele tempo, acreditaria na palavra da Virgem, de que teria concebido pelo poder do Espírito Santo, e que o anjo Gabriel lhe teria aparecido para anunciar o propósito de Deus? Todos não a chamariam de adúltera, como fizeram com Suzana? (acréscimos de Daniel septuaginta) Ainda nos tempos presentes, quando praticamente toda a terra abraçou a Fé, não vêm os judeus afirmar que as palavras de Isaías: "Eis que a 'Virgem' conceberá e dará à luz um filho" são equívocas porque o termo hebraico almah que aparece na frase, significa mulher jovem, enquanto que o termo bethulah, que significa virgem não é usado? Tal posição, abordaremos com mais detalhes adiante.
Finalmente, com exceção de José, Isabel e da própria Maria - e talvez de mais alguns poucos que podemos supor ouviram a verdade da boca deles - todos supunham que Jesus era filho de José. E de tal modo era essa a suposição que até mesmo os Evangelistas, expressando a opinião corrente - que é a regra correta para qualquer historiador - o chamavam de pai do Salvador, como, por exemplo: "Movido pelo Espírito, ele (isto é, Simeão) veio ao Templo. Então os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir as prescrições da Lei a seu respeito"; e, em outro lugar: "E seus pais iam todos os anos a Jerusalém por ocasião da festa da Páscoa"; e, mais adiante: "Tendo completado os dias, eles retornaram, mas o menino Jesus permaneceu em Jerusalém, e seus pais não sabiam disso".
Note-se que a própria Maria respondeu ao [anjo] Gabriel com as seguintes palavras: "Como se sucederá isso, se não conheço varão?", dizendo isto a respeito de José; e, mais: "Filho, por que fizeste isto conosco? Teu pai e eu estávamos à tua procura". Não fazemos uso aqui, como muitos fazem, do discurso dos judeus ou dos escarnecedores. Os Evangelistas chamam José de "pai" e Maria confessa que ele era pai. Não - como já disse antes - que José fosse realmente o pai do Salvador, mas, preservando a reputação de Maria, todos o viam como sendo o pai [de Jesus], pois ouvira a advertência do anjo: "José, filho de Davi, não temas em tomar para ti Maria como tua esposa, pois o que nela foi gerado provém do Espírito Santo", pois pensava em repudiá-la em segredo; tudo isto bem demonstrando que o filho não era dele.
Ao dizermos tudo isto, mais com o objetivo de oferecer uma instrução imparcial do que responder a um oponente, mostramos o porquê José era chamado de pai de Nosso Senhor e o porquê Maria era chamada de esposa de José. Isto também responde ao porquê de certas pessoas serem chamadas de "seus irmãos".

CAPÍTULO V
 
Resultado de imagem para JOSÉ DESPERTOU DO SONOEntretanto, este último ponto encontrará seu lugar apropriado mais adiante.
Vamos agora abordar outros tópicos. A passagem que discutiremos agora é: "E José despertou de seu sono e fez conforme o anjo lhe ordenara, tomando-a como sua esposa; e não a conheceu até que deu à luz a um filho, e ele lhe colocou o nome de Jesus". Aqui, antes de mais nada, é absolutamente inútil para o nosso oponente querer demonstrar, de forma tão elaborada, que essas palavras se referem à cópula sexual, especialmente na compreensão intelectual: qualquer um pode negar isso e toda pessoa de bom senso pode imaginar a estupidez da refutação que Helvídio se esforçou por sustentar. Ele quer nos ensinar que o advérbio "até que" implica um tempo fixo e definitivo que, ao se completar, ocorre o evento que até então não se realizara; como neste caso: "e não a conheceu até que deu à luz um filho".
Segundo ele, é claro que ela [Maria] foi conhecida depois, e que apenas aguardara o tempo necessário para o nascimento de seu filho. Para defender sua posição, [Helvídio] amontoa textos e mais textos sem qualquer critério, comportando-se como um gladiador cego que fica movimentando sua espada a esmo, dizendo asneiras com sua língua barulhenta e terminando sem ferir ninguém, a não ser a si próprio.

CAPÍTULO VI
 
Nossa resposta é brevemente esta: as palavras "conhecer" e "até que", na linguagem da Sagrada Escritura, possuem duplo significado. Do primeiro [quanto a "conhecer"], ele mesmo [Helvídio] nos ofereceu uma dissertação para mostrar que pode se referir a relação sexual, como também ninguém duvida que pode ser usada para significar percepção (entendimento, saber), como, por exemplo: "o menino Jesus permaneceu em Jerusalém e seus pais não tinham conhecimento disso".
Já que provamos que ele seguiu o uso da Escritura neste caso, com relação à expressão "até que" será completamente refutado pela autoridade da mesma Escritura, pois várias vezes significa um certo tempo sem limitação, como quando Deus diz a certas pessoas pela boca do profeta: "Até à vossa velhice Eu sou o mesmo"; acaso Ele deixará de ser Deus após essas pessoas envelhecerem? E, no Evangelho, o Salvador diz aos Apóstolos: "Estarei convosco até a consumação do mundo"; será que quando chegar o fim dos tempos o Senhor abandonará Seus discípulos e estes, quando estiverem sentados sobre os doze tronos para julgar as doze tribos de Israel, estarão privados da companhia de seu Senhor?
Também Paulo, ao escrever aos Corintios, declara: "[Cada um, porém, na sua ordem:] Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés". Certos de que a passagem relata a natureza humana de Nosso Senhor, não temos como negar que as palavras são Daquele que sofreu [morte] na cruz e que mais tarde se sentou à direita [de Deus]. O que Ele quer demonstrar ao dizer que "é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés"? O Senhor reinará apenas até colocar todos os seus inimigos sob os seus pés e, depois disso, deixará de reinar? É óbvio que seu reino estará começando quando seus inimigos estiverem sob os seus pés.
Também Davi, na Quarta Canção da Ascensão, fala assim: "Olhai: assim como os olhos dos servos olha para a mão de seu mestre; assim como os olhos da moça olham para a mão de sua senhora; assim também os nossos olhos olham para o Senhor, nosso Deus, até que tenha misericórdia de nós". Será então que o profeta, olhando para Deus com o intuito de obter misericórdia, irá desviar seu olhar para o chão assim que obtiver misericórdia? [Certamente que não,] ainda que ele, em algum lugar, diga: "Meus olhos quedam pela tua salvação e pela palavra da tua justiça".
Eu poderia acrescentar inúmeras passagens como estas que, atestam esse uso, e cobriria com uma nuvem de provas a verbosidade do nosso contendente. Porém, acrescentarei mais algumas passagens e deixarei que o leitor descubra outras semelhantes por si mesmo.

