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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

UM DOS MAIORES GÊNIOS DA FÍSICA MODERNA ESQUECIDO POR SER PADRE.

O padre que desafiou os maiores cientistas de sua época… 
e venceu

Um dos maiores gênios da física moderna, o pai da Teoria do Big Bang foi condenado ao ostracismo pelo fato de ser sacerdote cristão

“O primeiro gole das ciências naturais nos torna ateu, mas no fundo do copo Deus nos aguarda”


(Werner Heisenberg, criador da Mecânica Quântica e Prêmio Nobel de Física em 1932) - Quase todo mundo sabe que Newton concebeu a Lei da Gravidade. Que Einstein criou a Teoria da Relatividade. Que Lavoisier é o Pai da Química Moderna. Cientistas são nomes conhecidos, e com razão. Citando alguns mais recentes: Louis Pasteur, Marie Curie, Faraday, Max Planck, Heisenberg, Niels Bohr, Hubble, Thomas Edison, Tesla, Oppenheimer… e vai por aí.
Você pode até não saber o que cada um fez, mas possivelmente já ouviu falar de alguns deles.
Da mesma forma, todo mundo já ouviu falar da Teoria do Big Bang. Formulada há quase 90 anos, continua atualíssima. Virou nome de uma engraçadíssima série nerd de TV. E explica como todo o universo conhecido surgiu de um minúsculo ovo cósmico – o chamado “átomo primordial” – que se expandiu formando um universo que continua em expansão e em evolução.
Quem criou a Teoria do Big Bang?
Provavelmente você não sabe. Talvez nem seu amigo professor.
Foi um padre. Um padre e físico belga chamado Georges Lemaître (pronuncia-se Lemétre). Um dos maiores gênios da história da física e da cosmologia. Exímio matemático, estudou em Cambridge, Harvard e no MIT. Revolucionou a cosmologia para além do que pensava o próprio Einstein – de quem mais tarde se tornaria amigo.
Por que você provavelmente não o conhece?
Porque ele era padre. E, por preconceito de muitos cientistas e historiadores antirreligiosos, foi relegado ao exílio siberiano do ostracismo.
O nome de Lemaître quase foi para a lata de lixo da história da ciência.

Primeiro contato com Einstein

Em Bruxelas, na Bélgica, no Instituto de Química e Física Solvay, normalmente de três em três anos se realiza, há mais de um século, a chamada Conferência de Solvay. Reúne os maiores cientistas do mundo em física e química.
A mais famosa desta conferência aconteceu em 1927. A chamada Física Quântica emplacava, e lá estavam nomes como Heisenberg, Planck, Marie Curie, Bohr, Einstein… a mais fecunda geração de físicos da modernidade.
Ali aproximou-se de Einstein um padre de 31 anos, com sua batina e a gola característica. Era Lemaître, que havia acabado de fazer uma publicação mostrando, com elegante matemática, que o universo estava se expandindo e calculando até a velocidade de expansão.
Einstein descascou o padre. Disse ele:
– Sua matemática é correta, mas sua física é abominável.
A irritação de Einstein tinha razão de ser. Quando ele formulou a Teoria da Relatividade, viu que pelas suas fórmulas a gravidade faria o universo se contrair. Então usou um truque matreiro: colocou na fórmula uma tal Constante Cosmológica, de forma que o universo ficasse estático, parado, imutável e eterno.
Logo, porém, Einstein declarou que este truque matemático foi “o maior erro” da sua vida.
E o que Lemaître mostrou que irritou Einstein?
Ele não só recolocou a Constante Cosmológica como corrigiu as tendências das fórmulas de Einstein, concluindo que o universo se expandia.
Tudo com uma matemática correta.
E uma física que – como mais tarde reconheceria o próprio Einstein – nada tinha de abominável.

Uma nova maneira de ver o mundo

O gênio de Lemaître não o fez recuar. Três anos depois, a maior parte da comunidade científica, incluindo o próprio Einstein, aceitou que o universo se expandia. Em especial depois que o astrofísico norte-americano Edwin Hubble confirmou os dados de Lemaître.
Mas em 1931 Lemaître viraria o mundo da cosmologia novamente de cabeça para baixo ao propor sua nova teoria: a Teoria do Big Bang.
Da chamada singularidade à existência da energia escura (só recentemente comprovada), tudo estava no trabalho de Lemaître e nas suas fórmulas matemáticas. O universo teria surgido quase do nada – de uma pequena e densa partícula.
Einstein não concordou com a teoria, mas passou a admirar Lemaître. Viraram amigos. Iam juntos a seminários. Em 1933, em Bruxelas, Einstein fazia uma palestra e anunciou, de surpresa, que Lemaître falaria no último seminário porque tinha “muitas coisas importantes a dizer”. Lemaître falou, Einstein aplaudiu de pé e o cumprimentou: “Belo trabalho”.
No mesmo ano, em um seminário em Pasadena, Califórnia, Lemaître expôs suas idéias. Einstein novamente aplaudiu e foi ainda mais enfático ao dizer:
– Esta é a mais bela e a mais satisfatória explicação sobre a criação que eu já escutei.

