Uma história autêntica e admirável |
OS JESUÍTAS |
Desde o descobrimento do Brasil uma nova força encheu de esperanças a Coroa Portuguesa, para conseguir êxito na colonização das terras descobertas. Era a força espiritual, representada pelos padres da Companhia de Jesus (Jesuítas), que apesar de recém-fundada, tinha conquistado a confiança do Rei Dom João III, que decidiu dar-lhes auxílio e proteção.
Por isso os padres jesuítas tiveram a honra de iniciar no Brasil um profundo trabalho catequético, com a ajuda da Monarquia Portuguesa. E com muita coragem e disposição dedicaram-se à conversão e evangelização das ferozes e selvagens tribos indígenas que povoavam nossa terra.
Por isso os padres jesuítas tiveram a honra de iniciar no Brasil um profundo trabalho catequético, com a ajuda da Monarquia Portuguesa. E com muita coragem e disposição dedicaram-se à conversão e evangelização das ferozes e selvagens tribos indígenas que povoavam nossa terra.
Dentre os muitos e audazes Padres que
exercitaram heroicamente o ideal cristão
em terras brasileiras, mencionamos Padre
Manoel da Nóbrega, Padre Navarro, Padre Galvão e Padre José de Anchieta, que fundaram e trabalharam ativamente nos núcleos de colonização, que hoje são notáveis e importantes cidades, como São Paulo, Vitória, São Vicente, Anchieta e muitas outras.
A preocupação inicial era formar o povoado, construindo escolas, ambulatórios, centro de catequese, a fim de facilitar a fixação e o enraizamento do índio e de sua família, inclusive procurando catequiza-los no próprio idioma indígena. Com este procedimento racional, os padres criaram condições favoráveis para que as comunidades crescessem e se ampliassem.
Entre as diversas tribos existentes, algumas eram nômades, não se fixavam por longo tempo em nenhum lugar. Por isso mesmo, mereceram uma atenção mais especial dos Jesuítas, porque não permanecendo nos povoados, ao se deslocarem para outras regiões geralmente levavam algumas pessoas que já residiam na comunidade e causavam com a partida, um certo desânimo naqueles que permaneciam. E foi assim que a perseverança admirável dos missionárias, depois de insistentes tentativas, conseguiram vencer a resistência indígena e vagarosamente foi-se observando um processo de fixação, fazendo com que eles assumissem os deveres, obrigações e regalias no povoado sabiamente orientados pelos prelados. Organizaram um esquema de trabalho permanente, que os mantinha os índios sempre ocupados, produzindo para eles mesmos e para a comunidade.
Por outro lado, felizmente aquelas revoluções religiosas que ocorreram na Europa no século XVI e causaram tanto mal, não afetaram e nem influenciaram em nada, a nascente vida religiosa brasileira. O país nasceu sob o signo da Cruz, fiel ao evangelho do SENHOR JESUS e submissa a hierarquia eclesiástica apostólica romana, e assim continua até hoje. Em 1550 foi constituída a Diocese da Bahia e em 1575 fundada a Diocese do Rio de Janeiro. Hoje, o Brasil possuí dezenas de Arquidioceses, centenas de Dioceses, dezenas de Prelazias, diversas Eparquias e mais de 10.000 Paróquias espalhadas por todo o território nacional.
Os Bandeirantes
No alvorecer do século XVIII, os povoados já apresentavam um notável crescimento e o comércio era intenso pela multiplicidade de transações, movimentando e estimulando os habitantes que buscavam a conquista e consolidação de uma boa condição financeira. Foi quando também surgiu a "febre do ouro" , uma procura nervosa e obstinada do precioso metal, alimentando a ideia e o sonho em muita gente que queriam enriquecer de qualquer maneira.
A procura sistemática e corajosa, começou com os bandeirantes que partiam de Taubaté, SP, em demanda ao interior agreste, detendo-se em muitos lugares, onde imaginavam encontrar o ouro. Andavam pelos montes verdes e rochosos, varando torrentes, escalando tombadouros, passando por divisores de água e alcançando vales imensos, nos quais renascia sempre uma esperança de êxito, de concretizar o objetivo de suas incursões, satisfazendo a ambição e a audácia.
