Diga não ao aborto |
No dia 1º de dezembro aconteceu Santuário da Divina Misericórdia, promovido pela Casa Pró-vida Mãe Imaculada, o Seminário de Biopolítica, com a presença do Padre Paulo Ricardo. Na ocasião, o Padre foi entrevistado pessoalmente pelo Jornalista Jônatas Dias Lima, da Gazeta do Povo. Segue a entrevista na íntegra:
O sacerdote é famoso no meio religioso por seus cursos e palestras online, mas também vem se destacando numa série de debates sociais, envolvendo políticas para a família e a proteção da vida desde a concepção. Sua atuação nesses temas já lhe valeram alguns convites para falar em audiências públicas na Câmara dos Deputados e no Senado.
Na conversa que tivemos, o Padre falou abertamente sobre os conflitos (ou supostos conflitos) dentro do movimento pró-vida, sobre as estratégias dos promotores de políticas contrárias à família e do que falta aos brasileiros na luta por valores inegociáveis:
1) O senhor esteve na Câmara dos Deputados em outubro e defendeu que as mudanças sociais que ocorrem na família e que têm embasado muitas políticas públicas não são espontâneas, mas sim estimuladas por várias agentes claramente identificáveis. Para muitos, isso soa como teoria da conspiração. Como responde a essa crítica?
Tudo aquilo que está sendo feito para destruir a família não pode ser teoria da conspiração pelo simples fato de que ações livres repetidas sistematicamente na mesma direção não podem ser fruto de mero acaso. Quando você ganha na loteria uma vez é acaso. Se você ganha duas vezes é sortudo. Mas, se você ganha na loteria toda semana, está trapaceando. Qualquer pessoa inteligente compreende que há sempre uma inteligência por trás de ações que mostram um propósito, uma finalidade. Portanto, não é possível que, numa humanidade em que os instintos das pessoas levem automaticamente ao afeto familiar e aos laços familiares, um repentino esforço realizado por boa parte da comunidade acadêmica mundial para acabar com a família enquanto instituição seja fruto do mero acaso. Não pode ser.
Além disso, a gente vê que as investidas são feitas com método, foram previamente escritas em livros. Essa estratégia foi pensada, premeditada. Nós temos abundante bibliografia onde as pessoas dizem: “faremos isto”. Mas quando a coisa está feita as pessoas dizem: “é teoria da conspiração”. Não faz sentido.
Por exemplo, existe um casal de pedagogos socialistas na Suécia, cujo sobrenome é Myrdal, que escreveram na década de 60 um livro em que eles propõem abertamente que se eduquem as crianças, desde a mais tenra idade, para uma sociedade em que não haja mais família, porque só assim haveria igualdade.
Desde Karl Marx há quem ataque a família como fonte de desigualdade. Depois, o marxismo se dividiu em duas correntes. O marxismo leninista, que procurou fazer a revolução de forma armada, e o marxismo cultural, que nós conhecemos mais como socialismo. Esse marxismo cultural vê que não é possível fazer uma revolução cultural e igualitária, tão querida pelos marxistas, sem que se faça antes uma profunda transformação cultural do ocidente. Essa corrente está convencida, desde o princípio, de que uma das intuições básicas de Marx é que não haverá igualdade enquanto a família estiver de pé.
Isto está presente no pensamento do próprio Marx e de Engels no livro “Origem da Família, do Estado e da Propriedade”, aparece no pensamento do casal de pedagogos suecos, como também em muitos outras produções, como, por exemplo, no pensamento de autores que não são conhecidos popularmente como marxistas, tais como Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre.
Toda a ideia defendida por Simone de Beauvoir, de que não se nasce mulher: se torna mulher, está fundamentada exatamente nessa ideia, de que a feminilidade é um constructo social, e que essa construção do feminino é que irá remodelar a identidade da família. A chamada terceira onda do feminismo, toda ela marxista, é assumidamente uma onda que visa à destruição da família.
Há ainda os livros das feministas Butler ou Firestone. Enfim, a bibliografia disponível é maior do que aquilo que pode ser citado. É possível fazer uma lista de pelo menos trinta livros que seguem todos na mesma direção. Então, não é possível que seja uma coisa espontânea. Todos eles dizem claramente “estou fazendo isso de propósito”, e aí, quando você chama atenção, você é que é o teórico da conspiração?
2) É famosa sua atuação em debates sobre temas sociais, mas o fato de ser padre não o atrapalha? Fora dos ambientes católicos, o senhor não é alvo de discriminação por dizer o que diz?
A primeira coisa a constatar quanto a isso é que aqueles que são hostis à família e à vida não querem debater, eles fogem dos debates. E fogem porque sabem que não têm razões, sabem que a população encontra em pessoas como eu, que defendem a família, uma espécie de porta-voz.
O Brasil é uma sociedade com valores razoavelmente conservadores. Isso não sou eu quem está dizendo, há uma pesquisa do Datafolha divulgada recentemente que mais uma vez comprovou isso, foi publicada em 11 de outubro de 2013. O problema é que o Brasil sofre de uma doença chamada maioria silenciosa. Ou seja, a maioria tem essas posições conservadoras, mas não encontra na classe falante alguém que as represente.
Quando alguém verbaliza o que essa maioria silenciosa pensa, a maioria silenciosa se reconhece naquele discurso. Aí, os revolucionários, que são minoria, se sentem desmascarados, por isso eles evitam o confronto. Porque sabem que a plateia vai se posicionar, instintivamente, do lado daquele que representa o discurso da maioria conservadora.
Então, qual é a única alternativa que resta a eles?