CAPÍTULO VII
 
A Palavra de Deus diz em Gênesis: "Entregaram a Jacó todos os deuses estranhos que tinham em suas mãos, e as argolas que penduravam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém , e continuam perdidos até o dia de hoje". Igualmente lemos no final do Deuteronômio: "Assim, Moisés, servo do Senhor, morreu ali na terra de Moab, conforme a palavra do Senhor. E foi sepultado no vale, na terra de Moab, defronte de Beth-Peor; até o dia de hoje ninguém sabe o lugar da sua sepultura".
Certamente devemos identificar a expressão "até o dia de hoje" com o tempo da composição da história, podendo vocês preferirem o ponto de vista que afirma que Moisés foi o autor do Pentateuco ou que Esdras o reeditou. Não faço qualquer objeção em ambos os casos. A questão agora é saber se as palavras "até o dia de hoje" se referem à época da publicação ou composição desses livros e, caso o sejam, por que [Helvídio] não mostra - agora que muitos e muitos anos se passaram desde aquele dia - que os ídolos escondidos sob o carvalho ou a sepultura de Moisés foram descobertos, já que ele sustenta, com demasiada teimosia, que certa coisa não pode ocorrer dentro de um espaço de tempo delimitado pela expressão "até que" mas, para que venha a ocorrer, é necessário que atinja aquele ponto delimitado por "até que"?
Ele faria bem se prestasse atenção ao idioma da Sagrada Escritura e compreendesse como nós - já que se encontra mergulhado na lama; certas coisas parecem ambíguas quando não claramente declaradas, emboras outras coisas sejam deixadas assim para exercitar o nosso intelecto. Ora, se ainda quando o evento permanecia fresco na memória daqueles homens que viram e conviveram com Moisés já se desconhecia o local da sepultura, quanto mais agora depois que tantos anos se passaram!
E da mesma forma devemos interpretar o que se conta a respeito de José. O Evangelista apontou uma circunstância que poderia causar escândalo, ou seja, que Maria não foi conhecida por seu marido até dar à luz, e ele (o Evangelista) agiu assim para que tivéssemos a certeza de que ela - de quem José se absteve enquanto havia lugar para dúvidas sobre a importância da visão - não foi conhecida depois de seu parto.

CAPÍTULO VIII
 
Em resumo: o que eu gostaria de saber é por que José teria se privado [de Maria] até o dia de ter ela dado à luz? Helvídio certamente responderia: "Porque ele ouviu o que o anjo disse: 'pois o que nela foi gerado provém do Espírito Santo'". Nós, então, responderíamos a seguir que [José] certamente ouviu o que o [anjo] disse: "José, filho de Davi, não temas em tomar para ti Maria como tua esposa". A razão pela qual ele estava proibido de repudiar sua esposa era porque não achava que ela fosse adúltera. Seria então verdade que o [anjo] ordenara que não tivesse relações sexuais com sua esposa? Não está suficientemente claro que a advertência feita foi para que não se separasse dela? E poderia o homem justo pensar em se aproximar dela tendo ouvido que o Filho de Deus estava em seu ventre? Ótimo! Vamos então acreditar que o mesmo homem que deu tanto crédito a um sonho, não se atreveu a tocar em sua esposa, mesmo depois, quando ele ouviu dos pastores que o anjo do Senhor desceu dos céus e lhes disse: "Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que o será também para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, o Cristo Senhor"; e após, quando a multidão celeste se juntou ao anjo e entoaram: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade"; e ainda quando o justo Simeão abraçou a criancinha e exclamou: "Podeis levar agora para ti este teu Servo, Senhor, pois os meus olhos viram a tua salvação, conforme a tua palavra"; e também quando [José] viu a profetisa Ana, os Magos, a Estrela [de Belém], Herodes, os anjos...

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Eu diria então: quer Helvídio nos fazer acreditar que José, muito bem inteirado de tamanhas maravilhas, ousaria tocar o templo de Deus, a morada do Espírito Santo, a mãe do seu Senhor? Maria mantinha todos esses eventos "guardados em seu coração". Vocês não podem cair na vergonha de dizer que José desconhecia tudo isso, pois Lucas nos diz: "Seu pai e sua mãe ficavam maravilhados das coisas que diziam a Seu respeito".
E vocês ainda afirmam, arrogantemente, que a leitura dos manuscritos gregos é corrupta, embora seja exatamente isso que todos os escritores gregos fizeram constar em seus livros, e não apenas eles, mas também muitos escritores latinos interpretaram as palavras da mesma forma... E nem precisaremos considerar as variações existentes nas cópias, pois todos os registros existentes, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, se encontram assim desde que foram traduzidos para o Latim; portanto, devemos crer que a água da fonte brota mais pura que a [água] do rio.

PARTE III: 
Os "irmãos" do Senhor eram primos (parentes); 
não irmãos de fato

CAPÍTULO IX
 
Helvídio poderá responder: "O que você diz é, na minha opinião, insignificante. Seus argumentos foram perdidos no tempo e esta discussão demonstra mais astúcia do que verdade. Por que a Escritura não diria como diz de Tamar e Judá: 'E ele a tomou como sua esposa e jamais a conheceu'? Porque Mateus não usou estas palavras se quisesse mesmo expressar esse significado? Ele diz claramente: 'e não a conheceu até que deu à luz a um filho'. Logo, após o parto, certamente a conheceu, pois se privou dela até o momento do parto".

