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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O DECÁLOGO DEVERIA PERMANECER INALTERADO SOB QUALQUER HIPÓTESE?


O DECÁLOGO É IMUTÁVEL? NEM O PRÓPRIO DEUS PODE MUDÁ-LO?


1. O que é permanente não tem vigência definida:

"A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o Reino de Deus, e cada um faz violência para aí entrar"(Lc 16,16);

2. Não precisa ser levado à perfeição: 

"Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição" (Mt 5,17) (*)

3. Nem é transitório. São Paulo, referindo-se especificamente ao DECÁLOGO diz:


"Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face (embora transitório), quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito! Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais o há de sobrepujar em glória o ministério da justificação! Aliás, sob esse aspecto e em comparação desta glória eminentemente superior, empalidece a glória do primeiro ministério.Se o transitório era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece!" (2Cor 3,7-11)


A Igreja Católica alterou os Dez Mandamentos?




"Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas" (Mt 22,36-40).



Introdução 


Uma das armadilhas utilizada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) para aliciar os católicos menos instruídos é acusar a Igreja Católica de ter alterado os Dez Mandamentos. Para a IASD, o Decálogo é irrevogável, portanto deve ser guardado para sempre. Consequentemente, segundo eles, as igrejas protestantes também erram, pois também não guardam o Decálogo em toda sua inteireza, pois guardam o Domingo e não o Sábado. E então? Quem está com a razão? 


A concepção Adventista da reforma da Lei por Cristo 


A IASD possui uma doutrina orientada ao legalismo do AT. Embora ela creia no Sacrifício Salvífico de Cristo e na Graça Santificante do Espírito Santo, a IASD não entende que Cristo veio trazer a Antiga Lei à perfeição, mas Sua reforma consistiu somente em abolir as observâncias que eles chamam de cerimoniais. 






Estas concepções não são oriundas do final do séc. XIX quando surgiu a IASD. Nada mais são do que a retomada de uma antiga heresia, o Montanismo. Já em meados do séc. II Montano, um ex-sacerdote de Apolo e “converso” ao catolicismo, difundia tal ensino, criando o que os estudiosos chamam de Montanismo ou Heresia Montanista (1).

Montano foi motivado por uma volta iminente de Cristo (inclusive com data marcada...), era tido como profeta de Deus e seus escritos e instruções eram considerados inspirados pelo Espírito Santo. Dos seus seguidores exigia fé incondicional e obediência. Sua doutrina era de uma moral muito rígida, além obrigar seus seguidores a várias orientações alimentares. Será que a semelhança com a sra. Ellen G. White é mera coincidência? 

O Decálogo e a sua vigência 

O Decálogo (Dez Mandamentos) são os dez princípios morais e fundamentais de toda Lei que Deus deu a Moisés no Sinai (Ex 34,27-30). 

Cristo nos ensinou que "A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o Reino de Deus, e cada um faz violência para aí entrar" (Lc 16,16). Isto deixa mais que claro que o legalismo do AT não está mais vigente para os Cristãos, que vivem um tempo de Graça no Espírito Santo. 

Os Adventistas, no entanto, entendem que há uma distinção entre o Decálogo e as Leis Levíticas (ou Torah). Para eles as últimas foram abolidas por Cristo, mas os Dez Mandamentos porque estavam dentro da Arca da Aliança são irrevogáveis. 



Interessante notar que os Adventistas para sustentarem a teoria da eternidade dos Dez Mandamentos, se referem às seguintes palavras do Senhor: "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição" (Mt 5,17). 

Ora, se para eles a palavra “lei” neste versículo se refere ao Decálogo, por que então em Lc 16,16 ela só se refere à Torah? Que exegese é esta da qual se servem os Adventistas? 

O fato é que mesmo que adotemos a malabarística exegese adventista para Mt 5,17, isso ainda nos impede aceitar o caráter irrevogável dos Dez Mandamentos. Os Adventistas querem propor que os guardemos como estão nos livros do Êxodo e Levítico. Ora, se Cristo disse que iria levá-los à perfeição, significa que antes não eram perfeitos. Se não eram perfeitos então por que deveríamos guardá-los como lá estão? 

E se a perfeição da Lei é a abolição das ordenanças “cerimoniais”, que não estão no Decálogo, então Jesus não aperfeiçoou em nada os Dez Mandamentos, apenas aboliu a Torah. E se este for o caso, como então a palavra “lei” se aplica somente ao Decálogo? 

