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sábado, 26 de setembro de 2020

O ALCORÃO ESTÁ INCOMPLETO

Fontes primárias islâmicas dizem não existir preservação perfeita do Alcorão (vídeo 20)


Cinco anos atrás, nós publicamos o artigo “O Alcorão: suas origens nebulosas e suas diversas versões“. Neste artigo, e outros que seguirão, iremos aprofundar a discussão sobre o Alcorão e ver que este livro foi escrito pelo homem, por vários homens, e séculos após a alegada morte de Maomé.

Muçulmanos são educados para acreditarem que o Alcorão é um livro perfeito, sem erro e sem alteração alguma desde que ele foi revelado a Maomé, entre os anos 610 e 632 DC.

Vídeo disponível em: https://www.bitchute.com/video/gvXRuyG2AY3z/ ou https://d.tube/#!/v/joseatento00/QmR6d6XCMiTtS41yKgNWkA51jhFcktZYwyvDuzwfd5emkY ou https://3speak.online/watch?v=infielatento/ibgcylwc&utm_source=studio ou https://youtu.be/q46BdgD9TaE

Ao mesmo tempo, os muçulmanos são deixados no escuro sobre a existência de várias diferenças ‘Dialéticas’ ou ‘Recitacionais’ (conhecidas como Qira’at e Ahruf) nas cerca de 30 derivações Qira’at autorizadas do Alcorão, muito embora elas existam há mais de 1.000 anos, desde que Ibn Mujahid escolheu as 7 primeiras derivações e as canonizou, pouco antes do ano 936 (ou seja, século X). Mais tarde, no século XIV outras 3 derivações foram canonizadas, e depois outras 20 derivações foram adicionadas, chegando-se a um total de 30 variantes (30 Qira’at). O Alcorão oficial de hoje é resultado de um acordo feito em 1924 no Egito, chamado Alcorão de Hafs de 1924.

De modo que o problema da ‘Preservação Perfeita’ do Alcorão não é novo, mas vem tomando um vulto crescente frente a novas descobertas, de mais de 93 mil diferenças nos alcorões vendidos nos dias de hoje. Essas diferenças não são traduções diferentes ou diferenças de dialetos. Elas são diferenças no próprio árabe, que é o idioma do Alcorão.

Recentemente, em maio e junho de 2020, dois estudiosos muçulmanos (Dr. Shabir Ally e Dr. Yasir Qadhi) admitiram publicamente que tais diferenças existem. Ao mesmo tempo, eles insistem que essas diferenças resultantes não mudam nenhuma doutrina, crença ou prática. Ironicamente, eles nunca conferiram as 93.000 variantes para saber se isso é verdade ou não! Eles apenas dizem isso e esperam que ninguém os questione.

Como todo líder muçulmano, eles aplicam a regra do 99 por 1 (ou seja, em cada 100 muçulmanos, 99 irão aceitar o que eles dizem sem verificar as fontes primárias)

Antes de continuar, é necessário explicar algo muito importante relacionado a datas. Segundo as próprias fontes islâmicas, não havia Alcorão algum escrito quando Maomé morreu, e continuou sem existir até 20 anos após a sua morte (as “revelações” tinham sido memorizadas por seguidores, e alguns versículos haviam sido escritos em folhas e casca de árvore, mas não havia livro algum). O terceiro califa, Otomão (Uthman) mandou seus secretários copiarem versículos daqueles que se lembravam, coletou o que pôde, escolheu o que quis, e queimou todo o resto que ele discordava. E muçulmanos dizem que Alá protege o Alcorão. Otomão enviou cópia para as capitais das províncias do território recém-conquistado militarmente, todas elas ricas e afluentes, mas não existe cópia alguma delas hoje. A biografia de Maomé, a sira, seria compilada 100 anos após a sua morte por ibn Ishaq porém escrita por ibn Hisham, 200 anos após a morte de Maomé. A partir de então, surgem as coleções de dizeres e feitos de Maomé, nos hadices de al-Bukhari e Muslim. De modo que tudo o que sabemos sobre Maomé e seus companheiros mais diretos vem de textos escritos, no mínimo, 200 anos após a morte de Maomé.