CAPÍTULO X
 
Se vocês são tão contenciosos, deveriam com suas próprias idéias testar o vosso mestre. Vocês não devem permitir que se faça uma separação entre o parto e o intercurso (sexual). Não devem dizer: "Se uma mulher conceber e tiver um menino, será imunda sete dias; assim como nos dias da impureza de suas regras, será imunda. No oitavo dia, circundar-se-á o prepúcio do menino e, durante trinta e três dias, ela ficará ainda purificando-se do seu sangue e não tocará em qualquer coisa sagrada" e outras coisas semelhantes. Devem recordar que se José se aproximasse dela, estaria sujeito à reprovação de Jeremias: "São como cavalos de lançamento bem nutridos, que andam relinchando cada um à mulher do seu próximo".
De outra maneira, como se explicariam as palavras "e não a conheceu até que deu à luz a um filho", se ele ainda deveria aguardar o término do tempo de purificação, pois senão o seu desejo acabaria por sofrer com um período ainda mais longo, de 40 dias? A mãe precisava se purificar da mácula de seu filho recém-nascido de modo que este ficava sob os cuidados da parteira, enquanto o marido apoiava sua esposa enfraquecida. Portanto, é certo que [José e Maria] se casaram, já que o Evangelista não pode ser acusado de ter mentido. Mas Deus nos livre de pensarmos tais coisas a respeito da mãe do Salvador e de um homem justo! Nenhuma parteira assistiu ao nascimento de Jesus; nenhuma mulher se intrometeu ali. Com suas próprias mãos [Maria] envolveu o Menino em pedaços de pano; ela mesma foi mãe e parteira, e, como nos é relatado, "O colocou numa manjedoura, pois não havia nenhum quarto para eles na pousada"; eis a declaração [canônica] que refuta as estórias apócrifas, pois foi Maria mesma que o envolveu em pedaços de pano e o que se sucederia a partir daí torna impossível a maliciosa idéia de Helvídio, uma vez que não havia um local adequado para o ato sexual naquela pousada.

CAPÍTULO XI
 
Darei agora uma resposta mais ampla a respeito das palavras "antes que coabitassem" e "não a conheceu até que deu à luz a um filho". Mas devo observar primeiro que a minha resposta segue a ordem do argumento dele até o terceiro ponto, pois ele dirá que Maria teve outros filhos quando cita a passagem: "E José se dirigiu até a cidade de Davi, para se inscrever com Maria, sua noiva, que estava grávida. Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto e ela deu à luz ao seu filho primogênito". Esforça-se, assim, para provar que o termo "primogênito" só pode ser aplicado a uma pessoa que teve outros irmãos e que, no caso, seriam filhos de seus pais.

CAPÍTULO XII
 
Nossa posição é esta: todo filho único é primogênito mas nem todo primogênito é filho único. Por primogênito entendemos não apenas aquele que pode ser sucedido por outros, mas aquele que não teve predecessor. Assim diz o Senhor a Abraão: "Todo aquele que abrir o útero, de toda a carne, será oferecido ao Senhor; tanto de homens como de animais, será teu. Contudo, os primogênitos dos homens deverão ser resgatados; também os primogênitos dos animais impuros resgatarás".
A palavra de Deus define "primogênito" como todo aquele que abriu o útero. Ora, se o título pertence apenas àqueles que têm irmãos mais jovens, então os sacerdotes não poderiam reivindicar o primogênito até que outros sucessores nascessem, pois, caso contrário, isto é, se não houvesse outros partos, seria necessário provar o estado de primogênito e não simplesmente o de filho único.
"E aqueles que devem ser resgatados com um mês de idade, devem ser resgatados , de acordo com tua estimativa por cinco siclos [de moedas], além do siclo do santuário. Mas o primogênito de um boi ou de uma ovelha ou de uma cabra, não deverás resgatar; eles são sagrados". A palavra de Deus me compele a dedicar a Deus o que quer que abra o útero se for o primogênito de animais puros; se de animais impuros, devo resgatá-lo, dando o valor devido ao sacerdote.
Poderia replicar: Por que me sujeitais ao curto espaço de um mês? Por que falais do primogênito, quando não posso dizer que há irmãos que irão nascer? Esperai até que nasça o segundo filho.
Não explico nada ao sacerdote, como se apenas o nascimento do segundo desse ao primeiro que tive a condição de primogênito. Não deveria, ao pé da letra, chamar-me e convencer-me de louco, se em vez de declarar que primogênito é um título devido àquele que rompe o útero, pretendesse restringir essa condição àqueles que após terão irmãos? Então, tomando o caso de João: estamos de acordo que ele foi filho único; eu precisaria saber se ele não foi também filho primogênito, e se não foi absolutamente sujeito à lei. Não há dúvidas quanto a isso.
À toda hora a Escritura assim fala do Salvador: "E quando chegou o dia de sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas pombas novas". Se esta lei se refere somente aos primogênitos, e esses deveriam ser os primogênitos com irmãos sucessores, ninguém seria obrigado pela lei se não pudesse afirmar que houve sucessores. Mas visto que, como aquele que não tem irmãos mais novos, é sujeito à lei do primogênito, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo.
Moisés escreve no Êxodo: "E acontecerá ao passar da meia-noite que o Senhor ferirá todos os primogênitos das terras do Egito, desde o primogênito do Faraó que reina em seu trono até os primogênitos dos cativos que estiverem nas prisões; e todos os primogênitos do acampamento". Diga-me: eram os que pereceram pelas mãos do Exterminador somente seus primogênitos, ou alguém mais, ou seja, os filhos únicos? Se somente aqueles que tinham irmãos eram chamados primogênitos, somente os filhos únicos escaparam da morte. E se, de fato, os filhos únicos foram trucidados, isso se opõe à sentença pronunciada, porque nascidos para morrer eram somente os primogênitos. Você deverá ou livrar os filhos únicos da pena, e nesse caso, se tornará ridículo; ou, se concorda que eles foram mortos, ganhamos a questão, embora não tenhamos de lhe agradecer isso, porque os filhos únicos eram também primogênitos.