O ciclo das esmeraldas tinha encerrado com a morte do destemido bandeirante Fernão Dias. Agora era a vez dos bandeirantes José Gomes de Oliveira e seu ajudante Vicente Lopes, que saíram do Rio Paraíba, próximo a Taubaté e foram até as nascentes do Rio Doce em Minas Gerais, à procura de ouro. Depois veio Antônio Rodrigues Arzão, que seguindo o mesmo caminho, encontrou areias auríferas no Rio Casca. Depois vieram Salvador Fernando Furtado, Carlos Pedroso da Silveira, Bartolomeu Bueno, Tomás Lopes de Camargo, Francisco Bueno da Silva e muitos outros, que atingiram o cerro Tripui, criaram o primeiro povoado de Ouro Preto e descobriram também numerosas jazidas em Mariana e no Rio das Mortes.
As minas de ouro
As notícias se espalharam ligeiras, afinal era uma surpresa agradável e prometedora que excitou as pessoas e enervou todas as regiões do Brasil Colonial. Para as minas acorreram gente de todas as classes, cores e níveis sociais, ansiosos e cheios de esperança, vislumbrando a possibilidade de ganharem muito dinheiro. As jazidas foram literalmente invadidas por homens, mulheres, crianças e idosos, que largaram empregos e propriedades, para se aventurarem na extração do ouro.
Mas no meio de tanta gente, de pensamentos e instruções tão heterogêneos, começou a acorrer o inevitável representado por mal-entendidos, discussões, provocações, as pequenas brigas e os primeiros conflitos sérios entre os mineiros antigos e os novos mineradores. O ambiente degenerou de tal modo, que culminou com brigas violentas e muitas mortes, na longa e primitiva guerra dos "Emboabas".
A partir desta época, as dificuldades aumentaram para a maioria daqueles que demandavam às minas, porque eram assaltados e roubados, perdiam as suas economias e a condição mínima para poderem viver, por isso se sujeitavam as exigências dos "aliciadores" de mão de obra, que impunham um trabalho escravo com um máximo de empenho em troca de um salário reduzido. Também os negros trazidos da África como escravos, nos famosos e detestáveis navios negreiros e chegaram ao Brasil a partir do inicio do século XVI e mais precisamente, desde o ano 1540, eram levados para as minas onde trabalhavam sem cessar, para satisfazer a gula insaciável de enriquecimento de seus patrões. Suportavam uma cruel tirania em benefício de poucas pessoas que comandavam o esquema da extração mineral.
Coroa Portuguesa
O Rei de Portugal tentou por diversas formas acabar com as brigas e criar normas para a exploração do ouro, objetivando proteger as classes menos favorecidas e garantir também a cobrança de seu imposto, que era de 1/5 sobre o total extraído, ou seja, 20% da produção global de ouro. Com este objetivo determinou que o metal fosse fundido em barras com o carimbo do Império, para serem autorizadas a sua comercialização.
Todavia, diversos fazendeiros, principalmente no interior de Minas Gerais, montaram instalações e adestraram um pessoal a fim de fazer a extração e o beneficiamento do metal, objetivando fugir do pagamento do Imposto de 20% (vinte por cento) exigido pelo Rei de Portugal. Dessa forma, eles fabricavam nas suas fundições as barras de ouro e aplicavam um carimbo do Império falsificado com tanta perfeição, que ninguém percebia e assim, comercializavam o ouro sem qualquer dificuldade.