O que os muçulmanos são treinados para acreditar sobre o Alcorão

Existem quatro crenças às quais todos os muçulmanos se apegam (com exceção, talvez, dos muçulmanos seculares). São elas:

  1. O Alcorão nunca foi criado, existindo eternamente em tábuas de barro no céu (cf. Alcorão 85:22) (algo interesssante, no Islão, além de Deus (Alá) um livro também nunca foi criado – um livro tem o mesmo atributo que Deus)
  2. O Alcorão foi enviado a Maomé entre os anos 610 e 632 DC
  3. O Alcorão foi completado pelo terceiro califa Otomão, em 652 DC
  4. O Alcorão permanece inalterado até os dias de hoje (Alcorão 10:15; 15:9 e 18:27). Alcorão é protegido por Alá, de modo que alteração alguma pode ser feita por quem quer que seja.

Não existe nada a fazer com respeito aos itens 1 e 2, pois não se pode provar ou não a afirmação de que o Alcorão não foi criado e que foi enviado. Porém, pode-se questionar os itens 3 e 4, pedindo provas de que o alcorão é completo e permanece inalterado nos últimos 1400 anos.

Deste modo, os muçulmanos, por favor, nos apresentem um manuscrito do Alcorão datado de meados do século VII (mais precisamente em 652 DC), que seja completo (ou seja, possua todos os 114 capítulos) e que seja inalterado e exatamente igual ao usado hoje, o Alcorão de Hafs de 1924.

O que estudiosos muçulmanos de hoje dizem

Fethullah Gulen (influente líder turco):
“Um Alcorão, inalterado e não editado”

Suzanne Haneef (convertida ao Islã e escritora):
“Preservado hoje … na sua forma original exata”

Abdullah Yusuf Ali (famoso tradutor do Alcorão para o inglês):
“Nenhuma letra mudou … o texto em árabe que temos hoje é idêntico ao texto que foi revelado ao profeta Maomé”

Maulvi Muhammad Ali (teólogo paquistanês da facção Ahmadi):
“Nem mesmo um ponto diacrítico mudou … não existe manuscrito com variação alguma no texto, por menor que seja”

Dr. Shabir Ally (influente acadêmico e debatedor canadense):
“O Alcorão tem sido exatamente idêntico há mais de 1300 anos … e não encontramos diferença entre a primeira cópia e o que estamos lendo hoje”

Resumo do que todos eles concordam:

  • Que o Alcorão que temos hoje não mudou ‘um pingo’ desde a sua criação, há 1.400 anos!
  • Que o Alcorão que temos hoje é exatamente o mesmo que está nas tábuas de barro no céu
  • Que o Alcorão que lemos hoje se assemelha em todos os detalhes ao que foi revelado ao profeta Maomé e foi completamente escrito por Otomão em 652 DC

O problema destas afirmações é que elas contradizem o testemunho dos primeiros estudiosos muçulmanos.

O que os primeiros estudiosos muçulmanos disseram

1) Alguns versículos foram perdidos (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 23):
“o Alcorão que foi enviado era conhecido por aqueles que morreram no dia de Yamama, mas não eram conhecidos por aqueles que sobreviveram nem foram escritos, nem tinham Abu Bakr, Umar ou Otomão (naquela época) coletado o Alcorão, nem foram encontrados com uma única pessoa depois deles.”

(Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 10 – see also as-Suyuti’s al-Itqan fi ‘ulum al-Quran, volume 1, p. 204):
“Umar estava procurando o texto de um versículo específico do Alcorão que ele lembrava vagamente. Para sua profunda tristeza, ele descobriu que a única pessoa que tinha algum registro desse versículo havia morrido na batalha de Yamama e que o versículo estava consequentemente perdido.”