CAPÍTULO XIII
 
A última proposição de Helvídio era esta, e era o que ele queria demonstrar quando tratou dos primogênitos, afirmando que são citados nos Evangelhos os irmãos de Jesus. Por exemplo: "Ora, sua mãe e seus irmãos permaneciam procurando falar com Ele". E em outro lugar: "Depois disso Ele foi para Cafarnaum, com sua mãe e seus irmãos". E de novo: "Seus irmãos então lhe disseram: 'Parte daqui e vai para a Judéia, porque teus discípulos podem também testemunhar as obras que fazes. Porque ninguém faz nada em segredo, mas procura ser conhecido abertamente. Se realizas tais coisas, manifesta-te ao mundo". E João acrescenta: "Porque mesmo seus irmãos não acreditavam nele".
Também Marcos e Mateus: "E indo à sua própria terra, ensinava em suas sinagogas, tanto que [sua gente] ficava atônita e dizia: 'De onde tirou este homem tal sabedoria e miraculosas obras? Não é o filho do carpinteiro. Não é sua mãe chamada Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco?'". Lucas, também, nos Atos dos Apóstolos relata: "Todos aqueles com um só propósito continuaram firmes na oração, com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos".
Paulo, o Apóstolo, também uma vez esteve com eles, e testemunha sua precisão histórica: "E cresci pela revelação, mas não vi os outros apóstolos, a não ser Pedro e Tiago, o irmão do Senhor". E de novo, em outro lugar: "Não temos o direito de comer e beber? Não temos o direito de trabalhar com as viúvas, assim como o resto dos Apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro?"
E, por medo, ninguém aceitou o testemunho dos judeus, pois foi de sua boca que ouvimos o nome de Seus irmãos, mas mantivemos que seus conterrâneos ficaram decepcionados com esse mesmo erro a respeito dos irmãos pelo qual [os judeus] passaram a acreditar sobre o pai, Helvídio profere uma dura observação de advertência e grita: "Os mesmos nomes estão repetidos pelos Evangelistas em outro lugar e as mesmas pessoas são ali irmãos do Senhor e filhos de Maria".
Mateus diz: "E muitas mulheres estavam ali (sem dúvida ao pé da cruz do Senhor), observando de alguma distância, e elas tinham seguido Jesus desde a Galiléia, ajudando-o, entre as quais estava Maria Madalena, Maria a mãe de Tiago menor e de José, e Salomé"; e no mesmo lugar, logo depois: "E muitas outras mulheres que subiram com Ele a Jerusalém".
Lucas também diz: "Ali estavam Maria Madalena e Joana, e Maria, a mãe de Tiago, e as outras mulheres com elas".

CAPÍTULO XIV
 
Minha razão para repetir sempre a mesma coisa é para adverti-lo para não fazer uma falsa afirmação, divulgando que eu deixei de lado tais passagens, como propícias a você, e que essa interpretação foi desfigurada e desfeita não pela evidência da Escritura, mas por argumentos evasivos.
"Observe:" - diz ele - "Tiago e José são filhos de Maria, e são as mesmas pessoas que são chamadas irmãos pelos judeus. Note que Maria é a mãe de Tiago o menor e de José. E Tiago é chamado o menor para distingui-lo de Tiago o maior que era filho de Zebedeu, como Marcos afirma em outro lugar; E Maria Madalena e Maria a mãe de José estavam onde ele (=Jesus) fora colocado. E quando passou o Sábado, elas compraram essências para irem ungi-lo". E, como era de se esperar, ele diz: "Quão pobre e ímpia visão temos de Maria, se afirmamos que quando outras mulheres estavam ocupadas com o sepultamento de Jesus, ela, Sua mãe, estava ausente; ou se inventamos alguma outra Maria; e tudo o mais porque o Evangelho de São João testemunha que ela estava ali presente, quando o Senhor, do alto da cruz a recomendou como Sua mãe, agora uma viúva, aos cuidados de João. Ou deveríamos supor que o Evangelista caiu em tamanho erro e nos induziu a tamanho erro, chamando Maria a mãe daqueles que eram conhecidos dos judeus como irmãos de Jesus?"

CAPÍTULO XV
 
Que cegueira, que raivosa loucura o leva à sua própria destruição! Você (Helvídio) diz que a mãe do Senhor estava presente ao pé da cruz; diz que ela foi confiada ao discípulo João por causa de sua viuvez e condição de soledade, como se no ponto de vista de sua própria afirmação, ela não tivesse quatro filhos e numerosas irmãs, com o conforto dos quais ela poderia se apoiar? Você também lhe dá o nome de viúva, que não se encontra na Escritura. E embora cite, a cada momento, o Evangelho, somente as palavras de João lhe desagradam. Você diz, de passagem, que ela estava presente ao pé da cruz porque parece que você não a omitiu de propósito, e contudo [não diz] nenhuma palavra sobre as mulheres que estavam com ela. Poderia perdoá-lo se fosse ignorante, mas vejo que você tem uma razão para suas omissões.
Deixe-me destacar então o que João disse: "Mas estavam de pé junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, a esposa de Cléofas, e Maria Madalena".


Não há nenhuma dúvida que existiam dois apóstolos chamados pelos nomes de Tiago: Tiago, o filho de Zebedeu, e Tiago, o filho de Alfeu. Por acaso você tem em vista que o comparativamente desconhecido Tiago o menor, que é chamado nas Escrituras filho de Maria, não contudo de Maria a mãe do Nosso Senhor, era apóstolo ou não ? Se era um apóstolo, devia ser o filho de Alfeu e um crente em Jesus, "porque nem seus irmãos acreditavam n'Ele". Se não era um apóstolo mas um terceiro Tiago (que possa ser, não sei), como poderia ser tido como o irmão do Senhor, e como, sendo um terceiro, poderia ser chamado "menor" para ser destinguido do "maior" , porquanto maior e menor são usados para mostrar relação existente não entre três, mas entre dois? Observe, ainda mais, que o irmão do Senhor é um apóstolo, uma vez que Paulo diz: "Então depois de três dias eu fui a Jerusalém para visitar Pedro e fiquei com ele quinze dias. Mas não vi nenhum outro dos apóstolos, a não ser Tiago, irmão do Senhor". E na mesma Epístola: "E quando eles perceberam a graça que me foi concedida, Tiago, Pedro e João que eram considerados os pilares" etc.
E você não poderá supor que esse Tiago fosse o filho de Zebedeu, bastando para isso ler os Atos dos Apóstolos, onde você encontrará que esse último já tinha sido trucidado por Herodes. A única conclusão é que a Maria que é descrita como a mãe de Tiago o menor era a esposa de Alfeu e irmã de Maria, a mãe do Senhor, aquela que é chamada por João Evangelista "Maria de Cléofas", seja por filiação, seja por parentesco, seja por outra razão.
Mas se você julga que são duas pessoas porque em outro lugar lemos: "Maria a mãe de Tiago menor" e aqui: "Maria de Cléofas", você terá a aprender ainda que era costume na Escritura dar diferentes nomes ao mesmo indivíduo. Raguel, sogro de Moisés, é chamado também de Jetro. Gedeão, sem nenhuma outra razão aparente para a troca, de repente se torna Jerubbaal. Ozias, rei de Judá, tem, como nome alternativo, Azarias. O Monte Tabor é chamado Itabyrium. Igualmente, o Hermon é chamado pelos fenícios Sanior, e pelos amorreus Sanir. O mesmo pedaço do país é conhecido por três nomes: Negebb, Teman e Darom, em Ezequiel. Pedro é também chamado Simão e Cefas. Judas, o zelote, em outro Evangelho é chamado Tadeu. Há numerosos outros exemplos que o leitor pode por si mesmo colecionar, em toda a Escritura.

