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segunda-feira, 14 de maio de 2012

FILME "LUTERO" - 23. LUTERO ENTREGA O NOVO TESTAMENTO AO ELEITOR DA SAXÔNIA, FREDERICK


Em mais um momento mágico do filme, o jovem reformador entrega candidamente ao eleitor da Saxônia um grosso volume do Novo Testamento em alemão, para delírio do príncipe. O diálogo que se segue então sugere que a Igreja escondia a Escritura e a utilizava para dominar o povo. Nada mais falso. Sabemos que à época de Lutero já havia várias versões da Bíblia em alemão: 

"(...) Os primeiros fragmentos bíblicos vertidos para o baixo-alemão ascendem ao século VIII. 





No século IX encontramos a tradução dos Salmos e a composição das Biblias historiaes que tornavam mais acessível ao povo o conteúdo histórico dos dois Testamentos. No século XI, um monge de S. Gall, Nokter Labeo (m. 1022) e um abade  de Ebersberg, Villiram (m. 1085) dão-nos novas traduções de vários livros do A.T.  
Estas traduções parciais tornam-se mais freqüentes com o tempo e é certo que nos primeiros anos do século XV, antes da invenção da imprensa, já existia em língua vulgar uma versão integral da Bíblia. A invenção dos tipos facilitou extraordinariamente a difusão dos livros 
sagrados. Antes de 1477 já se haviam impresso 5 edições da Bíblia (Mogúncia, 1472; Strassburgo, 1466, (duas) Nuremberg, 1470; Augsburgo, 1475). De 1477 a 1522 saíram mais 9 edições (7 em Augsburgo, 1 em Nuremberg, 1 em Strassburgo). Nesta mesma época publicaram-se mais 4 edições completas da Bíblia, em baixo-alemão. (Colônia (duas) 1480; Lubeck,1494; 
Halberstadt, 1522). Da Vulgata, - e o latim era então língua acessível à maioria das pessoas instruídas - até 1500 já se haviam tirado quase 100 edições. (...)" (Franca, CP: 205-206) 

Poderíamos provocar um pouco mais: será que nessa versão luterana do Novo Testamento se conservara a Epístola de  
São Tiago? A pergunta é pertinente, pois Lutero não considerava o livro como parte do cânon! Já na disputa com Eck o rebelde fora obrigado a recusar o livro que mais lhe atrapalhava: "Quanto aos textos que se poderiam opor à sua doutrina [de Lutero], notadamente a Epistola de São Jacques (SãoTiago), são, diz ele, contrários à verdade divina, conseqüentemente apócrifos." (Brentano: 64) 
   
Pois com relação à composição da Bíblia, Lutero não tinha critérios nada objetivos. Ele fez do sentimento religioso o critério para decidir que livros pertencem à Bíblia, quais são duvidosos e quais devem ser excluídos. Ao mesmo tempo, ele praticamente abandona o conceito de inspiração (...) (Grisar: 263-264) 

Convém também ilustrar com um exemplo quão vago era o conceito de cânon bíblico para Lutero: "... certa vez ele disse que a obra Loci Communes de Melanchthon era tão bem feita que merecia fazer parte da Bíblia (sic!) (Grisar: 207) 

Mesmo o incensado protestante arnack verá “flagrantes contradições” na postura arbitrária de Lutero em relação à Bíblia. (Grisar: 264) 

Ainda em relação ao cânon Bíblico, Lutero aplicava esse critério subjetivo como lhe aprazia: “A
Epístola aos Hebreus foi posta de lado como “uma epístola fabricada a partir de fragmentos entre os quais há madeira, feno e palha.”Epístola de São Judas Apóstolo é classificada como inferior aos livros principais [da Bíblia].” O Apocalipse ele tinha como “nem apostólico nem profético” (...)“A Epístola de São Tiago “justifica as [boas] obras” e comparada com outros livros da Bíblia, que [conforme Lutero] claramente proclamam a doutrina da justificação somente pela fé, é “uma epístola de palha”, que não tem “nada evangélico nela.” (Grisar: 426) 

Eis o respeito luterano pela Escritura Sagrada! Lutero, que gritava: A Bíblia, só a Bíblia!

E sabemos também que havia muitos problemas na tradução luterana da Escritura, que o filme nem de longe faz supor: "Convém observar que Lutero não se ateve de modo algum à letra e à interpretação gramatical do texto escrito; serve-se da letra quando esta é por ele e contra os outros, por exemplo, contra os suíços. Quando não é por ele, continua seguro de si e sabe o que deve estar na Escritura. É bem conhecido com que liberdade submete à sua censura cada um dos livros sagrados e lhes aquilata o valor pela harmonia com a sua doutrina, chegando até a ajudar o texto quando não lhe parece oferecer com a necessária decisão a pura doutrina da justificação só pela fé." (F. Paulsen, Geschichte desGelehrten Unterrichts, t. I, 2a. ed. pp. 206-207; apud Franca, CP: 212) Por isso essa obra do pseudo-reformador provocou naturalmente muitas críticas.“

A mais grave acusava-ode ter numa das passagens importantes, ajuntado ou suprimido uma ou outra palavra de modo a fazer do texto um apoio às doutrinas do tradutor sobre a graça, o livre arbítrio e a outras que lhe inundavam o coração.” (Brentano: 180) 

O filme tão pouco revela quanto Lutero devia à Igreja:"Quanto à Sagrada Escritura e ao púlpito, é dos papistas que os tomamos; sem os papistas que saberíamos nós?Ed. de Wirt, 1551, t. IV, p. 2276;apud Franca, CP: 157).Também se dizia que a interpretação luterana fora baseada em grande parte no famoso exegeta medieval Nicholas de Lyraque se distinguia em sua época pela excelência na interpretação da Escritura. Donde surgiu a frase:
“Si Lyra non lyrasset, Lutherus non saltasset. (se Lyra (lira) não tocasse, Lutero não teria dançado)” 
(Grisar: 429-430) Curiosamente o forjador do livre-exame irá afirmar posteriormente que a
Bíblia era de difícilinterpretação
, e que, portanto, a
única interpretação válida era a dele
!
“Então, para
evitar anarquiateológica
, ele [Lutero] forja uma autocontraditória demanda para que
a interpretação da escola deWittemberg 
, i.e., seu próprio tribunal, seja sempre seguido.” 
(Grisar: 429) Convém notar que para demolir a autoridade da Igreja, antes Lutero se expressava de modo bem diverso:
“ 
a todos os cristãos e a cada um em particular pertence conhecer e julgar a doutrina
. Anátema aquem lhes tocar um fio deste direito.” 
(tratado contra
Henrique VIII 
, em 1522). (Franca, IRC: 231) Eis o livre-exame luterano... Os defensores de Lutero gabam-se ainda da contribuição do pseudo-reformador à língua alemã,particularmente na tradução da Bíblia.Porém, deixam de revelar também que
a linguagem vulgar 
de Lutero
“levou a uma certa corrupção dalíngua alemã (...)” 
dada a difusão das suas obras e a promoção de sua causa como benéfica à Alemanha(Grisar: 485) Por fim convém notar que Lutero exaltava a Bíblia quando disputava com os Católicos. Quando, porém, lhemostravam os textos que se opunham às suas inovações, se desfazia da mesma Bíblia como se fosseuma
“escrava, que se devia deixar para ater-se a Cristo, rei e Senhor da Escritura.” 
(Franca, IRC:258) A Bíblia, prezados leitores, só a Bíblia!


Índice - Filme Lutero

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