2) Mais de cem versículos foram perdidos para sempre (Tafsir al-Qurtubi, Volume 8, p. 62, Surah Bara`t [Chapter 9]):
Segundo as fontes islâmicas, a surata 9 do Alcorão tinha aproximadamente o mesmo tamanho da surata 2, um capítulo que consiste em 286 versículos. E, no entanto, a Surata 9 possui apenas 128 versículos, o que significa que faltam mais de cem versículos!
“Malik disse que, entre o que foi narrado por Ibn Wahb e Ibn Al Qasim e Ibn Abdul Hakam, é que quando a primeira parte de Surat Bara’at foi perdida, ‘Bismillah Al Rahman Al Raheem’ também foi perdido junto com ele. Também foi narrado por Ibn Ajlan que ele ouviu que Surat Bara’at era igual ao comprimento de Surat Al Baqarah ou aproximadamente igual a ele, então a parte se foi e por causa disso ‘Bismillah Al Rahman Al Raheem’ não era escritos entre eles (entre a parte perdida e a restante). “

3) Alguns versículos desapareceram (as-Suyuti, Al-Itqan fii Ulum al-Qur’an, p. 524):
“É relatado por Ismail ibn Ibrahim de Ayyub de Naafi de ibn Umar que disse: “Nenhum de vocês diga ‘eu adquiri todo o Alcorão’. Como ele sabe o que é todo o Alcorão quando grande parte do Alcorão desapareceu? Em vez disso, deixe-o dizer ‘eu adquiri o que sobreviveu.'”

4) Alguns versículos desapareceram (Sahih al-Bukhari 6830; Book 86, Hadith 57; Vol. 8, Book 82, Hadith 817, pág. 431):
“e entre o que Alá revelou, estava o versículo do Rajam (o apedrejamento de uma pessoa casada (homem e mulher) que comete relações sexuais ilegais), e nós recitamos esse versículo e o entendemos e o memorizamos. O mensageiro de Alá levou à termo a punição por apedrejamento e nós também o imitamos. Receio que, depois de muito tempo, alguém diga: ‘Por Alá, não encontramos o versículo do Rajam no livro de Alá‘, e assim eles se perderão deixando uma obrigação que Alá revelou.” (não há apedrejamento por adultério no Alcorão, mas 100 chicotadas)

5) Alguns versículos foram esquecidos (Sahih Muslim 1050; Book 12, Hadith 156; Book 5, Hadith 2286):
“Costumávamos recitar uma surata que se assemelhava em comprimento e severidade a (Surata) Bara’at. No entanto, eu a esqueci com exceção do que me lembro” (ele, então, recita o que se lembra).

6) Alguns versículos foram cancelados(Sahih al-Bukhari, 4090; Book 64, Hadith 134; Vol. 5, Book 59, Hadith 416, pág. 254):
“Costumávamos ler o versículo do Alcorão revelado em sua conexão, mas, mais tarde, o versículo foi cancelado.”

7) Alguns versículos foram queimados, alguns de propósito, outros sem querem (Abu Muhammad Ali bin Ahmed Ibn Hazm al-Andalusi, Al-Ahkam fi usul Al-Ahkam, Volume 1, p. 528):
Abu Muhammad disse: Esta é a descrição do trabalho de Otomão que (foi compilado) na presença dos companheiros. Enquanto copiava o masahif (códices), ele queimou intencionalmente ou por engano.”

8) Alguns versículos foram ignorados (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif p.11):
“Khuzaimah ibn Thabit disse: “Vejo que você ignorou (dois) versículos e não os escreveu.” Eles disseram: “E quais são eles?” Ele respondeu: “Eu o recebi diretamente do mensageiro de Alá (*) (Surata 9, aya 128) … Otomão disse: “Presto testemunho de que esses versículos são de Alá.”

9) Alguns versículos foram alterados (Muwatta Imam Malik, p.64):
“Abu Yunus, liberto de Aisha, Mãe dos Crentes, relatou: Aisha ordenou que eu transcrevesse o Alcorão Sagrado e me perguntou … ela ordenou: escreva dessa maneira … ela ouvira isso do apóstolo de Alá.”

10) Alguns versículos foram modificados (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p.117):
“al Hajj ibn Yusuf fez onze modificações na leitura do texto otomâmico. … Em al-Baraqah (Surata 2.259) lia-se originalmente Lam yatasanna waandhur, mas foi alterada para Lam yatasannah … In al-Ma’ida (Surah 5.48)lia-se Shari ya’atan wa minhaajaan, mas foi alterada para shir ‘atawwa minhaajaan.”

