Uma lenda sobre a Beleza
Por MALBA TAHAN
Há uma lenda que fala sobre a beleza. Lenda essa esquecida pelos homens. Trata-se de uma lenda antiga, cheia de sabedoria.
Certa vez, por um triste capricho da Fatalidade, o poder do mundo foi cair nas mãos odientas da Vulgaridade.
— Que fez a Vulgaridade ao subir ao trono? Resolveu destruir e aniquilar a sua perigosa rival — a Beleza.
Chamando o Tédio, seu servo predileto, disse-lhe a execrável soberana:
— Detesto a Beleza! Quero fazê-la desaparecer da face da terra. Tens ordem para pendê-la e matá-la de qualquer modo.
O Tédio respondeu:
— Escuto e obedeço, senhora! Mas, afinal, como é a Beleza? Como poderei encontrá-la, se não a conheço?
— Ora, nada mais simples — tornou a Vulgaridade. — Interroga um poeta qualquer e logo saberás como é a Beleza.
Partiu o Tédio. Encontrando um poeta interpelou-o:
— Como é a Beleza?
Sem hesitar, respondeu o poeta:
— Ainda ignoras? A Beleza é loura, de olhos azuis da cor do céu; a sua pele é clara e rosada, as suas mãos...
— Basta! Tudo o mais que disseres seria fastidioso e inútil. Já sei como é a Beleza! Vou descobri-la por mais oculta que esteja.
E o Tédio partiu em busca da Beleza...
Depois de muito caminhar, chegou ao país de Moab, para além do grande deserto. Um camponês repousava sob uma árvore.
— Terás visto, por aqui — perguntou o Tédio — a Beleza que procuro?
— Queres descobrir a Beleza! — exclamou o camponês. — Ei-la precisamente ali, ó forasteiro!
E apontou na direção de uma jovem que se encaminhava para a ponte, levando ao ombro um pequeno cântaro.
O Tédio procurou certificar-se. A graciosa moça era morena, de olhos verdes e cabelos castanhos como as filhas de Judá! Mas como diferia da que fora descrita pelo poeta! Não, não podia ser a Beleza!
— A Beleza fugiu para a China! — informou um peregrino.
Seguiu o Tédio para a China e indagou de um rico mandarim que soltava papagaios de seda:
— Senhor! Teria a Beleza aparecido em vossa terra?
— Apareceu, sim — replicou, alegre, o mandarim. — Ei-la!
E com o seu dedo de unha longa e angulada, apontou para uma moça ocupada em fabricar lanternas de papel.
O escravo da Vulgaridade preparou-se para executar a ordem que recebera. Enganara-se, porém, o informante. A jovem que o mandarim indicara era pálida, esguia, tinha os olhos amendoados, os cabelos negros e ondulados. Não; aquela não podia ser a Beleza!
O Tédio deixou o país dos chineses e foi em busca de outros climas. Diante dele a Beleza fugia sempre, ocultando-se astuciosamente. Todo o seu esforço tornou-se inútil. Não conseguiu encontrar e destruir a Beleza!
Mas a eterna e incomparável Beleza só a encontra quem a procura com sabedoria. Sigam esse conselho meus amigos e amigas:
— Eis por que a Beleza floresce e domina, sob aspectos tão diversos, quando a observamos, nos inconquistáveis recantos e países do mundo. Aqui é morena e tem olhos negros, mais adiante é loura, de claros olhos de anil. Aqui é viva e alegre, para, além, surgir sentimental e terna!
É que a Beleza, para fugir do mal do Tédio e ao perigo da Vulgaridade, varia sempre e sem cessar.
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