Capitania de São Vicente
Como o quadrilátero aurífero de Minas Gerais pertencia a Capitania do Rio de Janeiro que territorialmente abrangia o atual Estado do Rio de Janeiro, Estado de Minas Gerais e Estado de São Paulo, por carta régia de 9 de Novembro de 1709, o Rei de Portugal desmembrou a Capitania em duas, mantendo a Capitania do Rio de Janeiro onde está o atual Estado do Rio de Janeiro, e a Capitania de São Vicente que abrangia os Estados de São Paulo e Minas Gerais. Os portugueses esperavam que com esta divisão, pudessem manter um maior controle sobre as minas e acabar de modo efetivo com as guerras e roubos, a fim de que o povo: escravos, brancos e índios, não fossem completamente explorados pela ganância irresistível de uma pequena classe privilegiada.
Artur de Sá foi o primeiro Governador da Capitania recém fundada de São Vicente e logo, implantou com certo sucesso uma organização na exploração do ouro, além de um severo policiamento para manter a disciplina e a ordem no garimpo. Mas na realidade, conseguiu isto por pouco tempo. A cobiça era muito grande e em conseqüência, oferecia uma perigosa margem para tramas diabólicas. Não havia fraternidade e nem piedade, uns poucos ganhavam fortunas, enquanto a maioria que realmente trabalhava, estava subjugada e escravizada. Para estes, a única solução possível, para neutralizar o peso da escravidão e aliviar os seus sofrimentos, era voltar-se para DEUS, com súplicas fervorosas, acompanhadas de muitas lágrimas e muita fé, pedindo ao CRIADOR que lhes concedessem misericórdia e justiça.
Governador da Capitania
Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, homem de poucas palavras e muito religioso, pertencia a uma das mais ilustres famílias do Reino Português, tendo realizado em ocasiões diferentes, diversos serviços para o seu país, na Europa e nas Colônias Portuguesas de Ultramar.
Nasceu em 1688, estudou artes militares e estreou muito jovem na carreira das armas, lutando na guerra de sucessão na Espanha e depois, foi encarregado de trazer de retorno à Portugal, a tropa militar Portuguesa, durante o armistício que antecedeu a assinatura do tratado de Utrech.
Em 1716 concorreu com mais oito candidatos, atendendo ao convite da Coroa Portuguesa, para provimento do cargo de Governador e Capitão Geral da Capitania de São Vicente, no Brasil, cuja área abrangia os atuais Estados de São Paulo e Minas Gerais. Venceu o concurso por suas inegáveis e admiráveis qualidades. Em 22 de Dezembro de 1716, por despacho do Rei de Portugal, Dom João V, foi nomeado para o posto, sendo o terceiro Governador na história da Capitania.
Além do título de Conde de Assumar, possuía outros: Comendador da Ordem de São Cosme e Damião de Azere, Comendador da Ordem de Cristo do Conselho de Sua Majestade, Vice-Rei das Índias, Marquês de Caste o Novo e de Alorna, Sargento Mor de Batalha de seus Exércitos.
Antes de terminar o seu mandato governamental de 4 anos na Capitania de São Vicente, no ano de 1720 desmembrou sua Capitania em duas, por causa da grandeza do território, separando São Paulo de Minas Gerais, justamente definindo as áreas que hoje são ocupadas pelos dois Estados.
O Conde embarcou em Lisboa para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em Junho de 1717.
No mês de Agosto seguiu de navio para Santos, fazendo escala em Parati, onde deixou sua bagagem, que foi transportada por terra para a Vila de Guaratinguetá. De Santos viajou para São Paulo, a fim de tomar posse na sede da Capitania, onde chegou no dia 4 de Setembro.
No dia 8 de Setembro, dedicado a celebração da Natividade de NOSSA SENHORA, mandou um emissário levar às Minas, a Certidão de sua posse.
Viagem às minas
A Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 3, de 1939, publicou nas páginas 295 a 316, o Diário completo da jornada feita por Dom Pedro de Almeida, desde o Rio de Janeiro até São Paulo, e desta cidade até as Minas em Ouro Preto e Mariana, no ano de 1717, um precioso documento descoberto no Arquivo do Governo Português, em Lisboa.