11) Alguns versículos foram substituídos (Sahih al-Bukhari, volume 6, livro 61, número 527):
“Mas Allah disse: “Nenhuma de nossas revelações revogamos ou fazemos com que sejam esquecidas, mas substituímos por algo melhor ou semelhante”.

12) Alguns versículos foram comidos pelas ovelhas (Sunan ibn Majah, Vol. 3, Book 9, Hadith 1944; Book 9, Hadith 2020):
Foi narrado por Aisha que disse: “O versículo sobre apedrejamento e amamentação de um adulto foi revelado dez vezes, e o papel estava comigo debaixo do travesseiro. Quando o Mensageiro de Alá morreu, estávamos preocupados com a morte dele, e uma ovelha mansa entrou e o comeu.”

Alá é incapaz de proteger o Alcorão até mesmo de ovelhas mansas.

Resumindo, versículos do Alcorão foram perdidos, desaparecidos, esquecidos, cancelados, negligenciados, alterados, modificados, substituídos, e até comidos por ovelhas.

Isso parece descrever um livro milagrosamente preservado ou um livro compilado por intervenção humana?

Agora uma pergunta.
Esses versículos perdidos, desaparecidos, esquecidos, etc., e até mesmo comidos por ovelhas, refletem um Alcorão eternamente preservado em tábuas de barro no céu ou não?

Se muçulmanos responderem que não fazem parte, isso significa que diversos versículos, em algum momento, fizeram parte do Alcorão terrestre para serem posteriomente removidos. Se muçulmanos responderem sim a esta pergunta, isso significa que o Alcorão que temos hoje é incompleto. De um modo ou de outro, isso prova que o Alcorão foi alterado por intervenção humana, e isso é muito, muito claro.

Nos próximos vídeos, iremos tratar dos erros do Alcorão, sejam históricos, de fonte, científicos, etc. Como é possível que um livro supostamente perfeito possa ter tantos erros?

Mas José, e a Bíblia não é a mesma coisa? Não, cara pálida, o cristianismo não faz as mesmas afirmações que o islamismo, muito pelo contrário. O cristianismo não afirma que a Bíblia existia antes da criação do mundo, afinal, ela foi escrita por seres humanos e é um livro histórico. A Bíblia não foi enviada a ninguém, mas inspirada por Deus. A Bíblia estava completa em sua forma original ao ser escrita ao longo dos séculos e em três continentes diferentes, mas não temos os manuscritos realmente originais hoje (até mesmo pela qualidade do material usado), e as alterações feitas nos últimos 2000 anos são conhecidas, sabe-se onde elas ocorreram e elas são expostas claramente.

O que o cristianismo tem, e que o islamismo não tem, é Jesus Cristo, A Palavra de Deus vivo, o logos. Jesus satisfaz as quatro afirmações. Jesus não foi criado, ele é eterno. Jesus foi enviado. Jesus é completo. E, Jesus existe sem alterações: ele nunca muda. Intervenção humana alguma pode alterar Jesus Cristo.

Exatamente as quatro coisas que muçulmanos tentam encontrar na sua revelação, mas não conseguem, os cristãos possuem em Jesus Cristo. Tudo o que os muçulmanos buscam e precisam, existe em Jesus Cristo.

Bibliografia

Alan Brubaker, Corrections in early Qur’an manuscripts: twenty examples, 2019, Think and Tell Press.

Ibn Warraq, Which Koran?: Variants, Manuscripts, Linguistics, 2008, Prometheus Books.

Ibn Warraq, What the Koran Really Says, 2002, Prometheus Books.

John Gilchrist, Jam’ Al-Qur’an: The Codification of the Qur’an Text – A Comprehensive Study of the Original Collection of the Qur’an Text and the Early Surviving Qur’an Manuscripts, 1989, MERCSA.

Behnam Sadeghi, Mohsen Goudarzi, “Sana’a and the Origins of the Qu’ran”, 2012, Der Islam.

Sam Shamoun, The Incomplete and Imperfect Quran.