CAPÍTULO XVI
 
Agora aqui temos a explicação do que eu me esforcei por mostrar, como foi que os filhos de Maria, a irmã da mãe de Nosso Senhor, que anteriormente eram tidos por não crentes, e que depois passaram a acreditar, podem ser chamados irmãos do Senhor. Possivelmente, o caso foi que um dos irmãos acreditou imediatamente enquanto os outros não acreditaram senão muito depois, e que uma Maria era a mãe de Tiago e José, chamada "Maria de Cléofas", que é a mesma dita esposa de Alfeu, e a outra, a mãe Tiago o menor. De qualquer modo, se ela (esta última) fosse a mãe do Senhor, São João teria lhe concedido seu sublime título, como em todos os demais lugares, e não teria passado uma impressão errônea, chamando-a mãe de outros filhos. Mas neste ponto não desejo argüir a favor ou contra a suposição de que Maria, a esposa de Cléofas, e Maria, a mãe de Tiago e José, eram mulheres diferentes, uma vez que está claramente entendido que Maria, a mãe de Tiago e José não era a mesma pessoa que a mãe do Senhor.
Como, então - pergunta Helvídio - explica você que eram chamados irmãos do Senhor aqueles que não eram seus irmãos?
Mostrarei como.
Na Sagrada Escritura há quatro espécies de irmãos: pela natureza, pela raça, pelo parentesco e pelo amor.
Exemplos de irmãos pela natureza foram Esaú e Jacó, os doze patriarcas, André e Pedro, Tiago e João.
Irmãos de raça, eram todos os judeus que assim se chamavam um ao outro, como no Deuteronômio: "Se teu irmão, um homem hebreu, ou uma mulher hebréia, te for vendida, ele servirá por seis anos; então, no sétimo ano, deixarás que ele se vá livre". E antes, no mesmo livro: "Deverás de qualquer maneira fazê-lo teu rei aquele que o Senhor teu Deus escolher: um dentre teus irmãos deverá ser feito teu rei; não porás um estrangeiro acima de ti, que não é teu irmão". E de novo: "Não deverás ver o boi ou a ovelha de teu irmão se extraviar e ficares omisso; deverás com segurança levá-los de novo para teu irmão. E se teu irmão não morar perto de ti, ou se não o conheces, então deves trazê-los para tua casa, e ficarão contigo até que teu irmão venha procurá-los, e tu deves devolvê-los a ele de volta". E o Apóstolo Paulo diz: "Desejaria eu mesmo ser reprovado por Cristo pela salvação de meus irmãos, meus próximos pela carne, que são os israelitas".
E ainda mais: são chamados irmãos por parentesco aqueles que são de uma família, que é pátrio, que corresponde à palavra latina "paternidade", porque de uma única raiz procede uma numerosa progênie. No Gênese, lemos: "E Abraão disse a Lot: 'Que não haja luta, eu te peço, entre mim e ti, e entre meus pastores e os teus, porque somos irmãos'". E de novo: "Assim Lot escolheu para si toda a planície do Jordão, e se direcionou para leste. E eles se separaram, um irmão do outro". Certamente Lot não era irmão de Abraão, mas o filho do irmão Aram de Abraão. Porque Terah gerou Abraão, Nahor e Arão. E Arão gerou Lot. De novo, lemos: "E Abraão tinha setenta e cinco anos quando partiu de Haram. E Abraão levou Sarai sua esposa, e Lot, filho de seu irmão".
Mas se você (Helvídio) ainda duvida que um sobrinho possa ser chamado filho, permita-me dar-lhe um outro exemplo: "E quando Abraão ouviu que seu irmão fora feito escravo, tomou seus experimentados homens, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito". E depois de descrever o ataque e o massacre noturno ele acrescenta: "E trouxe de volta todos os bens, assim como seu irmão Lot". Que isso seja suficiente como prova de minha afirmação. Mas por medo, você pode levantar alguma objeção cavilosa, e se contorcer em seu aperto como uma cobra; assim devo imobilizá-lo rapidamente com as garantias de provas para fazê-lo parar de sibilar e murmurar, porque sei que você gostaria de dizer que está baseado não tanto na verdade da Escritura mas em complicados argumentos.
Jacó, o filho de Isaac e Rebeca, quando por medo da perfídia de seu irmão tinha ido para a Mesopotâmia, retirou-se para perto [de Labão], rolou a pedra da tampa do poço e bebeu da fonte de Labão, irmão de sua mãe. "E Jacó beijou Raquel, ergueu sua voz e chorou. E Jacó disse a Raquel que ele era irmão de seu pai, que era filho de Rebeca". Aqui está um exemplo da regra já referida, pela qual um sobrinho é chamado de irmão. E mais: "Labão disse a Jacó: 'Porque tu és meu irmão, poderias doravante trabalhar para mim sem pagamento? Diga-me qual o teu propósito'". E assim, quando ao fim de 12 anos, sem conhecimento de seu tio e acompanhado por suas esposas e filhos estava retornando para sua terra, quando Labão os alcançou na montanha de Gilead e não conseguiu encontrar os ídolos que Raquel escondera em sua bagagem, Jacó fez uma pergunta a Labão: "Qual é minha transgressão? Qual é meu pecado, para que tu me venhas tão irado e me persigas? Procuraste tudo em minhas bagagens! O que encontraste em todos meus utensílios? Digas aqui, irmãos perante irmãos, para que eles julguem a nós dois".
Diga-me [Helvídio] quem são esses irmãos de Jacó e Labão que estão aqui presentes? Esaú, irmão de Jacó, certamente não estava lá, e Labão, o filho de Bethuel, não tinha irmãos, embora tivesse uma irmã, Rebeca.

