Eugenio Maria La Barbera, 67 anos, desliza a ponta dos dedos da mão direita de um lado ao outro da gola da batina enquanto pergunta a uma das assistentes que lhe acompanham durante sua missa: “Como se fala isso em português?”. Os mais de 30 anos morando no Brasil não foram suficientes para que o italiano dominasse o vernáculo. “Gola!”, ele exclama, para em seguida se dirigir novamente aos fiéis. “Eu quero que venha até aqui a pessoa que está com uma foto de um menino usando uma camiseta branca de gola azul com um desenho de um ‘piu-piu’, um pintinho metade amarelo, metade azul.”
UNGIDA Antônia de Matos Barbosa recebe a bênção do padre Eugenio durante a missa dos enfermos: 23 curas em um só domingo (Crédito: André Lessa/Agência IstoÉ) |
Várias pessoas levam fotos até o altar, onde o padre espera, apreensivo. Pelo menos três vezes, repete: “Não é essa”. A imagem, diz ele, foi enviada por Jesus. No meio do corredor apinhado de gente, uma moça surge chorando enquanto estica a mão até que o religioso veja a foto que ela segura. “É essa”, afirma, apontando com o dedo. “Venha até aqui.” A mulher é Paula Rodrigues Santos, 28 anos. Acompanhada do pai, Quirino Rodrigues Pereira, 61 anos, ela saiu de São José dos Campos, interior de São Paulo, para rezar pelo sobrinho autista de 7 anos que não fala e sofre crises de ansiedade.
Como Paula e Quirino, milhares de pessoas se reúnem para a missa dos enfermos, celebrada todo primeiro domingo do mês (exceto em janeiro e julho), às 14h30, na Fraternidade Monástica dos Discípulos de Jesus, no Jardim Mirna, em São Paulo. O local existe desde 1997 e se tornou um ponto de peregrinação, atraindo fiéis em busca de cura para si ou para alguém próximo. Em 5 de junho, antes do meio-dia, sete ônibus de turismo ocupavam o estacionamento, ao lado de uma van e de um micro-ônibus. Chovia.
ESPERANÇA: Fiéis levam fotos de parentes para pedir que sejam curados: quando orar é a única saída (Crédito:Andre Lessa / Agencia IstoÉ) |
Várias pessoas levam fotos até o altar, onde o padre espera, apreensivo. Pelo menos três vezes, repete: “Não é essa”. A imagem, diz ele, foi enviada por Jesus. No meio do corredor apinhado de gente, uma moça surge chorando enquanto estica a mão até que o religioso veja a foto que ela segura. “É essa”, afirma, apontando com o dedo. “Venha até aqui.” A mulher é Paula Rodrigues Santos, 28 anos. Acompanhada do pai, Quirino Rodrigues Pereira, 61 anos, ela saiu de São José dos Campos, interior de São Paulo, para rezar pelo sobrinho autista de 7 anos que não fala e sofre crises de ansiedade.
Como Paula e Quirino, milhares de pessoas se reúnem para a missa dos enfermos, celebrada todo primeiro domingo do mês (exceto em janeiro e julho), às 14h30, na Fraternidade Monástica dos Discípulos de Jesus, no Jardim Mirna, em São Paulo. O local existe desde 1997 e se tornou um ponto de peregrinação, atraindo fiéis em busca de cura para si ou para alguém próximo. Em 5 de junho, antes do meio-dia, sete ônibus de turismo ocupavam o estacionamento, ao lado de uma van e de um micro-ônibus. Chovia.
Como os assentos da igreja não seriam suficientes para todos, um espaço coberto foi montado do lado de fora com cadeiras e um telão para que os fiéis pudessem acompanhar a celebração. O lugar lembra um monastério europeu. Ocupa uma área ampla e arborizada de 53 mil m2 e foi construído com um investimento de U$ 3 milhões tirados da herança de La Barbera, filho de um empresário têxtil do norte da Itália. A missa segue estritamente a liturgia convencional, com folheto e orações comuns ao ritual da Igreja Católica.Várias pessoas levam fotos até o altar, onde o padre espera, apreensivo. Pelo menos três vezes, repete: “Não é essa”. A imagem, diz ele, foi enviada por Jesus. No meio do corredor apinhado de gente, uma moça surge chorando enquanto estica a mão até que o religioso veja a foto que ela segura. “É essa”, afirma, apontando com o dedo. “Venha até aqui.” A mulher é Paula Rodrigues Santos, 28 anos. Acompanhada do pai, Quirino Rodrigues Pereira, 61 anos, ela saiu de São José dos Campos, interior de São Paulo, para rezar pelo sobrinho autista de 7 anos que não fala e sofre crises de ansiedade.
Como Paula e Quirino, milhares de pessoas se reúnem para a missa dos enfermos, celebrada todo primeiro domingo do mês (exceto em janeiro e julho), às 14h30, na Fraternidade Monástica dos Discípulos de Jesus, no Jardim Mirna, em São Paulo. O local existe desde 1997 e se tornou um ponto de peregrinação, atraindo fiéis em busca de cura para si ou para alguém próximo. Em 5 de junho, antes do meio-dia, sete ônibus de turismo ocupavam o estacionamento, ao lado de uma van e de um micro-ônibus. Chovia.