FONTE - LEI ISLÂMICA EM AÇÃO

 

O Alcorão: suas origens nebulosas e suas diversas versões




Neste artigo, iremos ver que:

  1. A narrativa islâmica confirma que não existia nenhum livro chamado Alcorão quando Maomé morreu, mas apenas pedaços das “revelações” registradas oralmente ou em fragmentos escritos.
  2. Os registros eram contraditórios em termos de número de tamanho e conteúdo.
  3. Segundo a narrativa islâmica, o Alcorão foi compilado como livro vinte anos após a morte de Maomé. O califa da época, Uthman, mandou queimar todos os registros existentes de modo que a sua versão passou a ser a versão oficial.
  4. Uma outra narrativa diz que o mesmo foi feito pelo governador do Iraque, Hajjaj ibn Yusuf, 60 anos após a morte de Maomé.
  5. Em termos históricos, a primeira edição escrita do Alcorão foi compilada em Bagdá, cem anos após a morte de Maomé.
  6. Existem hadices (ou seja, as próprias fontes islâmicas) que mencionam a falta de capítulos e versículos na versão corânica atribuída ao califa Uthman.
  7. Existem diferenças entre os alcorões mais antigos que ainda existem, guardados em museus no mundo islâmico, bem como diferentes versões codex com conteúdo e número de capítulos e versículos diferentes.
  8. E modernamente, existem duas versões em uso, a transmissão Warsh e a transmissão Hafs.

Em primeiro lugar, vamos falar sobre o Alcorão segundo a crença islâmica. Depois disso, vamos falar sobre o Alcorão à luz da História.

O Alcorão segundo a crença e tradição islâmicas

O Alcorão, que significa “recitação”, é um livro considerado sagrado pelos muçulmanos, que acreditam conter as palavras inalteradas da sua divindade, Alá. O que está escrito no Alcorão é imutável, único, literal, 100% correto e inquestionável. Tudo o que está escrito no Alcorão saiu da boca de Maomé (e apenas dela). O islão ensina que o Alcorão foi escrito antes do universo ter sido criado e que ele descansa em uma mesa de esmeralda situada à direita de Alá.

O Alcorão é um livro sem contexto. Em primeiro lugar, ele foi compilado fora de ordem cronológica. Em segundo lugar, as “revelações” que Maomé teve ocorreram ao longo da sua vida, atendendo às necessidades momentaneas de Maomé, e o contexto não é explicado no Alcorão. Para entender o contexto no qual o Alcorão foi “inspirado” é necessário ler a biografia e as tradições do profeta.

O primeiro capítulo do Alcorão é uma oração. Os demais foram compliados começando pelo maior capítulo e terminando com o menor capítulo. Ao final deste artigo você vai encontrar uma tabela que mostra a ordem cronológica dos capítulos do Alcorão, seguindo os eventos que ocorreram durante as supostas revelações à Maomé.

A tradição islâmica diz que o Alcorão foi preservado devido a algumas pessoas que foram capazes de decorá-lo, em todo ou em parte (tradição oral), e que fragmentos foram escritos em folhas ou cascas de árvore.

A tradição islâmica diz que o Alcorão foi compilado  pelo terceiro califa Uthman no ano 653 (21 anos após a suposta morte de Maomé). Segundo a tradição, os muçulmanos estavam começando a dizer que haviam várias versões do Alcorão. Uthman, como governante absoluto, recolheu todos os exemplares do Alcorão e encarregou um secretário de compilar uma versão única e padronizada. Assim que esta nova versão foi concluída, Uthman mandou queimar todo o material que constituía as fontes originais, e impôs a sua versão.

O que se alega Uthman de ter feito é muito suspeito. Por que ele queimaria as fontes originais se não pelo motivo de existirem variações nas narrativas corânicas?


Hoje em dia, muçulmanos se vangloriam de que o Alcorão não possui variações, tendo sido entregue da forma atual por Alá, quando na verdade, foi Uthman quem garantiu isso. Porém, conforme iremos ver adiante, existem várias versões do Alcorão.

Uma outra versão da tradição islâmica diz que o Alcorão foi compilado por Hajjaj ibn Yusuf, governador do Iraque, na década de 690 (mais de 60 anos após a suposta morte de Maomé). A narrativa é semelhante do que é atribuido a Uthman. O texto foi padronizado e todas as versões existentes foram queimadas. Hajjaj ibn Yusuf fez outra alteração importante. Ele adicionou acentuações diacríticas (acentos) para permitir ao leitor distinguir entre várias consoantes, e, deste modo, o texto poder fazer sentido. O interessante é que uma outra narrativa islâmica diz que foi Hajjaj ibn Yusuf quem introduziu a prática da leitura do Alcorão nas mesquitas.