CAPÍTULO XVII
 
Inumeráveis exemplos da mesma espécie podem ser vistos nos Livros Sagrados.
Mas, para abreviar, volto à última das quatro espécies de irmãos, aqueles, esclareço, que são irmãos por afeição, e estes novamente são de duas espécies: aqueles por um relacionamento espiritual e aqueles por um relacionamento geral. Digo espiritual porque todos nós cristãos somos chamados irmãos, como no verso: "Veja como é bom e agradável para os irmãos viverem juntos na unidade". E em outro Salmo, o Salvador diz: "Eu enumerarei teu nome entre meus irmãos". E , em outro lugar: "Vá a meus irmãos e dize-lhes..."
Eu disse - por relacionamento geral - porque nós somos todos filhos de um mesmo Pai, há como um penhor de irmandade entre nós todos. "Dizei àqueles que vos odiarem:" - diz o profeta - "vós sois nossos irmãos". E o Apóstolo escrevendo aos Coríntios: "Se algum homem que é chamado irmão for um fornicador, ou avarento, ou idólatra, ou caluniador, ou beberrão, ou autor de extorsões, com alguém assim, não se deve comer".
Agora eu pergunto à que classe você considera que devem pertencer os irmãos do Senhor, no Evangelho. Eles são irmãos por natureza, você responde. Mas a Escritura não diz isso. Não os chama nem filhos de Maria, nem de José. Poderíamos dizer que eles eram irmãos pela raça? No entanto, seria absurdo supor que uns poucos judeus fossem chamados irmãos quando todos os judeus daquele tempo poderiam, a esse título, reivindicar o nome. Eram eles irmãos pela virtude de intimidade estreita e de união de coração e pensamento? Se eram assim, quais eram exatamente seus irmãos mais do que os apóstolos que receberam sua instrução privada e eram chamados por Ele Sua mãe e Seus irmãos? Novamente, se todos os homens, como visto, eram seus irmãos, seria loucura dar uma mensagem especial: "Vede, seus irmãos o procuram" porque todos os homens semelhantemente mereceriam esse nome.
A única alternativa é adotar a explicação anterior e considerar que são chamados irmãos em virtude do vínculo de parentesco, não de amor e simpatia, nem por prerrogativa de raça, nem pela natureza. Exatamente como Lot foi chamado irmão de Abraão, e Jacó, de Labão, exatamente como as filhas de Zelophehad receberam um lote entre seus irmãos, exatamente como o próprio Abraão tinha a esposa Sarai por sua irmã, porque ele diz: "Ela é de fato minha irmã, por lado de pai, não pelo lado da mãe" o que quer dizer, ela era filha de seu irmão e não de sua irmã. De outro modo, o que diremos de Abraão, um homem justo, falando que a esposa era filha de seu próprio pai?
A Escritura, relatando a história dos homens nos tempos primitivos, não ultraja nossos ouvidos falando da amplitude em termos expressos, mas prefere deixá-la ser inferida pelo leitor. Deus mais tarde aplicou a sanção de lei à proibição, estabelecendo: "Quem toma sua irmã, filha de seu pai, ou de sua mãe, e mostra sua nudez, comete abominação, deverá ser morto. Aquele que descobre a nudez de sua irmã, deverá pagar seu pecado".

CAPÍTULO XVIII
 
Há coisa que, em sua extrema ignorância, você nunca leu e, portanto, você negligenciou toda a imensidade da Escritura e usou sua maldade para ultrajar a Virgem, como o homem da história que sendo desconhecido de todo mundo e achando que poderia tramar um mau ato pelo qual ganhasse renome, incendiou o templo de Diana; e quando ninguém revelou o ato sacrílego, diz-se que ele próprio apareceu e se proclamou como aquele que nele pusera fogo. Os administradores de Éfeso ficaram curiosos em saber o que o levara a agir de tal modo, quando então ele respondeu que se não tinha fama por boas obras, todos poderiam lhe dar crédito por uma má. A história grega relata o incidente.



Mas você fez pior. Você pôs fogo no templo do corpo do Senhor, você aviltou o santuário do Espírito Santo, do qual se propôs a fazer gerar um grupo de quatro irmãos e uma porção de irmãs. Numa palavra, juntando-se ao coro dos judeus, você diz: "Não é este o filho do carpinteiro Não é sua mãe chamada Maria? E seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram todas conosco?". A palavra "todas" não seria usada se não houvesse um grande número delas. Rogo-te: diga-me quem, antes de você surgir, tinha conhecimento desta blasfêmia? Quem imaginou essa teoria digna de dois centavos? Você obteve seu propósito e se tornou notório por um crime. Pois eu mesmo que sou seu oponente, embora vivamos na mesma cidade, eu não o conheço como o autor disso, não sei se você é branco ou negro.
Omito as faltas de dicção que abundam em todos os livros que escreveu. Não digo nada sobre sua introdução absurda. Bons céus! Eu não procuro eloqüência, embora você mesmo não a tenha; você contou para isso com a ajuda de seu irmão, Cratério. Eu não procuro graça e estilo, mas busco pureza de alma, porque entre cristãos é o maior dos solecismos e dos vícios de estilo fundamentar algo na palavra ou ação. Chego à conclusão de meu argumento. Concordarei com você em que eu não ganhei nada; e você se encontrará num dilema.
É claro que os irmãos de Nosso Senhor usaram o nome da mesma maneira como José era chamado seu pai: "Eu e teu pai te procurávamos preocupados"; foi Sua mãe que disse isso, não os judeus. O Evangelista relata que Seu pai e Sua mãe ficaram admirados com as coisas que se falavam a Seu respeito, e há uma passagem semelhante, que já citamos, na qual José e Maria são chamados Seus pais. Sabendo que você tem sido louco o bastante para se persuadir que os manuscritos gregos estão corrompidos, agora você talvez alegue a diversidade de interpretações.
Então procuro o Evangelho de João e ali está claramente escrito: "Filipe encontrou Natanael, e lhe disse, nós encontramos aquele de quem Moisés na lei, e os profetas escreveram, Jesus de Nazaré, o filho de José". Você encontrará certamente isso em seu manuscrito. Agora me diga: como Jesus é filho de José quando está claro que Ele fora gerado pelo Espírito Santo? Era José seu verdadeiro pai? Obtuso como você é, não se aventurará a dizer isso. Era seu suposto pai? Se era, que a mesma regra que você aplica a José, seja aplicada àqueles que eram chamados irmãos, assim como você chama José de pai.