Como os assentos da igreja não seriam suficientes para todos, um espaço coberto foi montado do lado de fora com cadeiras e um telão para que os fiéis pudessem acompanhar a celebração. O lugar lembra um monastério europeu. Ocupa uma área ampla e arborizada de 53 mil m2 e foi construído com um investimento de U$ 3 milhões tirados da herança de La Barbera, filho de um empresário têxtil do norte da Itália. A missa segue estritamente a liturgia convencional, com folheto e orações comuns ao ritual da Igreja Católica.
A diferença é o momento que o padre chama de bênçãos de cura. É quando se nota desespero nos olhares. Há joelhos dobrados e mãos unidas, apertadas uma contra a outra com força. Outras estão erguidas para cima. Fiéis sobem nas cadeiras para ver La Barbera. Do altar, ele proclama frases para que todos as repitam. Desce e atende um por um os que estão sentados na primeira fileira: pessoas em cadeiras de rodas ou com doenças graves que antes da missa são selecionados por membros da equipe para ficarem próximos ao sacerdote.
Sentada de frente para o altar, Antônia de Matos Barbosa, 72 anos, tem feridas no rosto, nas pernas, nos pés e nas axilas. Portadora de pênfigo, uma doença de pele fatal, rara e autoimune, sofre de dores constantes há cerca de três anos. O padre a levanta, caminha de costas, de frente para Antônia, de mãos dadas com ela. “Você está curada”, diz, no momento em que ela olha pra cima. De volta ao altar, ele inicia as curas coletivas. “Pessoas que não enxergam, que tem dificuldade para ver. Fechem os olhos. Agora abram.
Quem consegue ver perfeitamente o santíssimo sacramento?”, pergunta o padre, segurando a imagem e estendendo-a para o alto. “Levantem as mãos”, pede, para em seguida contar 23 fiéis curados. A sessão segue, no mesmo modelo, com curas para sinusite, dores nos pés e no céu da boca. Muitas mãos se levantam ao final para entrarem na contagem. “Esse é um dom que Deus me deu para fazer o bem para os outros”, afirma La Barbera em seu escritório, horas antes de começar a missa. Italiano, veio ao Brasil logo depois de se tornar padre, em 1978. Tinha 28 anos quando decidiu mudar de vida.
Diz ter acumulado vários pecados na juventude e ri ao relembrar que foi hare krishna, participou de encontros de nudistas e chegou a ir à Índia atrás do guru dos Beatles, Maharishi Mahesh Yogi. A primeira missa a que assistiu foi já adulto, quando desconfiou da noiva que frequentava demais a Igreja. Ao participar da liturgia, decidiu que era aquele o futuro que queria. Rompeu o noivado e abdicou da boa vida que o dinheiro da família permitia. Já no Brasil, diz ter feito seu primeiro milagre no início da década de 1980, durante a Páscoa. Duas adolescentes lhe procuraram pedindo para que abençoasse a mãe com feridas nas pernas.
“Fiz o sinal da cruz apressado. De repente, as chagas tinham se fechado. Me assustei”, diz. Na hora, deu um grito: “Saiam daqui, na minha igreja não existe milagre.” Foi uma vidente de Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina, conhecida por ter visto uma aparição de Nossa Senhora, que anos depois o convenceu de que ele estava no mundo para curar as pessoas e fazê-las rezar. “Voltei ao Brasil e criei a Fraternidade.” A Igreja Católica é extremamente rígida quanto à atribuição de milagres. Há um caminho longo e burocrático a ser percorrido para a comprovação, que deve ser feita por equipes de cientistas e testemunhas.
MILAGREIRO: Eugenio La Barbera na fraternidade que criou em São Paulo: “A cura é um dom que Deus me deu” (Crédito:Andre Lessa / Agencia IstoÉ) |
Para quem critica sua atuação, o religioso italiano tem uma só resposta: “Que venham assistir a uma missa de cura. Eu não tenho sobre o que me explicar, eu faço”, diz. Turrão, afirma que suas celebrações lotam porque as pessoas precisam de fé. “Ficar com muita cantoria, sem seguir a celebração tradicional, não dá”, afirma, em clara alusão a celebridades católicas como o padre Marcelo Rossi. Prestes a encerrar o domingo e se dirigir ao quarto, padre Eugenio La Barbera pega um livro com orações em latim e o exibe à reportagem. “Esse eu uso para as sessões de exorcismo.”
e alguém que ele julga estar possuído por um espírito do mal. Chama colegas para ajudá-lo nos casos em que a pessoa se debate com muita agressividade. Se não, trabalha sozinho. Descreve a função com a normalidade de quem a pratica cotidianamente. Aparecida Olívia Narciso, 67 anos, de São Paulo, diz ter sido curada pelo padre. No começo dos anos 2000, descobriu um nódulo grande no seio esquerdo. Com medo, foi até a missa. Voltou ao médico e o tumor havia sumido. “Quando o padre falou comigo, vi um coração enorme, o Senhor proclamou que aquele caroço ia sumir”. Aparecida deu seu testemunho ao final da missa acompanhada pela reportagem, em frente aos fieis.
