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domingo, 13 de maio de 2012

FILME "LUTERO" - 3. A VISITA OFICIAL A ROMA



Aqui temos, não uma omissão, mas uma das claras inverdades do filme: que Lutero teria ido a Roma por ordem de seu superior-geral – Staupitz. De fato, Lutero foi a Roma contra Staupitz, como representante do mosteiro de Erfurt.

Staupitz queria unir os mosteiros observantes (da regra) e os conventuais, e Lutero foi enviado a Roma contra essa união, que acabaria por prejudicar a causa dos observantes. Portanto, Lutero foi a Roma contra Staupitz. (Grisar: 51-52)

Aliás, esse é o motivo do fracasso de sua viagem: o caráter não oficial de sua demanda, que – para ser aceita – exigiria uma carta do próprio Staupitz. Por isso, Lutero não foi recebido em Roma pela Cúria papal. (Grisar: 53)

Talvez tenha ficado difícil encaixar no roteiro o conflito entre os dois religiosos, já que o filme tem que mostrá-los amigos. Talvez fosse difícil explicar por que Lutero foi a Roma sem motivo justificado, já que a petição que carregava só poderia ter sido aceita caso fosse realmente enviado por Staupitz



E aí seriam muitas perguntas a responder: quem de fato mandou Lutero a Roma?

Com que finalidade, já que não era uma missão oficial?

Será que é coincidência Florença estar no caminho de Roma? Florença, que sediava a famosa Academia Platônica de Marcilio Ficino, e onde talvez Lutero tenha lido o pseudo-Hermes Trismegisto, de cuja obra ele depois demonstrará ter domínio completo?

Seriam muitas perguntas a responder, mais fácil dizer que foi uma missão oficial…

E convém também mostrar que de inocente Staupitz nada tinha. Por isso ele é o único católico que não foi demonizado pelo filme.

Grisar mostra que Staupitz ficou ao lado de Lutero mesmo após sua condenação pela Igreja, apesar de creditar isso a uma visão curta do superior. E que Staupitz também elogiou a coragem de Lutero, mesmo nos períodos críticos que antecederam a apostasia. (Grisar: 69)

Em 1518, o agostiniano Della Volta recebeu a missão do Papa de fazer com que os superiores de Lutero o dissuadissem de suas idéias. Staupitz, mesmo pressionado, nada fez (Grisar: 95). 

Ora, por que o filme também não mostrou essa teimosia do superior, incompatível com uma visão tenebrosa e tirânica da Igreja medieval?

E mesmo após a excomunhão e a revolta aberta, Staupitz protegeu e justificou o pupilo nesses termos: “Martim tomou sobre si uma difícil tarefa e age magnanimamente, iluminado por Deus” (Grisar: 171) 

Llorca é mais expresso: Leão X mandou que o superior agostiniano contivesse o monge impetuoso, mas “como Staupitz era um de seus principais protetores e admiradores, esta medida da cúria romana não teve resultado.” (Llorca: 669)

É isso que explica Lutero reclamando ter sido abandonado, quando Staupitz finalmente começou a deixá-lo por pressões da Igreja:

“Você me vira as costas muito freqüentemente. Como seu filho favorito isso me fere de modo intenso. (…)” (Grisar: 120)

Parece que no final da vida, depois de contribuir sobremaneira para a revolta de Lutero, Staupitz rejeitou o pupilo e morreu Católico, em 1524 (Grisar: 178)

Fidelium animae per misericordiam Dei requiescant in pace.





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