PARTE IV: 
O estado virginal é superior ao estado matrimonial

CAPÍTULO XIX
 
Agora que ultrapassei as pedras e encolhos, devo me por ao largo e ir a toda velocidade para chegar ao destino. Você, se sentindo uma pessoa sem conhecimentos, usou Tertuliano como sua testemunha e citou as palavras de Vitorino, bispo de Perávio. De Tertuliano não direi senão que não pertenceu à Igreja. Mas com respeito a Vitorino, afirmo que já ficou provado pelo Evangelho - que ele falou dos irmãos de Nosso Senhor não como sendo filhos de Maria, mas irmãos no sentido que expliquei, ou seja, irmãos sob o ponto de vista de parentesco, não de natureza.
Estamos, contudo, desperdiçando nosso percurso com ninharias e deixando a fonte da verdade, estamos seguindo insignificantes pontos de opinião. Não deveríamos arrolar contra você toda a série de escritores antigos? Inácio, Policarpo, Irineu, Justino Mártir e muitos outros homens apostólicos e eloqüentes, que expuseram as mesmas explicações contra Ebião, Theodoto de Bizâncio e Valentino, escreveram volumes repletos de conhecimentos. Se você alguma vez lesse o que eles escreveram, você se tornaria um homem sábio. Mas eu penso que é melhor refutar brevemente cada ponto do que prolongar meu livro por uma extensão indevida.

CAPÍTULO XX
 
Agora dirijo meu ataque contra a passagem na qual, desejando mostrar seu talento você faz uma comparação entre virgindade e casamento. Eu não poderia deixar de rir, e penso no provérbio: viu você alguma vez uma dança cautelosa?
Você pergunta: "São as virgens melhores do que Abraão, Isaac e Jacó, que foram casados? Não são as crianças diariamente moldadas pelas mãos de Deus no útero de suas mães? E se assim é, somos constrangidos a nos ruborizarmos pelo pensamento de Maria tendo um marido depois do parto? Se julgam que há alguma desgraça nisto, não deviam coerentemente acreditar que Deus nasceu da Virgem por parto normal. Porque de acordo com esses, há mais desonra numa virgem dando à luz a Deus pelos órgãos geradores, do que numa virgem que se juntou a seu próprio esposo depois que deu à luz".
Acrescente, se quiser, Helvídio, as outras humilhações da natureza, o útero de nove meses se tornando cada vez maior, a doença, o parto, o sangue, os cueiros. Imagine você mesmo o menino envolto na placenta. Imagine a dura manjedoura, o choro do menino, a circuncisão no oitavo dia, o tempo de purificação, de modo que possa ficar comprovado que tudo era impuro. Não enrubescemos, você não nos impõe silêncio. Maior humilhação Ele sofreu por mim, a maior que o atingiu. E quando você tiver dado todos os detalhes, não estará apto a apontar nada mais vergonhoso do que a cruz que confessamos, na qual acreditamos e pela qual triunfamos sobre todos nossos inimigos.

CAPÍTULO XXI
 
Mas como não negamos o que está escrito, assim também rejeitamos o que não está escrito. Acreditamos que Deus nasceu de uma Virgem, porque lemos assim. Não acreditamos que Maria teve união marital depois que deu à luz porque não lemos isso. Nem afirmamos tal para condenar o casamento, porque a virgindade é o fruto do casamento; mas porque quando estamos tratando de santos não devemos julgar apressadamente. Pois se adotássemos a possibilidade como padrão de julgamento, poderíamos sustentar que José teve várias esposas porque Abraão teve, e também Jacó, e que aqueles que eram irmãos do Senhor nasceram daquelas esposas, uma criação imaginária que alguns sustentam com uma temeridade que nasce da audácia e da piedade.
Você diz que Maria não continuou virgem. Eu brado ainda mais que José, ele mesmo, aceitou que Maria era virgem, de modo que de um casamento virgem nasceu um filho virgem. Porque se, como um homem santo, ele não se apresentou com a acusação de fornicação, e está escrito que ele não teve outra esposa, mas foi o guardião de Maria, aquela que foi tida por sua esposa mas não ele por seu marido; a conclusão é que aquele que foi julgado digno de ser chamado pai do Senhor, permaneceu casto.

