Lutero – “…peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo”
No post anterior, falamos da infância e da juventude de Matinho Lutero, até a sua entrada no mosteiro. Lá, ele continuou sendo um devorador de livros e foi muito influenciado por Dun Scotto, São Bernardo e São Tomás de Aquino. Tiveram muito impacto sobre ele as obras de Gabriel Biel, conhecido como o último dos escolásticos, e também as obras do nem sempre bem entendido Guilherme de Occam, o doctor invencibilis, frade franciscano inglês, criador do princípio da “Navalha de Occam”.
A “Navalha de Occam” diz que a explicação mais simples é sempre a mais provável, porque a natureza tende sempre a “solucionar os seus problemas” de forma simples, elegante e simétrica. É um princípio utilizado amplamente na física moderna, e sua maior contribuição é ajudar os pesquisadores a selecionar teorias a serem desenvolvidas, entre tantas que parecem corretas. É também aplicado com extremo sucesso na matemática. E ainda dizem que a Igreja e seus pensadores medievais eram burros e inimigos da razão… Enfim. Os princípios filosóficos de Occam influenciam todo o protestantismo. O problema é usar um princípio formulado para estudar as leis da natureza dentro de discussões teológicas. É mais ou menos como tentar medir a altura de uma pessoa usando uma balança… claro que não dá certo!
Depois de um ano, Lutero proferiu seus votos como monge de Santo Agostinho. No dia 2 de maio de 1507, ele rezou sua primeira missa. Em um relato posterior, o monge pirado disse que, ao erguer a hóstia sentiu-se indigno de seu posto (um momento de simancol?).
Certa vez, teve um ataque de piti quando narrou a história do “epilético endemoniado” do Evangelho de São Marcos. Essa história inundou de tal forma a sua alma negra o fez mergulhar num estado de espírito miserável. Emergiu desse fosso imbuído de sua crença mais fanática a Sola Fide, justificada por ele pela Carta de São Paulo aos Romanos (1, 17). O “princípio da navalha” de Occam inspirou Lutero a contruir esta tese.
A Sola Fide determina que as pessoas são justificadas (regeneradas e salvas) somente pela fé, independentemente da prática das boas obras.
“Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda… Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar… Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia.”
(LUTERO, Carta a Melanchthon, 1 de agosto de 1521)
“Estas almas piedosas que fazem o bem para chegar ao céu não somente não o alcançarão, como serão arranjados entre os ímpios; e importa mais em impedi-los de fazerem boas obras que pecados.”
(LUTERO, Wittenberg, VI, 160, citado por O’Hare, in “The Facts About Luther“, TAN Books, 1987, p. 122)
Adulteração da palavra divina é dose! É preciso, cada vez mais, perseverar para salvar os protestantes. Convenientemente, Lutero se esqueceu que, na mesma Carta, São Paulo afirma que Deus “recompensará cada um conforme as suas obras” (2, 16). Só essa deturpação já seria o suficiente para mandar o dito pro colinho do canho. Além disso, ele ignorou o evangelho de São Mateus, capítulos 15 e 16, e a Carta de São Tiago também. Façam seus estudos bíblicos crianças, vão lá nas sagradas escrituras e não caiam nesse tipo de esparrela.
O “princípio da navalha” de Occam, aplicado à teologia, resultou também no esvaziamento da liturgia. Quem já entrou num templo de protestantes – basicamente, uma igreja em forma de sala de aula – vai entender isso. O Frade Occam e o seu famoso princípio estão dentro de todos os templos dos protestantes e, claro, eles nem se dão conta disso.
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Comentário dA Catequista:
Não é incorreto dizer que somos justificados somente pela fé, e não pelas nossas obras. De fato, somos aceitos por Deus pelos méritos de Cristo, e não pelos nossos méritos. Entretanto, sem estar devidamente conectada a outras verdades de fé, esta fórmula luterana – a Sola Fide – pode gerar a CONFUSÃO em uma multidão de almas, levando-as ao erro e ao inferno. Afinal, muitos podem pensar: “Já que não é pela observação dos mandamentos que somos justificados, então posso pecar à vontade. Basta crer que Jesus é o Senhor, que serei salvo de qualquer modo!”.
Ao mesmo tempo que ensina que a justificação é dom gratuito de Deus, Santa Igreja reforça que o cristão não pode e não deve ficar sem obras, pois elas são sinal e fruto da fé verdadeira. “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mateus 7, 21). Os católicos entendem que a fidelidade aos mandamentos de Deus conserva e aprofunda a amizade com Cristo, e também com base nisso seremos julgados no Juízo Final. As boas obras têm a promessa de recompensa no céu, além de, nesta vida, contribuirem para o crescimento da graça em nós.
A simplificação extrema da fórmula “somente pela fé” serve, assim, como uma arapuca para muitos cristãos. Por isso, a tese da Sola Fide foi condenada pela Igreja Católica no Concílio de Trento (século XVI). E isso vale até hoje, porém, pode-se dizer que tal condenação não se aplica mais aos luteranos atuais, ao menos àqueles que entraram em acordo com o Vaticano.
Durante muitos anos, teólogos católicos e luteranos dialogaram intensamente, buscando chegar a um consenso sobre a doutrina da justificação. O ponto central das discussões era: afinal como a pessoa decaída é resgatada e salva? Durante o papado de João Paulo II, em 1999, o Vaticano publicou a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação e um documento Anexo em que a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial declaram concordar em muitas verdades básicas, permanecendo, entretanto, algumas discordâncias.
O acordo foi visto por muitos como um grande passo para a superação das divisões entre as igrejas. O Pe. Dirceu Belotto fez um comentário no primeiro post desta série, dizendo que “Depois dessa declaração algumas comunidades luteranas voltaram ao seio da Igreja Católica”.
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Autor: Paulo Ricardo em 22/1-/2012
Fonte: O Catequista
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