No dia 26 de Setembro de 1717, mandou outro emissário às Minas, para avisar a todos administradores de sua próxima visita. A viagem tinha como objetivo primordial conhecer e verificar as condições de trabalho nas Minas de Ribeirão do Carmo, hoje cidade de Mariana, nas Minas de São João Del Rei e de Vila Rica de Ouro Preto.
No dia seguinte, saiu de São Paulo e rumou em direção ao Vale Paraíba, parando primeiro em Mogi das Cruzes, depois em Jacareí, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba, chegando à Vila de Guaratinguetá no dia 17 de Outubro e lá permaneceu até o dia 30, esperando por sua bagagem que havia deixado em Parati para ser enviada à Guaratinguetá em tropa de animais, onde só chegou no dia 28.
Vereadores preparam um banquete
Aqui, é particularmente importante fixarmos esta data de 17 de Outubro de 1717, porque existia dúvidas sobre a data exata da chegada de Sua Excelência, o Governador da Capitania, a Guaratinguetá. A mencionada Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, publicando o Diário completo da viagem, eliminou definitivamente todas as controvérsias sobre a data.
Na véspera, a Câmara Municipal contratou diversos pescadores para trazerem uma boa quantidade de peixes, que seriam preparados para o banquete, que foi elaborado com todo o requinte, objetivando agradar o Governador e sua comitiva.
Preparativos
Estavam no anoitecer do dia 16 de Outubro de 1717 e a temperatura era agradável, com uma suave brisa que agitava as ramadas das árvores. Os pescadores fizeram seus preparativos, colocaram as canoas no Rio Paraíba e remaram em busca dos peixes, fazendo os primeiros lanços de rede no porto de José Correia Leite. Com bastante habilidade e perícia, lançavam e recolhiam a rede em diversos lugares, mas os peixes não apareciam. As horas corriam ligeiras, o relógio já marcava 23 horas, sem que as redes dos barcos espalhados em diferentes áreas, conseguissem trazer um peixe sequer. Desiludidos, quase todos os pescadores abandonaram a pescaria aproximadamente a meia-noite, certos de que aquele dia não era próprio para a pescaria, como diziam: " os peixes tinham sumido do rio". Só permaneceu um barco, com Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos e tio de João.
Porto de Itaguaçú
Já rompia o dia com o clarão dos primeiros raios de sol, e os três pescadores estavam bem distantes do local onde iniciaram a pescaria. Aproximavam-se do porto de Itaguaçu, sem que seus esforços tivessem sido recompensados com uma boa quantidade de peixes. O Rio Paraíba que era o sustento deles, nunca tinha se portado assim, tão hostil. Mas não podiam desanimar, porque precisavam do dinheiro que receberiam com a venda dos peixes. Tinham sérios compromissos à serem atendidos e também, não é todo dia que chega um visitante ilustre em Guaratinguetá para ensejar-lhes a oportunidade de comercializar muitos peixes. Era uma chance que precisava ser aproveitada. Por causa da visita do Governador da Capitania, tinham sido recomendados pelo pessoal da Câmara: "se levassem muitos peixes seriam bem remunerados".
João Alves, o mais jovem, chegou a exclamar: "será que pescaram todos os peixes do rio e esqueceram de nos avisar?" E no silêncio da madrugada só se ouvia o riso humorado dos três, que sem compreenderem o que acontecia, comentavam o fato com tranqüilidade de espírito e plena aceitação da ocorrência , sem apelações, impropérios ou qualquer manifestação rancorosa. Sem dúvida, precisavam dos peixes e lutavam tenazmente para conseguí-los, mas aceitavam com dignidade o fracasso da pescaria.
Agora estavam no porto de Itaguaçú ... O suor brotava de suas fontes morenas, queimadas pelo sol, enquanto perseverantemente insistiam na faina de lograr êxito na pescaria. E aí aconteceu o imprevisível...