Cientistas fazem chacota do Big Bang

Aquele padre de batina e gola típica escrevendo equações no quadro, porém, não conseguia convencer a comunidade científica da sua nova teoria. Por mais que Einstein respeitasse Lemaître, chamou a Teoria do Big Bang de “dogma cristão da criação, totalmente injustificada do ponto de vista físico”.
O inglês Arthur Eddington – um dos mais influentes astrofísicos da época – declarou: “A noção de um começo do mundo é repugnante para mim”.
O nome “Big Bang”, por sinal, surgiu de uma chacota. Em um programa de rádio, em 1948, o respeitado astrofísico britânico Fred Hoyle fez piada com Lemaître, chamando-o de “o homem do grande estrondo” (the big bang man). A piada tinha até a sutileza científica de que o som não se propaga no vácuo, fazendo parecer ainda mais esdrúxula a teoria do padre Lemaître.
A teoria do grande estrondo e seu autor foram ridicularizados ao extremo. Novas publicações de Lemaître eram desconsideradas. Ninguém dava a mínima. Einstein havia formulado uma nova teoria do universo eterno e praticamente pacificou o assunto no meio científico.
A Teoria do Big Bang jazia no cemitério dos fracassos científicos.
Era só um fantasma moribundo vagando entre os nomes estrelados da física.

Como detectar a existência de um fantasma

Por mais equações que Lemaître tenha desenvolvido, não dá para ver em um telescópio como foi o universo em seu início – portanto muito menos provar que existiu um início. Um possível universo inicial já teria desaparecido há bilhões de anos.
Mas em 1956, o físico americano George Gamow desenvolveu incríveis cálculos mostrando que, se o universo teve um início, houve um momento exato – quando a luz escapou pela primeira vez – em que um determinado tipo de radiação de micro-ondas se espalhou. Seria um eco do Big Bang. Um fantasma que deveria estar vagando por toda parte do universo ainda hoje, assim como vagava a teoria de Lemaître pelo universo científico.
Ninguém deu bola também para Gamow.
Em 1965, um acaso mudaria toda a história. Dois engenheiros da Bell Telephone Laboratories, Arno Penzias e Robert Wilson, montavam um ultrassensível detector de micro-ondas, mas tinham o problema técnico de ruído. Não importava para onde apontasse a antena, o ruído continuava. Acharam cocô de pombo na antena… Era isso. Limparam. Não era. O ruído continuava. Não achavam a solução.
Por coincidência, dois físicos americanos trabalhavam nas equações de Gamow e defendiam a existência do fantasma em forma de radiação de fundo. Os engenheiros da Bell ligaram as coisas. Verificaram a frequência e o comprimento de onda do ruído. Eram exatamente a radiação de fundo prevista por Gamow. Era o fantasma da criação do universo. O eco do Big Bang.
A experiência foi repetida mundo afora e consolidada como fato científico em 1966. No hospital Saint Pierre, na Bélgica, vitimado por um ataque cardíaco, o padre Lemaître recebeu, pelo seu assistente, a notícia da descoberta, e murmurou:
– Estou feliz agora. Temos a prova.
Morreu uma semana depois, após ter assistido a vitória da sua teoria.

Um nome que continua esquecido

Os engenheiros Penzias e Wilson ganharam o Prêmio Nobel de Física em 1978. Lemaître permaneceu esquecido. Nos trabalhos dos ganhadores do Nobel, seu nome sequer é citado.
Em 2011, a revista Nature publicou uma investigação científica confirmando um fato que há muito tempo vinha sendo levantado. Lemaître não criou apenas a Teoria do Big Bang: ele também foi o formulador da hoje chamada Lei de Hubble e da equação conhecida como Constante de Hubble, que versa sobre o afastamento das galáxias.
Fez isso dois anos antes do astrônomo americano Edwin Hubble, que ficou famoso exatamente por estas duas supostas descobertas.
O fato é que tanto a lei quanto a constante estavam na publicação de Lemaître em 1927 (em francês), traduzida para o inglês justamente em 1930, quando Hubble apresentou sua descoberta. Nesta tradução a equação de Lemaître – exatamente a mesma posteriormente apresentada por Hubble – simplesmente foi retirada, aparentemente com a própria concordância do padre.
Ninguém sabe como e por que tal fato ocorreu. Mas a certeza é que o ineditismo destas descobertas é de Lemaître.
Hubble virou nome do mais famoso telescópio do mundo.
Lemaître foi convenientemente colocado de lado na história da ciência.
Em 1933, após uma de suas palestras junto com Einstein nos EUA, o correspondente do The New York Times, Duncan Aikman, que cobria o evento, assim escreveu:
– Sua visão é interessante e importante, não porque ele é um padre católico; não porque ele é um dos principais físicos matemáticos do nosso tempo; mas porque ele é os dois ao mesmo tempo.
Mas não foi assim que a maioria dos cientistas e historiadores entenderam. Por mais grandioso que tenha sido o gênio científico de Lemaître, ele carregava em si o pecado mortal de uma era em que o ateísmo foi se transformando em religião acadêmica: ele era um padre.

Padre Georges Lemaître, o criador da Teoria do Big Bang
Padre Georges Lemaître, o criador da Teoria do Big Bang

Einstein e lemaître: amizade e admiração mútua
Einstein e Lemaître: amizade e admiração mútua
Autor: AURÉLIO PAIVA

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