Encontrar uma acusação moral, psiquiátrica ou política para denegrir a fama daquela pessoa [porta-voz da maioria], apelam para um argumento ad hominem para dizer assim: “vejam, essa pessoa não presta e, se ela não presta, seus argumentos não devem ser seguidos”.
Quando não conseguem convencer as pessoas através disso, então eles tentam evitar o confronto, pelo menos em público. Por que a técnica que eles usam no público em geral é a chamada espiral do silêncio: se você tem um porta-voz isolado que verbaliza a posição da maioria ‒ esse porta-voz facilmente será neutralizado ‒ se o mantiverem isolado. Se debaterem com ele: estão dando publicidade; se entrarem numa polêmica: estão dando palco para aquela opinião que querem silenciar. Por isso essas pessoas não debatem mais.
3) Recentemente, a discussão em torno do PLC 03/2013 (que expande o acesso ao aborto em casos não puníveis) dividiu o movimento pró-vida, porque alguns grupos achavam que o veto parcial seria suficiente, outros exigiam o veto total, entre os quais o senhor se encontrava. No fim das contas, a presidente Dilma não ouviu nenhum dos lados e não vetou nenhum ponto do projeto. Por que houve essa divisão?
A divisão do movimento pró-vida é aparente, porque a maioria esmagadora foi a favor do veto total. O que acontece é que existem algumas pessoas e instituições que têm acordos palacianos, ou seja, preferem desgastar o mínimo possível a imagem do partido governante, que é quem está impondo essa política a favor do aborto.
É claro que algumas pessoas de boa vontade podem ser seduzidas por esse tipo de discurso, porque é mais conciliador, mais pacifista, menos desgastante. Mas a maioria está entendendo perfeitamente que essa posição supostamente mais amena se trata somente de apoio político, uma tentativa de não desgastar um partido que é, na realidade, aquele que mais fez pela implantação do aborto na história do país.
4) Gostaria que o senhor se aprofundasse mais nessa questão sobre a diferença de método que me parece haver dentro do movimento pró-vida. Alguns optam pelo enfrentamento direto da chamada “cultura da morte”, denunciando instituições e pessoas que contribuem para o avanço dessa agenda. Outros são menos incisivos e defendem uma aproximação maior com a classe política, por exemplo, debatendo mais do que denunciando. Qual o melhor caminho e por quê?
Os dois métodos não se excluem. É evidente que quando é possível uma composição [do movimento pró-vida com a classe] política, ela é preferível, mas há momentos em que isso simplesmente não é possível.
No caso da PLC 03, que agora é Lei 12845/2013, nós estamos diante da possibilidade real de que vidas humanas passem a ser sistematicamente tiradas por causa desse dispositivo legal.
Já existia uma prática, desde o tempo do governo Fernando Henrique Cardoso, de se ampliar a possibilidade do aborto em caso de estupro, fazendo com que não fosse mais preciso comprovação, apenas alegando ter sido vítima.
Essa prática foi sendo aperfeiçoada em várias edições de normas técnicas, e essa norma técnica, que antes era um ato apenas do executivo, agora recebeu uma coloração de legalidade, através dessa Lei 12845.
As pessoas do movimento pró-vida que querem tentar conciliar as coisas a qualquer custo dizem que não é nada disso, e que a norma técnica e a lei não tem nada a ver. Mas se você pegar o índice da norma técnica e os artigos da lei, vai notar uma admirável coincidência. Não somente no seu conteúdo, mas até mesmo na ordem em que o conteúdo está disposto. Recusar-se a enxergar isso é um bom-mocismo criminoso. É uma tentativa de conciliação política, quando não é possível essa conciliação política.
Então, é evidente que o caminho político é sempre preferível, é sempre melhor dialogar, conciliar, compor, do que enfrentar. No entanto, quem decide qual dos dois métodos deve ser usado não somos nós, mas a realidade dos fatos.
5) Com base nos anos em que passou nos Estados Unidos, em que o movimento pró-vida no Brasil pode melhorar?
Nos Estados Unidos existe uma consciência de que todo o cidadão deve atuar politicamente. Eu me lembro, por exemplo, de estar visitando um amigo meu que é padre perto de Chicago, em Ilinois, e na ocasião houve uma atividade dos católicos do estado inteiro que foram à capital para pressionar seus deputados e senadores estaduais.
Lá, eu participei de uma Missa com a igreja lotada, presidida pelo cardeal de Chicago, concelebrada por vários bispos e dezenas de padres, e estávamos lá para que cada católico, logo que saísse dessa missa, fosse se manifestar junto aos seus deputados e senadores por conta de algumas leis que estavam sendo propostas. Ou seja, um ato de igreja organizado.
E o melhor é que ninguém saiu gritando que o estado é laico, ninguém saiu dizendo “onde está a separação de igreja e estado?”. Sabe porquê ? Por que o católico é cidadão. O católico votou. E espera que os seus representantes defendam os valores que ele, como eleitor, tem.
Então a diferença é enorme. O católico brasileiro quando recebe a notícia de que os deputados e senadores estão votando barbaridades em Brasília, ele lamenta, coça a cabeça, diz que o mundo está acabado, fica em casa e continua rezando seu terço. Há uma desproporção descomunal entre as duas realidades.
Observação: O Seminário de Biopolítica foi promovido pela Casa Pró-Vida Mãe Imaculada (www.casaprovidami.com.br).
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sábado, 6 de setembro de 2014
ENTREVISTA DO PADRE PAULO RICARDO NO SANTUÁRIO DA DIVINA MISERICÓRDIA
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