O Alcorão é semelhante ao Novo Testamento em termos de tamanho.

O islão afirma que o Alcorão contém as próprias palavras de Alá, transmitidas para Maomé através do anjo Gabriel. Não se pode verificar isso em termos históricos. O islão também afirma que o Alcorão é desprovido de imprecisões científicas ou históricas. Bem, isto é facil de comprovar que não é verdade. (Isso será feito em outro artigo)

Mas o problema é que, como o Alcorão é considerado como perfeito pelos muçulmanos, não pode existir erro algum, pois isso indicaria um erro de Alá. De modo que os erros que existem no Alcorão têm que estar certos, mesmo que para tal a realidade dos fatos tenha que ser negada ou re-escrita. Ou seja, se um fato contraria o Alcorão, o fato está errado. Este é o motivo pelo qual o islamismo matou a lógica racional da “causa e consequência”, substituindo-a por um pensamento dualísta.

O Alcorão à luz da história

No ano de 749, Damasco foi conquistada pelos muçulmanos xiítas, pondo um fim à agressiva dinastia omíada, a dinastia original dos árabes muçulmanos, e o soerguimento da dinastina dos abássidas. Os abássidas tomaram o seu nome de um tio de Maomé, al-Abbas, porque os seus descendentes haviam se revoltado contra o controle omíada. Sob os omíadas, os não-muçulmanos nos territórios ocupados foram relegados a um estado de escravidão. Os abássidas eram menos piores, desde que os povos conquistados pagassem os seus impostos. Os abássidas levaram a capital do califado para Bagdá.

A primeira edição escrita do Alcorão foi compilada em Kufu, nos arredores de Bagdá, em torno do ano 725 DC, ou seja, quase um século após a morte de Maomé (várias outras compilações seriam feitas após esta). É interessante (e irônico) que, à luz da história, a religião do islão nasceu em Bagdá, sob os xiítas.

John Gilchrist, estudioso em manuscritos antigos do alcorão, disse: “Os manuscritos mais antigos do Alcorão, ainda em existência, datam de cerca de cem anos após a morte de Maomé.”

As diversas versões do Alcorão em existência

O fato é que, ao contrário do que muçulmanos e apologistas afirmam, existem várias versões do Alcorão. Por exemplo, o parágrafo seguinte vem do livro “Which Koran?: Variants, Manuscripts, Linguistics” escrito por Ibn Warraq, que trata exatamente da questão das várias versões, particularmente a “transmissão Warsh, encontrada no Oeste e Noroeste da África, e a transmissão Hafs, decorrentes de Kufa, e amplamente disponível através da edição egípcia padrão de 1924.”

“Poucos muçulmanos percebem que existem vários alcorões em circulação no mundo islâmico, com variações textuais cujo significado, extensão e significado nunca foram devidamente examinados. Ibn Warraq tem aqui reunidos importantes artigos acadêmicos que abordam a história, a linguística, e as implicações religiosas dessas significantes variantes no livro sagrado do Islã. Em uma longa introdução, Warraq observa que a evidência histórica e linguística sugere que houve uma confusão considerável sobre o que deveria ser incluído no Alcorão no início dos anos da história muçulmana. Embora o califa Uthman tenha canonizado um texto específico cerca de quinze anos após a morte de Maomé, leituras variantes de certas passagens têm persistido até o presente. Isto pode ser visto nas discrepâncias entre as duas principais versões impressas do Alcorão disponíveis hoje (a transmissão Warsh encontrada no Oeste e Noroeste da África, e a transmissão Hafs, decorrentes de Kufa, e amplamente disponível através da edição egípcia padrão de 1924). Isso, aliado ao fato de que a literatura secundária muçulmana (os Hadiths) discute versos corânicos que não foram incluídos no Alcorão, e até mesmo a memória por vezes defeituosa de Maomé, indicam fortemente que o Alcorão não pode ser considerado uma revelação inerrante. Warraq organiza os artigos deste volume em subseções que lidam com a linguagem do Alcorão; poesia pré-islâmica e sua possível influência sobre a escrita do Corão; influências de fontes judaicas e cristãs e de Qumran (Manuscritos do Mar Morto); problemas de vocabulário obscuro e ortografia; leituras variantes em diferentes manuscritos do Alcorão; e questões em torno da biografia do profeta Maomé. Como uma ajuda visual, Warraq compilou um gráfico único e valioso de trinta e duas variantes do Corão encontrados em alcorões disponíveis no mundo islâmico, junto com observações sobre seu significado. Em profundidade ainda acessível a não especialistas interessados no Islã, o livro What Koran? levanta questões importantes sobre o livro sagrado do Islã.”