Aconteceu um milagre
João Alves após lançar a rede em busca dos peixes, depara ao recolhê-la, com o corpo de uma pequena imagem de barro, sem cabeça, embaraçada nas malhas da rede. Examinou-a com cuidado e mostrou-a aos outros dois, que como ele, ficaram admirados com o achado. Envolveu-a na sua camisa e colocou-a num canto do barco. Remando um pouco mais para alcançar outra área, decidiu lançar a rede em busca dos peixes. Seus companheiros silenciosamente observavam. Outra surpresa ... Uma pequena bola de barro, bem menor que as malhas da rede, vinha embaraçada nela. Cuidadosamente removeu o lodo com a mão e viu tratar-se da cabeça da imagem! Era uma Santa feita de barro escuro... Era a imagem de uma Senhora...
Os três estavam admirados!... Como foi possível as malhas da rede reter aquela pequenina cabeça de imagem? Mas ela estava ali, desafiando as leis da física e das probabilidades, uma linda imagem escura, com feições delicadas, 39 centímetros de comprimento e pesando um pouco mais de quatro quilos. Era a Senhora "Aparecida" que surgia num véu de espumas das águas barrentas do Rio Paraíba.
Quem a teria sepultado naquele leito, adormecida em espesso lençol de água doce? Algum ladrão sacrílego que a arremessou ali envolto pelo remorso, ou para se libertar do furto sacrílego que lhe corroia a alma? Ou, quem sabe, alguma pessoa de fidelidade dúbia, que não recebendo o benefício de uma promessa que fez a DEUS, vingou-se grosseiramente, desabafando sua decepção doentia na pequena imagem, quebrando e lançando-a no rio?
Um verdadeiro mistério... Ninguém sabe como foi parar ali aquela imagem. Um fato que desafia a toda imaginação e que jamais foi desvendado, apesar de acuradas e perspicazes investigações.
A segunda peça encontrada, depois de limpa, foi também envolvida na camisa de João Alves e juntas, ficaram depositadas num cantinho do barco. Uma atmosfera de mistério cercou o espírito dos três homens... Estavam surpresos e maravilhados com o que acabava de lhes suceder. Era portanto, muito natural que existisse no íntimo de cada um, uma imensa expectativa ... E agora, o que irá acontecer? Será que nos próximos lanços, as nossas redes trarão mais alguma "novidade" para o barco?
Sem dúvida, era um grande suspense que os deixou momentaneamente pensativos e indecisos, sem palavras e sem qualquer ação. Mas, a resposta àquela indagação só poderia vir se eles fizessem novos lanços com a rede. E por isso mesmo, a decisão não se fez esperar e a rede foi atirada novamente ao rio. Repleto de expectativa e curiosidade, lentamente João Alves começou a recolhê-la, e logo de inicio observou algo anormal, um peso volumoso que a pressionava para baixo e quase arrastava o barco. Com dificuldade, os três se juntaram e puxaram a rede retirando-a do rio. Que maravilha! ... Estava repleta de peixes... Tão copiosa tornou-se a pesca, que em poucos lanços, encheu a canoa com um pescado de excelente qualidade. E tantos eram, que logo encerraram a pescaria, porque o barco já estava quase afundando com o peso.
Antes de se dirigirem à Câmara Municipal a fim de entregarem os peixes, levaram a imagem para casa, deixando-a aos cuidados de Silvana da Rocha Alves, esposa de Domingos, mãe de João e irmã de Felipe.
Significado do milagre
Foi um prodigioso milagre, análogo àquele que o Novo Testamento descreve, ocorrido nas águas do Mar de Tiberíades (Lago de Genesaré), na Galiléia. JESUS Ressuscitado, para se fazer conhecido pelos Apóstolos, mandou que lançassem a rede à direita da barca. Eles embora titubeantes atenderam ao desconhecido (porque não sabiam que era JESUS) e tiveram uma encantadora surpresa, ao verem a rede milagrosamente cheia de peixes de primeira qualidade, depois de passarem uma cansativa noite de labuta, sem terem pescado nenhum.(Jo 21,1-14)
Aqui, para nós brasileiros, a pesca milagrosa foi o sinal sensível que confirmava a presença Divina entre nós. O encontro da pequena imagem, serviu para identificar e nos lembrar a quem devemos recorrer nas dificuldades, nas angústias e tristezas que acontecem na caminhada existencial e a quem devemos direcionar as nossas súplicas para alcançarmos com mais facilidade e rapidez, a misericórdia do SENHOR.