Aí os Adventistas têm que dar um verdadeiro “nó em pingo d´água” para solucionar as inconsistências de suas proposições. 

A reforma da Antiga Lei por Cristo 

Para compreendermos a reforma na qual Cristo se referiu em Mt 5,17, devemos pontuar a unicidade de todas as ordenanças divinas. Para os antigos Judeus não havia qualquer distinção entre os Dez Mandamentos e a Torah. É o que testifica um especialista no assunto, o sr. Félix Garcia Lopes: 



O Talmude, a propósito de um ponto em discussão, lembra: 'A lei mandava recitar todos os dias os dez mandamentos. 

Por que não os recitam mais, hoje? Por causa das maledicências dos minim [os dissidentes]; para que estes não possam dizer: 'Estes somente foram dados a Moisés, no Sinal' (Talmud Jer. Berakot 1 ,3c). 

Segundo estes minim, Deus só pronunciou os dez mandamentos (Dt 5,22); as outras leis são atribuídas a Moisés. 

A recitação diária do decálogo, na oração comunitária, favorecia indiretamente esta ideia de que provocava certo desprezo pelas outras leis. A fim de evitar este mal-estar,o judaísmo ortodoxo - talvez nos círculos de Iabne [ou Jâmnia], no fim do século 1 d.C. - suprimiu do serviço sinagogal cotidiano a recitação do decálogo (2). 

Isto também pode ser atestado nas próprias palavras de Jesus ao Jovem Rico (cf. Mt 22,36-40; Mc 10,17-20;) e no Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7). 

Devemos primeiro entender a motivação da Lei, isto é, a razão de sua existência. Escrevendo aos Gálatas, comunidade formada principalmente por cristãos vindos do judaísmo, assim São Paulo se expressa: 

"Antes que viesse a fé, estávamos encerrados sob a vigilância de uma lei, esperando a revelação da fé. Assim a lei se nos tornou pedagogo encarregado de levar-nos a Cristo, para sermos justificados pela fé. Mas, depois que veio a fé, já não dependemos de pedagogo, porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo" (Gl 3,23-26). 

Como podemos ver, São Paulo diz que a Lei de Moisés tinha como objetivo orientar para Cristo. Isso era possível porque dava consciência de que homem era pecador, transgressor da Vontade de Deus. Deus manifestou em Sua Lei aquilo que o homem não conseguia ver em seu próprio coração (cf. CIC nº. 1962). 



No entanto, a antiga Lei não comunicava ao homem a Graça do Espírito Santo necessária para agradar a Deus. Ela apontava para o pecado, mas não era capaz de justificar o homem. Por isso, São Paulo também ensinou aos cristãos vindos do judaísmo: 

"Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão da vossa carne, chamou-vos novamente à vida em companhia com ele. É ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz" (Cl 2,13-14). 

Que documento é este do qual São Paulo fala que condenava os judeus? Era a própria Lei que acusava a consciência, mas não comunicava a Graça Santificante. 

A doutrina paulina sobre os Dez Mandamentos 

Como já apresentamos, a vigência da Antiga-Lei era um ministério de condenação, enquanto o ministério de Cristo é Graça no Espírito Santo. Por esta razão, São Paulo escreveu aos Coríntios: 

"Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face (embora transitório), quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito! Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais o há de sobrepujar em glória o ministério da justificação! Aliás, sob esse aspecto e em comparação desta glória eminentemente superior, empalidece a glória do primeiro ministério. Se o transitório era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece!" (2Cor 3,7-11).



Nestas palavras do Apóstolo se desfaz a doutrina da irrevogabilidade do Decálogo. 

Enquanto os adventistas ensinam que devemos ainda observar a letra dos Dez Mandamentos (e aí que se fundamenta a doutrina deles sobre o Sábado), São Paulo diz que é “transitório”. Ora, algo que é transitório não pode jamais ser permanente. É transitório porque algo virá a sucedê-lo. 

Aí os adventistas com a sua “exegese” afirmam que São Paulo estava se referindo à Lei de Moisés e não aos Dez Mandamentos. Ora, o que foi “gravado com letras em pedra”? Foi o Decálogo ou a Lei Mosaica? 

A Escritura não deixa dúvidas de que o Apóstolo estava se referindo aos Dez Mandamentos. Em 2Cor 3,7-11, São Paulo se refere a um evento registrado no Êxodo: 

"Moisés ficou junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. E o Senhor escreveu nas tábuas o texto da aliança, as dez palavras. Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele" (Ex 34,28-30) 

Como se vê o principal fundamento da doutrina adventista está alicerçado sobre a falsa doutrina da irrevogabilidade dos Dez Mandamentos. Querem sustentar sua falsa doutrina ignorando os escritos paulinos e criando uma imaginária separação entre lei moral e lei cerimonial. 