Ou seja, existem duas versões do Alcorão em uso!

Isso sem falar no manuscrito de Sana’a, Iêmen. Ele foi descoberto recentemente e é considerado como o manuscrito mais antigo (mesmo considerando as dificuldades para a datação do manuscrito, estima-se ele ser do final do século VII). O manuscrito de Sana’a contém texto diferente do usado hoje. O manuscrito de Sana’a é um tabu no mundo islâmico e o seu acesso para estudo é lacrado.

Além disso, existem diferenças entre os próprios manuscritos uthmânicos, guardados nos museus de Topkapi (Turquia) e Tashkent (Uzbequistão). Por exemplo, Behnam Sadeghi e Mohsen Goudarzi, estudiosos em manuscritos antigos do alcorão, ao compararem manuscritos antigos, como o de Sana’a, Topkapi ou Tashkent, vêm diferenças com o Alcorão árabe atualmente publicado, incluindo inúmeras inserções, edições e variações.

E tem mais. Além da “versão uthmânica padrão” contendo 114 capítulos, existe a versão codex ibn Masud com 113 capítulos, as versões codex Ubay e codex Abu Musa com 116 capítulos, e a versão Nurain e Al Wilaya com 188 capítulos, esta última ainda preservada na tradição xiiíta.

Os próprios hadices (ou seja, as fontes islâmicas) mencionam a falta de capítulos e versículos na versão corânica de Uthman (Muslim 2286; Muslim 3422).

Algumas questões curiosas

Existem algumas perguntas que eu me faço sempre que eu penso sobre o Alcorão.

A primeira é que Maomé nunca disse que as revelações deveriam ser escritas em um livro. Como é possível que Maomé, auto-proclamado “mensageiro para toda a humanidade”, nunca pensou na preservação da sua mensagem?

Como seria possível que todas as “revelações de Maomé” fossem preservadas, considerando que o próprio Maomé disse ter esquecido de algumas? (Sahih Bukhari 6:61:558)

Como conciliar afirmações oriundas das Tradições de Maomé (Suna) que afirmam que uma sura semelhante a at-Tawba, em tamanho e severidade, foi esquecida e perdida? (Muslim, Vol. 2, p.501)

Se existem tantas versões do Alcorão ao longo da história, inclusive hoje, como podem muçulmanos afirmar que o Alcorão impresso hoje é  o mesmo que está em uma mesa do lado de Alá?

E também, sendo o Alcorão um livro que contém uma história do seu desenvolvimento, incluindo nela a existência de várias versões, porque muçulmanos acusam os outros “livros sagrados” (como a Bíblia, por exemplo) de serem “corrompidos”? (É como jogar pedra no telhado do vizinho, sendo que o seu telhado é de vidro)

Bibliografia

Which Koran?: Variants, Manuscripts, Linguistics”, Ibn Warraq, 2008, Prometheus Books.

What the Koran Really Says, Ibn Warraq, 2002, Prometheus Books.

Jam’ Al-Qur’an: The Codification of the Qur’an Text – A Comprehensive Study of the Original Collection of the Qur’an Text and the Early Surviving Qur’an Manuscripts, John Gilchrist, 1989, MERCSA.

Behnam Sadeghi, Mohsen Goudarzi, “Sana’a and the Origins of the Qu’ran”, Der Islam, 2012

Chronological Order of the Quran, Wikiislam

FONTE - INFIEL ATENTO

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