NOSSA SENHORA, MÃE DE DEUS E NOSSA MÃE, se faz representar por aquela pequenina imagem de barro terracota, para percepção de todos e gravar indelevelmente no coração de seus filhos, sua presença amorosa, maternal e plena de carinho, no seio da nação brasileira, a fim de auxiliar e ajudar todos aqueles que necessitam de sua inefável e tão eficaz proteção.
Por outro lado, a imagem quebrada, tendo o corpo separado da cabeça, suscita em nossa mente a idéia de que o CRIADOR quer sempre restabelecer a união do CORPO (o Corpo da Igreja, todos nós cristãos) com a CABEÇA (CRISTO JESUS é a Cabeça da Igreja), recompondo a unidade CORPO-CABEÇA , que é justamente a imagem de uma pessoa normal, conforme o modelo Divino. Esse modelo é sempre quebrado pela humanidade, separando o Corpo da Cabeça, todas as vezes que as pessoas se afastam do SENHOR, ou seja, todas as vezes que praticam uma ação indigna, cometendo uma transgressão ou um delito, infligindo de alguma forma a Lei de DEUS. Em outras palavras, sempre que é cometido um pecado, as pessoas se afastam de DEUS, ou seja, elas que são parte do CORPO se separam da CABEÇA da Igreja, que é CRISTO. Por outro lado, o CRIADOR quer que busquemos a conversão do coração, procurando a nossa própria reabilitação espiritual, para adquirir a integridade moral e recompor a unidade que o pecado separou, o Corpo da Cabeça, e exatamente fazer isso por meio de NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA, porque Ela é nossa Mãe, Intercessora e Advogada de todas as causas junto ao SANTO PAI ETERNO. Ela é a luz brilhante que ilumina e inspira os nossos passos nas trevas da vida, é a poderosa e eficiente protetora contra todas as investidas do demônio, que nos auxilia e defende contra o malígno.
A cor morena da imagem também tem um significado muito profundo, porque o CRIADOR ao escolher a cor negra para representar NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA, quer simbolizar a fusão das diversas raças no território brasileiro, ensinando-nos que devemos viver harmoniosamente sem preconceitos. Assim, o culto a VIRGEM MARIA através da pequenina imagem escura, representa um sinal e garantia de libertação de "todos os escravos", dos cativos da opressão do trabalho que escraviza, dos prisioneiros do pecado e do vício, dos escravos da cor, dos escravos das bebidas e das drogas, num grito de repulsa contra o desamor, contra a falta de entendimento e contra as consciências embotadas pela discriminação e pelo racismo.
Um rústico altar
Silvana uniu a Cabeça ao Corpo da imagem com cera comum e conservou-a cuidadosamente por quase 10 anos, mantendo-a num pequeno altar na sala de sua casa, onde ela, os parentes, amigos e vizinhos, faziam orações e rezavam o Terço. Na realidade, as duas partes só ficaram perfeitamente soldadas em 1946, quando um especialista uniu-as com um pino de ouro e completou o acabamento externo.
Oratório do Atanásio
Por volta de 1726, quando Domingos e João Alves já tinham morrido e também faleceu Silvana, Felipe Pedroso o único sobrevivente, guardou a imagem. Primeiro residindo em terras de Lourenço de Sá, depois mudou-se para Ponte Alta e finalmente fixou residência no porto de Itaguaçú, onde em 1739 veio a falecer. Contudo, ainda em vida, confiou a imagem ao seu filho Atanásio Pedroso, que construiu no quintal de sua casa um pequeno e tosco oratório de madeira, onde a colocou. Ali, aos pés daquele humilde trono, aos sábados congregavam-se os parentes e o povo da cercania, derramando preces e modulando canções, testemunhando desta forma, a fé simples, mas sincera e ardorosa. Aquele foi o primeiro trono da VIRGEM APARECIDA e onde Ela começou a irradiar o seu amor e carinho, para todos que com fé e esperança, procuravam encontrar DEUS através de sua maternal proteção. E dessa maneira, ali, no porto de Itaguaçú, a imagem voltava, por assim dizer, ao local de origem, onde foi retirada das águas do Paraíba.