CAPÍTULO XXII
 
E agora que vou fazer uma comparação entre virgindade e casamento, rogo a meus leitores para não suporem que louvando a virgindade, tenho em menor grau o casamento, e discrimino os santos do Antigo Testamento com relação àqueles do Novo, isto é, aqueles que tinham esposas daqueles que se mantiveram livres dos laços de mulheres; antes, penso que de acordo com a diferença de tempo e circunstâncias, uma regra foi aplicada aos primeiros, uma outra a nós, sobre quem sobrevirá o fim do mundo.
Tanto que continua vigorando a lei : "Sede férteis e multiplicai-vos e povoai a terra"; e: "Amaldiçoada é a mulher estéril que não gerou semente em Israel"; elas todas que casaram e foram dadas em matrimônio, deixaram pai e mãe, e se tornaram uma só carne.
Mas de repente com a força do trovão se fizeram ouvir essas palavras: "O tempo está se acabando, em que doravante aqueles que têm esposas sejam como se não tivessem"; aderindo ao Senhor, nós somos feitos um espírito com Ele. E por quê?
Porque "aquele que é solteiro está preocupado com as coisas do Senhor, de modo que poderá agradar ao Senhor; mas aquele que é casado está preocupado com as coisas do mundo, do modo como agradará a sua esposa. E aqui está a diferença também entre a esposa e a virgem. Aquela que é solteira está preocupada com as coisas do Senhor, porque será santa tanto no corpo como no espírito; mas aquela que é casada, está preocupada com as coisas do mundo, do modo como agradará a seu marido".
Por que você sofisma? Por que resiste? O vaso de eleição disse isso. Disse-nos que há uma diferença entre a esposa e a virgem. Observe qual deva ser a felicidade daquele estado no qual mesmo a distinção de sexo desaparece. A virgem não é mais chamada mulher. "Aquela que é solteira está preocupada com as coisas do Senhor, de modo que é santa no corpo e no espírito".
A virgem é definida como aquela que é santa no corpo e no espírito, porque não é bom ter uma carne virgem se a mulher se põe casada no espírito. "Mas aquela que é casada está preocupada com as coisas do mundo, do modo como agradará a seu marido". Julga você que não há diferença entre uma que gasta seu tempo em oração e jejuns daquela que se sente impelida, ao aproximar-se seu marido, a arranjar sua aparência, andar com passos afetados, e demonstrar atos de carinho?
O objetivo da virgem é aparecer menos faceira; ela quer se guardar de modo a esconder suas atrações naturais. A mulher casada tem seu pincel preparado ante seu espelho, e em desacordo com seu Criador, esforça-se para adquirir algo mais do que sua beleza natural. Então lhe chegam as conversas de seus filhos, o barulho da casa, as crianças buscando sua palavra e pedindo seus beijos, a lista das despesas, o cuidado para acertar as despesas. De um lado você a vê na companhia dos cozidos, cercada de gritos e preparando o alimento; você ali ouve o barulho de uma multidão de fiandeiras. Enquanto isso, chega uma mensagem que o marido e seus amigos estão chegando. A esposa, como uma andorinha, voa por toda a casa. Ela deve cuidar de todas as coisas. Está o sofá arrumado? Está o piso varrido? Estão as flores nas jarras? E o jantar está pronto?
Diga-me, rogo-lhe, onde entre tudo isso há lugar para pensar em Deus? São essas casas tranqüilas? Onde há as batidas do tambor, o barulho e a algazarra do órgão e do alaúde, o tinir dos címbalos, pode se encontrar alguma preocupação com o temor de Deus? O parasita é repreendido e se sente orgulhoso da honra. Entram depois as vítimas meio despreparadas para as paixões, uma referência para todo olhar lúbrico. A infeliz esposa ou deve achar prazer neles e perecer, ou ficar desgostosa e provocar seu marido. Disso surge a discórdia, a semente conspiratória do divórcio.
Ou suponha que você encontre uma casa onde essas coisas são desconhecidas, o que acontece em pequena proporção! Contudo, mesmo ali, o desempenho do dono da casa, a educação das crianças, as necessidades do marido, a correção dos servos, não falham em afastar a mente do pensamento de Deus. "Deixou de ficar com Sara como se fica com as mulheres" - assim diz a Escritura, e mais tarde Abraão recebeu a ordem: "Presta atenção em tudo o que Sara te disser". [Porque] ela não está tomada de ansiedades e dor de parto e, tendo passado pela mudança de vida [sexual], deixou de exercer as funções de uma mulher, estando liberta do esquecimento de Deus; não tem desejo por seu marido, mas, pelo contrário, seu marido se torna sujeita a ela, e a voz do Senhor lhe ordena: "Presta atenção em tudo o que Sara te disser". Então, começam a ter tempo para rezar. Porque enquanto demorou a ser pago o dever do matrimônio, a determinação de rezar foi negligenciada.

CAPÍTULO XXIII
 
Não nego que se encontram mulheres santas entre as viúvas e aquelas que têm marido; mas se tornam santas logo que deixam de ser esposas, ou se no estrito dever do matrimônio imitam a castidade virginal. O Apóstolo, como se Cristo falasse por sua boca, brevemente deu testemunha disso quando disse: "Aquela que é solteira está preocupada com as coisas do Senhor, como poderá agradar ao Senhor; mas aquela que é casada está preocupada com as coisas do mundo, como poderá agradar a seu marido".
Ele nos deixa ao livre exercício de nossa razão a esse respeito. Não determina obrigação a ninguém nem induz alguém em cilada; somente persuade àquilo que é próprio quando deseja que todos os homens sejam como ele mesmo. Não emitiu, é verdade, um mandamento do Senhor a favor da virgindade, porque essa graça sobrepuja o poder do homem desassistido, e seria usar um ar de imodéstia forçar os homens a se porem a voar em face de sua natureza, e dizer em outras palavras: "Quero que você seja como são os anjos do céu". É essa angélica pureza que assegura à virgindade a mais alta recompensa, e o Apóstolo poderia parecer desprezar um sistema de vida que não é culposo.
Não obstante, no contexto a seguir diz: "Mas presto meu julgamento como alguém que obteve misericórdia do Senhor para ficar fiel. Penso, portanto, que isso é bom em razão da atual aflição, ou seja, que é bom para um homem ser como ele é". O que quer dizer com "a atual aflição"?
"Haverá aflição para aqueles que tiverem crianças e para aquelas que amamentarem naqueles dias!" A razão por que a madeira cresce é que poderá ser cortada. O campo é semeado porque poderá ser segado. O mundo está já repleto, e a população está demasiado grande para a terra. A cada dia somos dizimados pela guerra, levados pelas doenças, tragados pelos naufrágios, embora continuemos a levar alguém a juízo por causa dos muros de nossa propriedade.
É somente uma adição à regra geral que é feita por aqueles que seguem o Cordeiro, e que não desvestiram seus ornamentos, que continuam em seu estado de virgindade. Preste atenção ao significado de desvestir. Eu não me aventuro a explicá-lo, por medo de que Helvídio possa se tornar abusivo.
Concordo com você, quando diz que algumas virgens não são senão mulheres de taverna; digo ainda mais, que mesmo o pecado do adultério pode ser encontrado entre elas, e você ficará sem dúvida mais surpreso de ouvir que alguns do clero são taberneiros e alguns monges não são castos. Quem não entende logo que uma mulher de taverna não persistirá virgem, nem adúltero um monge, nem taberneiro um clérigo? Exigiremos virgindade se a virgindade corrompida é um pecado?
De minha parte, me omitindo das outras pessoas, e tratando dos castos, afirmo que aquela que trabalha como vendeira, embora sem provas, poderá ser virgem no corpo, porém não mais será casta em espírito.

PARTE V: Conclusão

CAPÍTULO XXIV
 
Eu me tornei retórico e agi um pouco como orador de plataforma. A isso me levou você, Helvídio; porque, da forma lúcida como brilha o Evangelho atualmente, você quer que se dê uma glória igual à virgindade e ao estado matrimonial. E porque penso que, sentindo a verdade muito forte, você virá aviltar minha vida e abusar de meu caráter (este é o modo das mulheres fracas cochicharem nos cantos quando são repreendidas por seus senhores), vou me antecipando a você:
- Asseguro que darei atenção às suas injúrias como a uma elevada distinção, uma vez que os mesmos lábios que me atacam aviltaram Maria, e eu - um servo do Senhor - sou favorecido com a mesma brava eloqüência de Sua mãe.

Final do Tratado do celebre São Jerônimo (A Virgindade Perpétua de Maria)


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