A dona de casa Marisa Rebouças, 47 anos, conta que um milagre aconteceu em sua vida há 15 anos, quando a filha nasceu. “Era um bebê lindo, mas com problemas no coração e no esôfago. Um dia, fizeram raio-x por contraste, mas a substância não saía do corpo dela e não era possível fazer a cirurgia por isso. Tínhamos pouco tempo, fiquei desesperada e chamei o padre para que fosse até o hospital dar uma bênção nela”, diz Marisa, que ainda chora com a história a ponto de ter que fazer uma pausa na fala. “No mesmo dia da visita, o contraste saiu, ela foi operada e sobreviveu.” Hoje, ela é voluntária na Fraternidade.
Para o sociólogo da religião Francisco Borba, o sucesso das missas de cura é explicado, em parte, porque as pessoas se afastaram da Igreja e não vivenciam mais manifestações religiosas cotidianas e, com isso, procuram celebrações na qual possam presenciar a religiosidade e o misticismo vindo à tona de maneira intensa. “Mas há outro dado que explica o fenômeno: todos nós queremos nos sentir amados, acolhidos e perdoados. Mesmo que não sejamos o doente curado, ao presenciar essa graça, de alguma maneira entendemos que Deus também me ama e me acolhe. É isso que as pessoas procuram.”
“Me tira dessa cadeira”, pede a mineira Áurea Augusta Miranda de Abreu, 18 anos, no momento em que o padre Eugenio La Barbera lhe dava a benção. Paraplégica há três anos por causa de um erro médico durante uma cirurgia, passou a missa segurando um terço nas mãos e chorando de maneira intermitente. Agarrava a camiseta com a imagem de Nossa Senhora em um gesto de angústia. “A fé é minha alternativa”
Jefferson Fagundes, 24 anos, sofreu um acidente de moto há um ano, fraturou a coluna e passou a se locomover em cadeira de rodas. Fala baixo, de maneira consternada e de cabeça baixa. Paulistano, trabalha como ajustador mecânico. Sofre com dores lancinantes na região lombar mesmo após várias cirurgias e sob uso de medicações. “Minha avó frequenta a missa há muitos anos e sugeriu que eu viesse pedir a bênção ao padre”, diz
O aposentado João Martins, 74 anos, da cidade de Castanhal, no Pará, acompanha a missa de La Barbera na primeira fileira. Tem uma deficiência na cartilagem e câncer no fígado em estágio avançado. Quando o padre se aproxima, pede que Martins abra os braços, junte as mãos na frente do corpo e se levante. Ele dá alguns passos em frente ao altar sem as muletas que até então usava para caminhar. As pessoas ao redor aplaudem
Como Eugenio Maria Labarbera deixou a juventude regada a excessos para se tornar padre
o acompanhar a noiva em uma missa, Eugenio Maria Labarbera decide se tornar padre. Termina o relacionamento e deixa para trás uma vida de excessos. Entre suas aventuras, já participou de um evento de nudistas, foi à Índia para encontrar o guru dos Beatles e fez parte de uma comunidade Hare Krishna. Aos 28 anos, em 1978, é ordenado padre e enviado ao Brasil
Em 1982, padre Eugenio se torna um dos sacerdotes da Renovação Carismática Católica e celebra missas na Catedral da Sé, no centro de São Paulo
Por volta de 1983, recebe duas adolescentes com a mãe depois de uma missa. Elas pedem a benção para a mulher, com feridas na perna. Ele a abençoa e na mesma hora as chagas se fecham
Após a morte do pai, questiona a própria fé e decide passar um tempo afastado do sacerdócio. Viaja com um amigo para Medjugorje, cidade da Bósnia-Herzegovina conhecida entre os cristãos por causa das aparições de Nossa Senhora, em 1981
Após uma série de sinais para que aceite seu dom de cura, recebe uma mensagem de uma mulher dizendo, em nome de Nossa Senhora, que ele deveria construir uma fraternidade no Brasil
Fala com bispos, sacerdotes e inclusive com o papa da época, João Paulo II, pedindo autorização para sua empreitada
Com a herança que recebeu do pai, um rico empresário italiano, cria a Fraternidade Monástica dos Discípulos de Jesus, em 1997. No terreno de 53 mil m² levanta uma igreja, um hotel e casas para que sacerdotes e ajudantes se hospedem
Uma vez por mês, institui a missa dos enfermos, em que faz suas orações de cura, e fica conhecido por abençoar pessoas doentes
FONTE - ISTOÉ
FONTE - ISTOÉ
Nenhum comentário:
Postar um comentário