Os Dez Mandamentos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) 

A antiga Lei ensinava o princípio do “olho por olho e dente por dente” (cf. Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21). Porém, Cristo nos ensina a dar a face àqueles que nos batem (cf. Mt 5,39). Podemos perceber nisto um indício da perfeição que Cristo prometeu que daria à Lei. 

Um outro exemplo é a exposição do Senhor no Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7), culminando no resumo de toda Lei em duas ordenanças apenas: 



"Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. 

E o segundo semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas" (Mt 22,36-40) (3). 

Nos parágrafos 1961 a 1964, o CIC explica a Lei e seu aperfeiçoamento prometido por Cristo. Depois nos parágrafos 1965 a 1974, o Catecismo expõe sobre a Nova Lei, a Lei da Graça. 

É aqui que a Igreja Católica apresenta uma interpretação dos Dez Mandamentos, não segundo a Antiga Lei, mas conforme a Nova Lei inaugurada por Cristo, a Lei da Graça. A proposta da Igreja no CIC era mostrar como aqueles princípios universais expostos na Antiga Lei se aplicariam na Nova Lei. 

Se por isto os Adventistas acusam a Igreja de alterar os Dez Mandamentos, porque também não acusam a Cristo, se foi Ele que primeiro o fez? 


Conclusão 


A acusação adventista à Igreja Católica procede de um princípio falso: a irrevogabilidade do Decálogo. Falso porque o que é irrevogável não tem vigência definida (cf. Lc 16,16), não precisa ser levado à perfeição (cf. Mt 5,17) e nem é transitório (cf. 2Cor 3,7-11).


Os Dez Mandamentos conforme constam no CIC é uma visão dos seus princípios à Luz da Nova Lei inaugurada por Cristo Nosso Senhor. 



Enquanto os Adventistas propõe uma doutrina tendo como base as tábuas de pedra, que para eles são os únicos mandamentos de Deus, São Paulo ensina que os verdadeiros cristãos são “uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações" (2 Cor 3,3).
Infelizmente os adventistas estão aprisionados na letra do Decálogo. Isto me lembra as seguintes palavras de São Paulo: 

"Tal é a convicção que temos em Deus por Cristo. Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para ser ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor 3,4-6). 

Nós Católicos continuaremos fiéis do Depósito da Fé que os Santos Apóstolos confiaram à Igreja Católica. 

Autor: Alessandro Lima

Fonte: VERITATIS SPLENDOR

(*) - Há quem traduza "Levá-los à perfeição" como "cumpri-los". Examinando a Vulgata Latina encontrei o verbo "adimplere" conhecido por todos nós pelo termo comercialmente conhecido como "inadimplência", isto é falta de cumprimento, o que fatalmente nos levaria ao termo "cumprir". Mas quem lê o versículos que seguem (21 e seguintes) percebe-se que não era bem isso. Restou, então, examinar o grego em que encontramos a palavra 
πληρωσαι (Plerosai). Procurando na internet encontrei o que segue:

"A palavra πληρωσαι (Plerosai) é um verbo, infinitivo aoristo ativo, ou seja, é uma forma de um verbo que expressa ação, sem indicar a sua conclusão ou prosseguimento.

A raiz dessa palavra, segundo o Strong, é πληροω (Pleroo), e pode significar:
1 – tornar cheio, completar, i.e., preencher até o máximo.
1.a – fazer abundar, fornecer ou suprir liberalmente
1.a.1 – Tenho em abundância, estou plenamente abastecido
2 – tornar pleno, i.e., completar
2.a – preencher até o topo: assim que nada faltará completar a medida, preencher até a borda
2.b – consumar: um número
2.b.1 – fazer completo em cada partícula, tornar perfeito
2.b.2 levar até o fim, realizar, levar a cabo (algum empreendimento)
2.c – efetuar, trazer à realização, executar
2.c.1 – relativo a deveres: realizar, executar
2.c.2 – de ditos, promessas, professais, fazer passar, ratificar, realizar
2.c.3 – cumprir, i.e., fazer a vontade do Todo Poderoso (tal como conhecida na lei) ser obedecida como deve ser, e as promessas do Todo Poderoso (dadas pelos profetas) receber o cumprimento" BETSHUVA

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