Nos anos que decorreram entre o encontro da imagem até a sua colocação naquele Oratório, nada de muito extraordinário foi constatado além da notável pescaria, a não ser os depoimentos de algumas pessoas que ouviram diversas vezes estranhos ruídos, como se fossem estrondos, dentro do baú onde a imagem estava guardada, como diziam: "parecia que ela não queria ficar lá dentro".
Consta também, que numa ocasião, estando Silvana com diversos amigos rezando, as duas velas de cera que ficavam ao lado da imagem, apagaram-se, sem que houvesse qualquer rajada de vento. Quando ela levantou-se para acende-las, sem que chegasse a intervir, repentinamente acenderam-se, como a confirmar a presença sobrenatural de nossa MÃE SANTÍSSIMA que acolhia prazerosamente a oração dos seus filhos.
Todavia, foi mesmo no seu pequeno trono em Itaguaçú que começou a demonstrar a grandeza de seu ilimitado amor, logo que recebeu as primeiras súplicas solicitando o Divino auxílio, NOSSA SENHORA respondeu manifestando decididamente com prodígios notáveis, permitindo que as notícias circulassem com rapidez e chegassem ao conhecimento do Padre José Alves Vilela, que era o Pároco da Igreja Matriz em Guaratinguetá. Ele ficou sabendo dos fatos, desde o achado da imagem aos últimos acontecimentos. Decidiu mandar o sacristão, senhor João Potiguá, assistir as rezas e observar o que estava ocorrendo. E com grande surpresa e satisfação, certificou-se da verdade, passando a colecionar depoimentos de muitas pessoas idôneas, conseguindo dessa forma, montar a história da pesca milagrosa com os fatos extraordinários que aconteceram e as diversas curas milagrosas, colocando tudo num livro que escreveu e guardava zelosamente para a posterioridade.
Capelinha do Padre Vilela
Com a ajuda popular, edificou uma Capelinha ao lado da casa de Atanásio, a fim de que todas as pessoas tivessem livre acesso à imagem. Era uma Capelinha de pau a pique que logo ficou pequena, em face da grande afluência de fieis, tornando-se incapaz de abrigar tantas pessoas, em face do notável crescimento da devoção a NOSSA SENHORA APARECIDA. Era preciso construir outra Capela, bem maior e num local mais adequado.
No dia 5 de Maio de 1743, Padre Vilela pediu ao senhor Bispo Dom Frei João da Cruz, autorização para a construção de uma Capela maior, com espaço suficiente para receber o grande número de fieis que acorriam de maneira admirável, para rezar diante de NOSSA SENHORA. A solicitação foi concedida e a obra foi executada em ritmo acelerado, sendo inaugurada no dia 26 de Julho de 1745, dois anos após a concessão da autorização diocesana. Era uma bonita Igreja feita com taipa e pilão, no Morro dos Coqueiros, local alto e agradável, com muito espaço e uma linda visão do Vale Paraíba.
Igreja Velha - Capela construída no Porto de Itaguaçú
Entre os anos de 1883 a 1888, esta Capela Maior foi ampliada e reformada, sempre com o objetivo de melhor atender a afluência de fieis, cada vez mais crescente e fervorosa. Aquela Capela é a atual Igreja Velha de NOSSA SENHORA APARECIDA, também denominada Basílica Velha, situada do outro lado da passarela monumental, em contínua atividade até hoje.
FONTE: CATEQUESE CATÓLICA
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